Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Noblat Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Brincando com fogo

A chantagem de Ricardo Salles é grave sinal de instabilidade e insegurança

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 18 nov 2020, 19h46 - Publicado em 26 out 2020, 12h00

Editorial de O Estado de S. Paulo (26/10/2020)

Em meio ao maior volume de queimadas desde 2012, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) determinaram, na noite de quarta-feira, 21, que todos os agentes de combate em campo voltassem às suas bases. A alegação foi de que o Ministério da Economia se recusava a fazer repasses de verbas. Muitos dos 1.400 brigadistas já estavam a bordo de barcos e ônibus quando, após um acordo costurado às pressas com os Ministérios da Economia e do Desenvolvimento Regional, o Ibama determinou, na sexta-feira, que os agentes retomassem o combate aos incêndios. O episódio expõe dois aspectos da gestão ambiental do governo que vêm à tona dia sim e outro também: a inépcia e a perversidade.

Não é a primeira vez que Salles ameaça um apagão no combate ao desmatamento e às queimadas. Neste ano, o orçamento previsto para sua pasta foi de R$ 563 milhões. Ante as incertezas provocadas pela pandemia, o Ministério da Economia, dentro de sua competência, determinou uma reserva de caixa de R$ 230 milhões. No fim de agosto, ante a ameaça de Salles de paralisar as operações, o governo liberou R$ 96 milhões para o Ministério do Meio Ambiente (MMA). Agora, o ministro voltou à carga para exigir os R$ 134 milhões restantes.

Das duas uma: ou a pasta, conforme suas dotações orçamentárias, acredita ter algo como um direito líquido e certo aos recursos, o que lhe daria o direito de acionar as devidas instâncias administrativas, ou, como é obviamente o caso, se trata de uma margem discricionária, e sendo assim precisa negociar a liberação com o Ministério da Economia e, em última instância, com o presidente da República. Se julgar que o resultado dessas negociações inviabiliza a execução de suas atribuições, o ministro pode sempre pedir as contas.

Continua após a publicidade

O que é inaceitável, mesmo admitindo-se a legitimidade e a conveniência de suas pretensões, é que um ministro venha a público expor seus pares da Esplanada dos Ministérios. Tanto mais grave é a chantagem e a extorsão, com ameaça de sabotagem às atividades de sua pasta, justamente no momento em que ela enfrenta o avanço calamitoso do fogo.

A atitude de Salles é equiparável, se não legalmente, moralmente, a um motim. A Constituição veta às forças de segurança o direito à greve a fim de impedir que a sociedade seja privada de um serviço essencial à ordem pública. Salles, por sua vez, mostra que não hesitará em sacrificar o bem essencial que cabe à sua pasta proteger, o meio ambiente, sempre que suas pretensões não forem atendidas.

As restrições não atingem apenas o MMA. Outros ministérios, a seu modo tão essenciais quanto o do Meio Ambiente, como os da Infraestrutura ou da Agricultura, também sofreram reduções. Mas seus ministros têm feito o que podem com o que têm.

Continua após a publicidade

Salles fez o que não pode e, para piorar, não buscou o que eventualmente pode ter. Mais de R$ 1,4 bilhão do Fundo Amazônia, formado por doações da Noruega e da Alemanha, está congelado porque o ministro levantou suspeitas de irregularidade na aplicação de recursos, sem que no entanto tenha apresentado evidências consistentes. Parte desse montante seria destinada a ONGs ambientalistas, um dos bodes expiatórios de estimação da militância bolsonarista, mas parte serviria para equipar órgãos de fiscalização, como o Ibama.

Além disso, o programa Profisc 1 aprovou em 2018 uma dotação de R$ 140 milhões com validade até abril de 2021 para o apoio às atividades de fiscalização na Amazônia. Até agora, o Ibama utilizou R$ 77 milhões, dos quais apenas R$ 10,2 milhões foram sacados neste ano. Nenhum novo acesso ao recurso foi solicitado pelo Ibama.

Num momento em que o País é desafiado pela fuga de capitais e por ameaças de investidores e autoridades estrangeiras alarmadas com o desmatamento, a chantagem de Salles é um grave sinal de instabilidade e insegurança. Enquanto a flora e a fauna de importantes biomas são destruídas, o ministro do Meio Ambiente assinala reiteradamente que, longe de defendê-las com tudo o que tem, pode, a qualquer momento, abandoná-las à sua própria sorte agindo como um piromaníaco dentro de seu próprio Ministério.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.