Velho Brasil. Bolsonaro deu o “de acordo” às novas regras para os partidos políticos, afrouxando a prática de caixa dois e lavagem de dinheiro. Não deu maiores explicações. Admito que ainda me surpreendo com o pregoeiro da honestidade e dos bons costumes.
Isso foi na sexta, 27. Mesmo dia em que foi preso Adailzinho, prefeito de Coari, município do Amazonas, acusado de corrupção. Roubalheira no talo. Menos de 450 quilômetros de Manaus, e a 6 horas de distância de Brasilia, por ar, terra e rio, o que acontece por lá é vício brasileiro. E assim promete esse novo Brasil velho.
Rica em royalties, localizada à beira do rio Solimões, Coari tem a segunda arrecadação do Amazonas. Perde para a capital. Lá está a plataforma de Urucu, da Petrobras. Muito dinheiro em beneficio de poucos – o tal prefeito e seus parças. Adailzinho aparecia uma vez por semana na cidade que o elegeu, e pagava débitos da prefeitura com 30% de propina.
Isso é Brasil. Coari é tudo isso aqui. Nesse mesmo final de semana, o presidente que prometia acabar com a corrupção e os mal feitos, recebeu no Palácio da Alvorada, pela segunda vez, extra agenda, o defensor do encrencado senador Flávio Bolsonaro. Flavio está envolvido em estranhas transações financeiras, identificadas pelo COAF.
Bolsonaro não deu satisfação ao público do que tratou com o advogado do filho 01. Age como sempre agiu. Dono de suas temíveis verdades e dos votos dos que tristemente o elegeram. Era previsível. Insano em declarações e ameaças, Jair Bolsonaro enganou cegos e surdos na politica.
Da semana que passou, Bolsonaro e Adailzinho só perderam para a escandalosa confissão de Rodrigo Janot, ex-Procurador Geral da República. Até quem o chamava de “esquisitíssimo”, e conhece seu temperamento desassossegado, não apostaria um real na possibilidade de Janot, então na PGR, entrar com um revólver no STF para matar o ministro Gilmar Mendes. Depois se matar.
Mas foi o que ele próprio contou em entrevista a Veja. No livro “Nada Menos que Tudo, escrito pelos jornalistas Jailton de Carvalho e Guilherme Evelin, Janot põe a nu políticos que tentaram cooptá-lo, ministros acovardados do STF, classifica Eduardo Cunha como o “pior dos criminosos”, e duvida do caráter ético do ex-juiz Sergio Moro.
Janot acredita que será julgado pela história. Escreveu um livro para dar sua versão dos fatos. Bolsonaro ainda tem tempo de procurar um ghost-writer. Alguém com estômago para ouvir suas “memórias”. A história, capitão, o julgará com mais rigor que Janot. Pode estar certo.
Mirian Guaraciaba é jornalista