Jair Bolsonaro acordou, ontem, em Davos como presidente da República, e foi dormir como pai de Flávio.
Ainda desajeitado no papel que desempenha há menos de 25 dias, ele havia dito de manhã em entrevista à agência de notícias Bloomberg:
– Se por acaso ele errou, e isso for provado, eu lamento como pai, mas ele terá que pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar.
Acostumado ao papel do pai que carrega os filhos nas costas, arranja empregos para eles e orienta suas ações, disse à noite à TV Record:
– Acredito nele [Flávio]. A pressão enorme em cima dele é para tentar me atingir. Ele tem explicado tudo o que acontece com ele nessas acusações infundadas.
A banda inteligente e sensata do governo, militares à frente, celebrara a encarnação de Bolsonaro como presidente da República, assim como os políticos que o apoiam, preocupados com o próprio futuro.
Todos foram dormir aflitos com mais uma fraquejada do capitão, especialmente o general Hamilton Mourão, presidente da República em exercício.
Um dia antes de Bolsonaro acordar menos pai e mais presidente, o general dissera que os rolos de Flávio e Queiroz deveriam ser apurados e, se fosse o caso, punidos os responsáveis por eventuais erros.
Bolsonaro, pai, acabou comprando o falso argumento de defesa de Flávio de que o Ministério Público do Rio de Janeiro tenta culpá-lo para atingir a figura do presidente da República. Ora, o Ministério Pública investiga 27 deputados.
É truque velho usado por políticos em dificuldades valer-se da respeitabilidade do cargo que ocupam para tentar se proteger. Quantas vezes, por exemplo, Lula não fez isso, Dilma, Renan Calheiros e outros famosos?
Quando alcançados por denúncias, disseram que a presidência da República (Lula e Dilma) e a presidência do Congresso (Renan) estavam sendo enlameadas e coisas afins. Enlameados eram eles.
Mas esta é a primeira vez que o truque é usado não por um potentado, mas pelo filho de um (Flávio). E o potentado em questão (Bolsonaro) dá razão ao filho. E para isso desqualifica uma instituição (o Ministério Público).
Ao fazê-lo, Bolsonaro, ora presidente, ora refém dos garotos, fornece munição aos seus críticos para que o ataquem. E para que possam dizer que o seu temor é de ser envolvido nas investigações. Não faltariam motivos para isso.
Foi Bolsonaro quem empregou Queiroz no gabinete de Flávio. Tanto quanto o filho, empregou parentes de Queiroz. Emprestou dinheiro a Queiroz e parte do dinheiro devolvido foi parar na conta de sua mulher.
É o que se sabe até agora, e não é tudo.