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Bolsonarinho paz e amor

Nem os mais próximos creem nessa metamorfose

Por Mary Zaidan
Atualizado em 30 jul 2020, 19h50 - Publicado em 7 abr 2019, 10h00

Piadas, tapinhas nas costas, abraços efusivos e fotos. O mesmo Jair Bolsonaro que até poucos dias atrás enxovalhava políticos e jornalistas agora é todo sorrisos. Na quinta-feira, passou o dia recebendo presidentes de partidos, fez carinho, falou coisas em que ele não crê, pediu desculpas em particular pelas caneladas públicas que distribuiu. Na manhã seguinte divertiu-se em um café da manhã com a imprensa. Respondeu a mais de 30 perguntas, disse frases de efeito, brincou e gargalhou como se amigo fosse de gente que ele cansou de xingar.

Não há como maldizer uma conversão para melhores modos, especialmente se eles podem pacificar ânimos, destravar o governo e fazer o país andar. O problema é acreditar em mudança de humor tão repentina e radical. E que a tal transfiguração exibida tenha alcançado o espírito do presidente. Pouco ou nada provável.

Nem os mais próximos creem nessa metamorfose.

Gustavo Bebbiano, escudeiro desde a primeira hora, demitido da Secretaria-Geral da Presidência porque tinha em sua agenda um encontro com a “inimiga” TV Globo, não deve ter entendido nada. Foi punido por uma condescendência que agora o presidente pratica. Nas redes sociais, os combatentes amenizaram o tom de repente, encolheram os palavrões e as agressões gratuitas aos que até ontem eram os diabólicos representantes da velha política. Tudo a confirmar a existência de uma ordem unida.

Sem ter o que mostrar 100 dias depois de tomar posse e com estilo populista que o aproxima do seu maior rival, Bolsonaro parece ter sido aconselhado a encarnar algo semelhante ao “Lulinha paz e amor” que a marquetagem do ex criou. Mesmo sem ter a ginga de Lula, o capitão, quando quer, consegue manejar tiradas para construir narrativas que o interessam.

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“Tem vídeo meu que circula e eu penso: falei isso mesmo?”, disse aos jornalistas, debochando de si. Ao mesmo tempo rejeitou a hipótese de se redimir ou, pelo menos, se explicar pelos impropérios que vomita – “Vou me arrepender porque fiz xixi na cama aos 5 anos? Saiu, pô!”.

Com esse discurso, ele se coloca como ingênuo, como quem fala sem pensar e deixa escapar frases como a lançada contra a deputada Maria do Rosário, que não merecia ser estuprada por que era feia, ou a de que ele não conseguiria amar um filho homossexual – “prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí”. Imagina que pode colocar todas as ofensas que imputou a muitos na categoria do “saiu, pô!”.

Seus fiéis torcedores dirão que é o jeito Bolsonaro de ser, “sincerão”. Mas não conseguem explicar por que só agora, depois de se ver encurralado por não conseguir adesão no Congresso nem de seu próprio partido, o PSL, a sinceridade perdeu a beligerância.

Há quem garanta que o presidente se assustou com a corrosão veloz de sua popularidade. Ou que tenha sido convencido pelos militares depois de a sirene de risco disparar quando o seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes, foi escorraçado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara sem que uma só alma servisse como extintor.

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Parte do quebra-cabeças será resolvido nesta semana, quando o destino do ministro da Educação Ricardo Vélez for selado para o bem ou para o mal. No digladio escancarado, a turma da farda, que prega a tolerância, pode ou não vencer os seguidores de Olavo de Carvalho, catequista do caos adorado pela prole do presidente.

Nesse puxa e estica, é arriscado apostar se o Bolsonaro dócil da semana passada vai resistir ao fel que os fundamentalistas, temporariamente sob controle, adoram esparramar. A conferir se sua conversão à realidade tem alguma chance de ser fruto do juízo ou se é mera enganação. 

 

Mary Zaidan é jornalista

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