Nada há de novo na novidade da semana: o presidente Jair Bolsonaro é candidato à reeleição. E é meia-verdade dizer que isso contraria seu discurso de campanha, visto que já vinculava o fim da reeleição a uma reforma política com redução do número de congressistas. Discurso semelhante ao que sustenta agora, ainda que nem lá nem cá tenha conseguido mostrar qualquer relação de causa e efeito. Nada fez pela reforma. Por via das dúvidas, não desceu um só dia do palanque.
A extravagância da notícia é o contexto. Ela se dá diante de um governo em autocombustão, que começou e continua atrapalhado, que tem enorme dificuldade para se equilibrar nas cascas de banana por ele próprio lançadas. E de um presidente que, confessamente, diz “não ter nascido para o cargo” e que “não há dia feliz na Presidência”.
Feliz ou não, 20 dias depois de subir a rampa, o recém-empossado já replicava no Twitter a hashtag #Bolsonaro2022. Na época, para delírio do clã, seguidores chegaram a criar uma dinastia bolsonarista, com o capitão e os filhos eleitos e reeleitos até 2058. Brincadeiras, memes de redes sociais, mas que revelam o tamanho do apetite pelo poder.
Bolsonaro voltou ao tema em abril, quando disse que estaria sofrendo pressão para ser candidato. Sabe-se lá de quem ou de onde. Mas o frisson que o assunto reeleição provoca foi o suficiente para mexer com a direção dos holofotes, à época apontados para o filho Flávio e os rolos de Fabrício Queiroz, que até hoje continua fora do alcance da Polícia Federal.
Na quinta-feira, o presidente reincidiu, desta vez com ares messiânicos: “lá na frente todos votarão [em mim]”. Conseguiu com isso redirecionar as atenções, tirando o peso de sua última derrota no Senado, que, na prática, sustou seu decreto de flexibilização de posse e porte de armas de fogo. Uma pauta que lhe é caríssima. Mas pressa obsessiva em resolver com uma canetada o que só poderia ser feito por lei, acabou em tiros nos próprios pés.
Lançar uma “novidade” quando se quer mudar o vento tem sido um movimento repetitivo. Se a coisa aperta para o lado dele ou dos seus, Bolsonaro se lança em declarações polêmicas, faz pose com o seu estilo “sincerão”, inventa emergências. Não raro, conflitos.
Em todas as ocasiões que falou de reeleição, Bolsonaro associou o fim do instituto à reforma política. A diferença é que na campanha ele prometia ser o protagonista – “pretendo fazer uma excelente reforma política”, dizia.
Com experiência de quase três décadas de Câmara, sempre soube da inviabilidade de o Congresso votar contra si, quanto mais de reduzir o número de representantes, como o presidente diz defender. Ou seja, balela pura, lá atrás e agora.
Reeleição é bicho selvagem, indomável. Se por um lado lançar-se nela auxilia na ocupação de espaços, criando conteúdo (ainda que falso) para um governo que falha no ato principal que é o de governar, por outro deixa o presidente exposto.
Tudo, absolutamente tudo que fizer daqui para frente será eleitoral. Incontestavelmente eleitoral. São as urnas acima de tudo e todos.
Mary Zaidan é jornalista