Bem, sou antiga mesmo. E como tal, trago para vocês Juca e Chico – História de Dois Meninos em Sete Travessuras, (Max und Moritz – Eine Bubengeschichte in sieben Streichen), título do livro infantil publicado em 4 de abril de 1865 pelo humorista, poeta e desenhista alemão, Wilhelm Busch, que narra as astuciosas aventuras de dois irmãos.
Traduzido em 1915 para o português pelo nosso Príncipe dos Poetas, Olavo Bilac, a edição respeitou as ilustrações do próprio Busch.. “Max und Moritz”, aqui chamados de “Juca e Chico” foi, durante mais de um século, um dos mais vendidos livros infantis em todo o mundo.
Considerado o pai das histórias em quadrinhos, publicado em mais de 300 línguas, “Juca e Chico” é tido também como inspirador das também extraordinárias aventuras de “Os Sobrinhos do Capitão” (Die katzenjammer kids, de Rudolph Dirks).
Busch baseou-se em travessuras das quais participou e também valeu-se de relatos que ouviu. Quando uma vez lhe perguntaram sobre a veracidade das histórias, respondeu: “A maior parte é inventada, mas algumas coisas realmente aconteceram. O fato de que travessuras maldosas não têm um bom final com certeza é o que há de verdade nela”
Quer saber como começam as aventuras dos dois capetas? Aqui copio o prólogo:
Não têm conta as aventuras,
As peças, as travessuras
Dos meninos mal criados…
– Destes dois endiabrados,
Um é Chico; o outro é o Juca:
Põem toda a gente maluca,
Não querem ouvir conselhos
Estes travessos fedelhos!
– Certo é que, para a maldade,
Nunca faz falta a vontade…
Andar pela rua à toa,
Caçoar de uma pessoa,
Dar nos bichos, roubar frutas,
Armar brigas e disputas,
Rir dos homens respeitáveis,
São coisas mais agradáveis,
Que ir à escola ou ouvir missa…
Antes a troça e a preguiça!
– Mas nem sempre a vadiação
Acaba sem punição…
Lede esta história: e, depois,
Vereis a sorte dos dois.
As peraltices: 1) levados, matam as galinhas do quintal da viúva Bolte; 2) pescam, pela chaminé da cozinha, as galinhas que estavam assando e a viúva culpa o cachorro, que leva uma surra; 3) o alfaiate precisa atravessar um riacho quando quer ir ao centro. Os meninos serram uma das taboas da ponte e…tchibum, lá vai o alfaiate água abaixo 4) sabendo que o professor estava na escola, vão à sua casa e enchem de pólvora seu cachimbo. Coitado do professor, fica com o rosto e os cabelos queimados; 5) enchem a cama do tio com besouros. Pobre tio, acorda no meio da noite com um besouro passeando em seu nariz e…; 6) os meninos invadem a padaria, ficam enfarinhados e caem no pote de massa. O padeiro pensa que são biscoitos e os coloca no forno. Saem assados, mas espertos conseguem escapar, roendo a casca aos bocados; 7) já no moinho do fazendeiro Mecke a sorte não lhes sorri. Querem roubar grãos e abrem furos nos sacos. Mecke percebe a astúcia e os deixa no saco que vai colocar no moinho. Resultado: os meninos viram grãos que são devorados pelos patos da fazenda.
Você, Leitor, ficou triste? Pois saiba que ninguém na aldeia se apiedou dos garotos. Como prova o epílogo, que copio:
Na vila; ninguém chorou.
– Recordando as suas aves,
Murmurou a viúva Chaves:
“Eu logo vi…” – O alfaiate,
Dando a uma calça o remate,
Suspirou: “Fez-se justiça!”
– O mestre ajudando à missa,
Sentenciou: “A maldade
Não tem o fim da bondade…”
-O bom tio Frederico
Disse: “Meu Juca! Meu Chico!
A vadiação não faz a lei…
Bem que eu vos aconselhei!”
– “Bem feito!” disse o padeiro;
E, indiferente, o moleiro:
“Eu cá fiz o meu serviço,
Não tenho nada com isso…”
– Em suma, por toda a vila,
Livre de dois e tranquila,
Reinou a paz afinal…
Mais nada. Ponto final!
Pois é. Aos traquinas, um conselho. Parem de aprontar. Lembrem-se que nem sempre, como disse Wilhelm Busch, a vadiação acaba sem punição…
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Juca e Chico, ilustração de Wilhelm Busch