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Por Coluna
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Amazônia e o satélite (por André Gustavo Stumpf)

Não há como esconder, escamotear, nem falsear sobre o que ocorre naquela imensa região

Por André Gustavo Stumpf
Atualizado em 18 nov 2020, 19h59 - Publicado em 10 set 2020, 12h00

No dia 10 de agosto de 1823, o capitão tenente inglês John Pascoe Greenfell chegou a Belém do Pará, no comando do navio de guerra Maranhão e anunciou que há quase um ano Dom Pedro I proclamara a Independência do Brasil, com apoio da Inglaterra. Afirmou não esperar nenhuma oposição.

Ocorre que a capital do Grão Pará, província que incluía os atuais Maranhão, Pará, Amazonas, Mato Grosso, Roraima e Piauí desde 1751, por ato do soberano português, mantinha ligações estreitas com Lisboa.

O Grão-Pará constituía um outro país, desde a dinastia filipina, por decisão de Filipe III, no período conhecido como união ibérica. Dois países amigos. Um seria o Grão Pará, cuja primeira capital foi São Luís e o outro, o Brasil, cuja capital era Salvador. Disposição de fazer o Brasil e Grão Pará se tornar um país só era novidade na época.

A viagem de navio a vela de Belém a Lisboa levava cerca de vinte dias. Até o Rio de Janeiro exigia cerca de dois meses. A Independência na Amazônia ocorreu em agosto de 1823 em ambiente pesado. O pessoal do norte queria permanecer ligado a Portugal. Sob ameaça de bombardeio, os paraenses aderiram ao Brasil independente.

O sentimento nacionalista português se disseminou na região por causa da decisão do Marquês de Pombal de criar a província do Grão Pará em 1757 e designar seu irmão para governar aquela vasta região, Francisco Xavier de Mendonça Furtado.

A construção do forte do Presépio em 1621 que daria origem a cidade de Santa Maria de Belém do Pará foi ato de defesa contra os ataques franceses, que reivindicavam toda a área entre o Maranhão e a Guiana Francesa.

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O novo ciclo tinha por objetivo colonizar o interior, criar fortes e cidades, movimento que proporcionou a criação da Capitania do Rio Negro e sua capital, Barcelos. Manaus surgiu depois da fundação do forte da Barra, onde o rio Negro se encontra com o Amazonas.

O Brasil é um país enorme e sua história convive com visões diversas e até antagônicas. Foi descoberto por Pedro Álvares Cabral no ano de 1500. Estudiosos afirmam que Vicente Yanes Pinzon encontrou a Amazônia, em 1502, durante a terceira viagem de Colombo a América, quando batizou o Rio Amazonas de Mar Dulce.

D. Pedro II fez várias viagens nacionais e internacionais. Esteve na Europa, nos Estados Unidos e foi até a Terra Santa, passando pelo Egito. Jamais colocou seus pés na Amazônia. A região foi atacada por franceses, ingleses, espanhóis, alemães, holandeses e mais recentemente por norte-americanos. Pagou caro pelo atrevimento de reagir contra a Independência e tentar ficar no lado português.

O Brasil independente virou as costas para o norte. Desenvolveu o centro-sul e deixou a Amazônia à deriva. Houve geração de riqueza no fugaz momento da borracha, nos primeiros anos do século vinte. Depois veio o abandono. O Brasil se ligou ao norte apenas em 1960, quando JK inaugurou a rodovia Belém-Brasília, com mais de dois mil quilômetros de extensão. Até então o brasileiro só chegava a Belém de navio ou de avião.

Depois os governos militares decidiram recuperar o tempo perdido. E iniciaram um período de obras para integrar a área ao governo do Brasil. Naturalmente, os antigos frequentadores da região, europeus de modo geral, protestaram em nome da defesa do meio ambiente. O índio figura como porta estandarte na manifestação de protesto que emociona europeus e norte-americanos.

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A questão de hoje, na Amazônia, é afirmar a presença brasileira de maneira civilizada. Ou seja, tornar evidente o respeito ao meio ambiente e a proteção da vida dos indígenas. Não há como esconder, escamotear, nem falsear sobre o que ocorre naquela imensa região, metade do território nacional. Satélites civis ou militares de diversas nacionalidades vigiam o espaço aéreo e terrestre nas 24 horas do dia. Tudo é exposto à curiosidade pública internacional. É impossível impedir que nacionais e estrangeiros saibam o que ocorre lá.

O Brasil nunca deu muita bola para a Amazônia. Henry Wickman embarcou em Santarém, em 1876, no SS Amazonas que fazia a linha Liverpool-Manaus. Levou sementes de seringueira para a Inglaterra, de onde foram transferidas para a Malásia. A consequência foi a falência da produção nacional de látex.

Hoje, os tempos digitais exigem respostas no elevado nível do desafio. Somente a empresa do empresário Elon Musk está em processo de lançar 122 satélites para prover, até 2021, internet de alta velocidade em qualquer ponto do planeta. Inclusive na Amazônia.

A proteção da floresta úmida requer forte ação de relações públicas, imprensa e tecnologia de ponta. Tentar criar narrativa própria poderá prejudicar ainda mais a já problemática imagem do Brasil no estrangeiro. E produzir novos e maiores obstáculos para o comércio exterior do país.

 

André Gustavo Stumpf escreve no Capital Político. Formado em Direito pela Universidade de Brasília (UnB), onde lecionou Jornalismo por uma década. Foi repórter e chefe da sucursal de Brasília da Veja, nos anos setenta. Participou do grupo que criou a Isto É, da qual foi chefe da sucursal de Brasília. Trabalhou nos dois jornais de Brasília, foi diretor da TV Brasília e diretor de Jornalismo do Diário de Pernambuco, no Recife. Durante a Constituinte de 88, foi coordenador de política do Jornal do Brasil. Em 1984, em Washington, Estados Unidos, obteve o título de Master em Políticas Públicas (Master of International Public Policy) com especialização política na América Latina, da School of Advanced International Studies (SAIS). Atualmente escreve no Correio Braziliense.

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