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Por Coluna
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A violência no deserto

Legislação permissiva e criação de arsenais caseiros

Por Gaudêncio Torquato
Atualizado em 30 jul 2020, 19h40 - Publicado em 9 jun 2019, 09h01

Dados irrefutáveis: somos um dos países mais violentos do mundo, até mais que o Haiti, ocupando a 103ª posição no ranking Global da Paz, com taxa de homicídio 30 vezes maior que a da Europa. Mais de meio milhão de pessoas foram assassinadas na última década, cerca de 52 mil assassinatos por ano, quase 25 mortes em cada 100 mil, a 12ª maior taxa do mundo.

Sob essa teia, vamos à reflexão. Imaginar segurança com população armada é ignorar a realidade. Ter armas em casa para a segurança da família é grande engano. Em dez anos aumentou em 30% o número de homicídios de mulheres por arma de fogo em casa. Nosso povo não é treinado para se defender. E mais: nem temos índole tão pacífica como se apregoa. É falso. Tiroteio resulta em mortandade.

Os sinais desanimam. Educação voltada para a segurança não faz parte de nossa cultura. Apelar para o revide é atiçar a violência. Vejam o que o ex-presidente Barack Obama disse em São Paulo sobre o uso de armas nos EUA: “as leis sobre armas nos Estados Unidos não fazem muito sentido”. Atentados nas escolas se sucedem.

A maneira de ser do nosso presidente incentiva a agressividade. Muita gente reage contra os agressores. Bolsonaro exibe um jeito belicoso de guerra, combatendo inimigos, gritando palavras de ordem a simpatizantes, despertando neles mecanismos de projeção e identificação. Desse modo influencia o comportamento social, abrindo a pauta do debate público, conforme atesta pesquisa recente do Projeto de Opinião Pública da América Latina/Fundação Getúlio Vargas.

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Enfim, o presidente é um agente de polarização e conflito. Não se espere dele o pacifismo de Gandhi. Ao contrário, expande a tensão entre apoiadores e adversários. Para complicar, os brasileiros, segundo a pesquisa Barômetros das Américas, andam insatisfeitos com a democracia. Cerca de 35% são favoráveis a um golpe militar ante a expansão da corrupção; 38% (pasmem) concordam com o fechamento do Supremo Tribunal Federal e 22% justificam fechar o Congresso Nacional. Índices assombrosos.

A insegurança se dissemina, a violência se espraia. Já se ouve com naturalidade: “bandido bom é bandido morto”. Assim, prenunciamos o aumento de covas nos cemitérios, também na esteira do abrandamento dos códigos de trânsito (de 20 para 40 pontos para perda da CNH), extinção de multas no caso das cadeirinhas para crianças, fim dos radares nas estradas, etc.

Legislação permissiva e criação de arsenais caseiros aumentarão o índice de acidentes/incidentes. Não se projeta um cenário de harmonia social com mais armas ou com meios de transporte disparados nas estradas.

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Pior é que parcela ponderável da sociedade aplaude a barbárie. Dado revelador: 43% da população afirmam sua convicção – “se eu pudesse teria uma arma de fogo para proteção”.

Nesta paisagem não há oásis à vista, apenas deserto de areia e borrasca. Oásis só em país de povo bem educado. Mas os ventos da Educação não refrescam. É lamentável ver um ministro da Educação mais “fechador” de salas de aula do que educador aberto aos novos tempos. Desolador.

Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político

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