A mais recente rodada dos dois principais institutos de pesquisa – Datafolha e Ibope – revelaram uma importante mudança na cabeça dos brasileiros e para a qual o mundo político deveria estar atento, a começar pelo presidente da República. Ao contrário das eleições do ano passado, quando seu impacto foi menor, o chamado mundo real com suas questões concretas, como desemprego e serviços públicos de baixíssima qualidade, passam a ser o centro das preocupações das pessoas.
A rigor sempre foi assim. A chamada vida real nunca deixou de ser determinante tanto para a aprovação ou rejeição dos governos como para o voto dos eleitores. Quando a economia ia bem, disseminava-se na maioria da população uma sensação de bem estar. O inverso era verdadeiro. Quando ia mal, gerava uma onda de insegurança e medo em relação ao seu futuro.
A eleição de Jair Bolsonaro foi uma exceção. Pesou menos a vida real e mais a chamada crise moral e ética, bem como o cansaço com os governos lulopetistas responsáveis pela maior crise econômica e social da história do país.
A inflexão detectada nas pesquisas se explica pela resiliência de uma crise econômica e social que não dá sinais de refluir, pois as estimativas para 2020 tampouco são animadoras. No próximo ano, o Brasil completará mais uma década perdida, com um crescimento médio do PIB de 0,9%, praticamente igual à média anual do crescimento populacional que é de 0,8%.
Só para se ter ideia da proporção da atual estagnação da economia, esta média é a pior dos últimos 120 anos, inferior até à chamada década perdida dos anos 80, quando o PIB, em média, se expandiu 1,6% ao ano. E não há expectativa de melhoria no curto prazo, posto que o índice de investimentos também é o menor em doze décadas.
O quadro dantesco inclui 13 milhões de desempregados, cinco milhões de desalentados e dez milhões de subutilizados no mercado de trabalho. Ou seja, 25% da população economicamente ativa do país.
Ao mesmo tempo, os serviços públicos deterioraram-se profundamente nesta década, com a expansão dos gastos públicos voltados, principalmente, para fazer frente às despesas correntes do setor público.
Os gastos públicos hoje estão para a população assim como a inflação esteve nos anos perdidos da década de 80. É ele o dragão a ser vencido. O brasileiro começa a ter essa percepção, o que explica o dado do Datafolha segundo o qual já há uma maioria da população favorável à Reforma da Previdência.
O governo Bolsonaro não criou esse quadro e tem o mérito de dar continuidade às reformas iniciadas por Michel Temer, entre elas a Reforma da Previdência. Mas isso não serve de alívio. Quanto mais o tempo passa, mas a fatura cairá sobre seus ombros. E mais serão exigidas soluções concretas para os reais problemas que afligem a população, entre eles a Educação.
No início deste século, pesquisas educacionais indicavam a satisfação dos brasileiros com a Educação porque seus filhos frequentavam alguma escola em vez de estarem nas ruas, também recebiam uniforme e alimentação. Hoje o Ibope e o Datafolha apontam claramente que para os mais pobres não basta apenas colocar a criança na escola.
As famílias e os jovens hoje querem uma Educação de qualidade que faça a diferença para sua ascensão social. Convenhamos, até agora o mais rotundo fracasso do atual governo foi na área educacional, daí seu desempenho ser tão mal avaliado, nessa área.
Por sua vez, a Reforma da Previdência é condição necessária, mas insuficiente, para alavancar a economia. Além da continuidade da agenda reformista, se faz necessária outra agenda, focada na geração de emprego, de renda e na melhoria dos serviços públicos.
Já a agenda ideológica do governo atende a um terço do eleitorado. Este lhe permanece fiel e não por coincidência é formado em boa parte por quem tem maior poder aquisitivo.
Quanto mais o governo gastar energia com esta agenda ideológica mais desagradará à maioria da população que sofre as agruras da vida como ela é.
Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo
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