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Por Coluna
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A verdade apud Bolsonaro

Palanque no portão do palácio

Por Maria Helena RR de Sousa
Atualizado em 30 jul 2020, 19h24 - Publicado em 4 out 2019, 11h00

Era uma vez um país onde o presidente da República descobriu que bom mesmo era a campanha, os palanques, as palmas, os Vivas!, a alegria de ouvir ‘Mito!, Mito! Mito!’.

Governar, ficar atrás de uma mesa de trabalho, se aborrecendo com decisões que tinha que tomar, lendo e aguentando as críticas que recebia, achou muito chato. Um trabalho pra lá de maçante. Não era bem isso que ele pretendia quando fez o possível e o impossível para ser eleito.

Então ele armou um palanque no portão do palácio onde residia e por onde passava, diariamente, ao sair de casa e onde encontrava, sempre, admiradores entusiasmados e turistas encantados com o fato de estar vendo e ouvindo o presidente da República. O palanque passou a ser seu lugar favorito. Se fosse possível, ele passaria ali o dia todo… Nada lhe seria mais simpático.

Logo a Imprensa descobriu que ali era o melhor local para encontrar o presidente e ficar sabendo como andava seu humor. Aquele passou a ser o ponto de encontro, dos mais animados, do capitão com a Imprensa, sempre ágil em descobrir novidades.

Anteontem, ao passar por esse palanquete, os jornalistas logo viram que o humor do capitão estava dos mais amargos. Foi assim que ele se dirigiu aos representantes da Imprensa: ‘não vou falar com vocês enquanto vocês não noticiarem o que de verdade aconteceu na abertura da Assembleia-Geral da ONU’.  

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Pausa: o que será que ele quis dizer com isso? Será que ele se esqueceu que tudo foi filmado e transmitido ao vivo e que os brasileiros puderam ver e ouvir tudo que ele disse? Será que ele deseja que a Imprensa crie uma nova narrativa, que fuja inteiramente da realidade?

Bem, por mais que seus filhos e seus apoiadores desejem isso, de coração, vai ser difícil conseguir, pois há testemunhas de peso. Além dos representantes de todos os países que lotavam o plenário da ONU, a imprensa estrangeira viu, ouviu, traduziu e filmou tudo o que ele disse e sabe perfeitamente o quanto ele foi agressivo e infeliz ao falar em nome do Brasil.

Foi, sem dúvida, o pior pronunciamento de um chefe de Estado brasileiro ali, naquela ocasião que tem tudo para ser o momento mais iluminado do Brasil na ONU. Basta olhar a expressão dos chefes de Estado mesmerizados pelo som de seus fones de ouvido.

A cada nova frase do discurso, eu ficava tensa à espera de vaias, ou de abandono do plenário, ou de risos incontroláveis.  Mas a diplomacia tem essa grande vantagem: ensina como deve ser o comportamento diante de todo tipo de discurso, do mais brilhante ao mais infeliz. O máximo que se permite é o tipo de aplauso de Angela Merkel, as quatro palmas lentas e de uma ironia inconfundível.

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Bolsonaro atacou os governos brasileiros que o antecederam e gabou-se de tirar o Brasil das garras do socialismo; condenou países, que não nominou, a respeito de suas opiniões sobre a Amazônia; acusou a ONU, que o recebia com fidalguia naquele momento, de “perverter a identidade biológica” quando foi a favor da diversidade de gênero.

Tudo isso após alegar que traria a verdade ao plenário da ONU. Pena que ele pouco tenha lido, sobretudo a obra magnífica da Winston Churchill. Pois se tivesse lido saberia que “A verdade é incontestável. A maldade pode atacá-la, a ignorância dela escarnecer, mas ao fim, lá estará ela, impávida.”

A História, no futuro, nos dirá se essa campanha estendida no palanque do portão do Alvorada foi boa ou má para o Brasil e para seu presidente, o ex-capitão do Exército.

Um dia, assim espero, o capitão Bolsonaro encontrará a verdade neste pensamento de Fernando Pessoa: “Eu sou aquilo que perdi”.

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. www.facebook.com/mhrrs  
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