Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Noblat Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Coluna
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A vaca, o vampiro e o Pinóquio (por Gaudêncio Torquato)

O Estado brasileiro sempre foi considerado por parcela significativa dos políticos como “cosa nostra”,

Por GAUDÊNCIO TORQUATO
Atualizado em 30 jul 2020, 19h08 - Publicado em 23 fev 2020, 09h00

No momento em que o Brasil entra na folia carnavalesca, vêm à mente três seres que resumem o repertório de conceitos, mazelas e problemas que devastam a gestão, a política e a economia: a vaca, o vampiro e o Pinóquio. A vaca é a Grande Mãe, a deusa que, para os primitivos, se repartia em rios, árvores, fenômenos naturais. Entre nós, assume também a posição de entidade que encobre, defende, aconchega. A vaca é o próprio Estado, que oferece seu leite para milhares de brasileiros. Muitos desempenham bem seu ofício. Outros, nem tanto. Bolsonaro até tenta cortar o acesso dos políticos a elas, mas a lei de São Francisco é mais forte.

O Estado brasileiro sempre foi considerado por parcela significativa dos políticos como “cosa nostra”, de domínio da Grande Família, dos donos do poder, que cultivam o filhotismo, o nepotismo e o familismo. Função pública acaba sendo patrimônio pessoal. Como se sabe, o país ainda é capenga em matéria de gestão do Estado, cujos pilares repousam em critérios de mérito, controles, transparência, qualidade e descentralização. São mais de 10 milhões de servidores públicos nas três instâncias federativas.

A mamãezada (“descaso ou conivência dos responsáveis que acobertam subordinados, em caso de imoralidade no serviço público”, segundo Antônio Houaiss) é a base da muralha que esconde desvios e ilícitos, parte dos quais emergiu na Lava Jato. Modernizar a máquina pública implica nova metodologia e é desafio permanente. Não adianta apenas enxugar estruturas sem promover profundo corte nos 10% do PIB consumidos na administração pública. A vaca precisa evitar bezerros estranhos no curral.

O segundo ente a ser eliminado é o vampiro, sugador de sangue na calada da noite. O país inteiro é povoado de vampiros. São encontros na surdina para conluios e negociatas contra o Estado. A receita para eliminar a vampiragem é única: raio de sol. Maços de alho e crucifixos não bastam. Com luz na cara, eles correm para suas tumbas e caixões. Em suma, escancarar as administrações. Dar transparência aos atos.

Continua após a publicidade

Por último, resta cortar dos palcos da política o enorme nariz de Pinóquio, a encarnação do Estado-Espetáculo, da autoglorificação e da mentira, que deriva do conceito de política como teatro. Remonta aos tempos antigos, mas ganhou força a partir no século passado com as campanhas políticas norte-americanas. Hitler recebia aulas de declamação. Mussolini inflava seu personagem. Considerava-se perfeito ator.

No Brasil, a oratória ensinada pelo marketing é um exercício de prestidigitação. O importante é a versão, não a verdade. E hoje as fake news invadem as redes sociais.  A palavra é usada para encobrir o pensamento, driblar a intenção. Radicais pagos, incluindo empresas especializadas, se expandem. A verdade quase nunca aparece. O reino do Pinóquio ocupa todos os espaços, com arabescos, cosméticas exageradas, discursos retumbantes e mentiras repetidas. O serrote para cortar o nariz de Pinóquio é a consciência. Façamos uso dela.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular aposentado da USP e consultor político. 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.