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Por Coluna
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A síndrome de Odorico Paraguaçu

No município a necessidade tem cara de gente

Por Gustavo Krause
Atualizado em 30 jul 2020, 19h19 - Publicado em 17 nov 2019, 12h00

Odorico foi o personagem central e inesquecível da novela da Globo “O Bem Amado”, genialmente concebido por Dias Gomes com a interpretação magistral de Paulo Gracindo e um elenco recheado de artistas talentosos.

A fonte de inspiração do autor foi o que Platão, depreciando a democracia ateniense, chamava de “teatrocracia” e o que Bill Clinton disse sobre a política: “é igual a Hollywood, só que com gente feia”.

De fato, o protagonista interpretava o prefeito de Sucupira, um dos grotões desse imenso Brasil, município imaginário na Bahia, mas em nada diferente do que os estudiosos chamam de “realpolitik”. O edil nordestino era a síntese da cultura que permeia a política brasileira, com todos cacoetes da grandiloquência, do embuste, da esperteza e o completo desprezo pelos mínimos sinais das propaladas “virtudes republicanas”.

Porém, Odorico e seus pares, os prefeitos, pagaram a conta maior da ridicularia. Enquanto isso, autoridades das outras esferas metiam “a boca no capim”, como disse um prócer partidário, ao ser nomeado para um cargo que “tinha poço”. Todo prefeito, justa ou injustamente, é tido como portador da síndrome de Odorico Paraguaçu.

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No entanto, a solução dos grandes problemas nacionais passa pelo poder local. E não é difícil entender. Nos municípios que estão na base da pirâmide federalista, o mundo real se revela. Neles, o governo de proximidade não lida com abstrações: desnutrição não é um conceito científico, é a pessoa sem pão, sem feijão; desemprego não é uma situação socioeconômica, é o sujeito pedindo ou assaltando nos semáforos; mortalidade infantil não é um dado estatístico, é o desespero do pai de família que bate na porta do prefeito ou do vereador.

E assim sucede com todas as carências: no município a necessidade tem cara de gente; as prioridades estão à vista, clamando para serem atendidas; as soluções são mais simples, criativas e baratas.

Paradoxalmente, para começar a falar em pacto federativo, o primeiro e o passo fundamental é aprovar a PEC que propõe, a partir de 2026, a incorporação e fusão de municípios com menos de 5.000 habitantes e arrecadação própria menor que 10% da receita total (1.253 municípios, sendo que Serra da Saudade (MG), Borá (SP) e Araguainha (MT) têm, respectivamente, 781, 837 e 935 habitantes).

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De 1988 a 1996, aconteceu a “farra” dos municípios: foram criados cerca 1200, dividindo penúria e somando votos. Odorico Paraguaçu é inocente. Só queria  inaugurar um cemitério.

 

Gustavo Krause é ex-ministro da Fazenda  

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