
Jair Bolsonaro se elegeu presidente com o voto dos mais ricos. Quer se reeleger com o voto dos mais pobres.
Os ricos o adotaram há dois anos para derrotar o PT. A classe média também, mas ela sempre foi pouco confiável.
Então Bolsonaro sente muito que sua repentina opção preferencial pelos pobres enfraqueça o ajuste fiscal, mas que assim seja.
Ora, Paulo Guedes, que graça haveria em arrumar o Estado para que outro, e não Bolsonaro, possa depois tirar vantagem disso?
No segundo turno da eleição de 2018, Bolsonaro venceu em 97% das cidades mais ricas, e Haddad em 98% das mais pobres.
Nas regiões mais ricas do agronegócio, Bolsonaro conquistou 61,54% dos votos válidos contra 38,46% de Haddad.
Haddad ganhou na maioria dos municípios – 2.810 a 2.760. Ainda assim, Bolsonaro teve 10,7 milhões de votos a mais do que ele.
Houve um tempo em que o voto dos grotões sustentou a Arena, partido da ditadura militar de 64.
E houve um tempo, mais recente, que sustentou quatro governos do PT. Ou melhor: três governos e meio.
O coração dos grotões sempre bateu mais forte pelos governos ou partidos que atenderam suas carências. Natural.
Graças ao auxílio emergencial por conta do Covid-19, a rejeição de Bolsonaro no Nordeste caiu de 52% em junho para 35% agora.
Guedes quis que o auxílio fosse de 200 reais por mês. O Congresso pediu 500. Bolsonaro deu 600.
O ministro estima que nos primeiros três meses, o auxílio custou a bagatela de 152 bilhões de reais.
Só que ele acabou prorrogado por mais três meses. E será até dezembro. Guedes topa pagar 250. Bolsonaro, 300.
A oposição ao governo está perplexa e sem saber direito o que fazer. Ela governa oito dos nove Estados do Nordeste.
Bolsonaro subtrai o que era dela. Sai Bolsa Família, entra Renda Brasil. Sai Minha Casa, Minha Vida, entra Casa Verde e Amarela.
E sempre gastando um dinheirinho a mais para não parecer apenas maquiagem ou apropriação indébita de marcas famosas.
Se Bolsonaro arrombar as portas dos grotões, dificilmente não será reeleito. Para derrotá-lo, só uma frente ampla de partidos.
Isso só será possível se o PT admitir abrir mão da cabeça de chapa. Mas Lula argumenta que não pode ser assim.
E se nenhum outro candidato de oposição chegar à frente do candidato do PT às vésperas do primeiro turno?
O argumento é fajuto. Um candidato apoiado pelo PT, PSDB, DEM, PSB, PDT e outros partidos poderá deter Bolsonaro.
Tudo o que Bolsonaro quer é ir para o segundo turno contra um candidato do PT. Tudo o que não quer é ir contra outro candidato.
Em 2022, não importa quem vença, desde que não vença o atraso para que não se perpetue.