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Por Coluna
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A festa do estado-espetáculo

A liturgia do evangelismo cria animação social

Por GAUDÊNCIO TORQUATO
Atualizado em 30 jul 2020, 19h36 - Publicado em 30 jun 2019, 10h00

Há, na sociologia política, uma hipótese que pode explicar certos fenômenos sobre o estado d’alma da população. A sobrecarga das demandas sociais aumenta as frustrações com o poder público, levando grupos a procurar uma recompensa psicológica. Imensos contingentes nacionais são atraídos por eventos diversionistas, que funcionam como compensação em momentos de crise.

É jogar na loto, ir aos estádios de futebol ou mesmo rir com programas populares na TV. Os olimpianos, perfis que o sociólogo Edgar Morin descreve como figurantes do topo da cultura de massas, chamam a atenção, abrem portas da esperança, “inventam milagres” em templos suntuosos, acenam para a plateia, encarnam o perfil de xerifes contra a corrupção e capricham na imagem de heróis “salvadores da Pátria”.

Quanto menos grana no bolso, maior o sucesso desses personagens: artistas de novelas, bispos reunindo multidões, jogadores (as) de futebol, juízes, ex-juízes, procuradores e até políticos de visibilidade midiática etc.

À fragilidade do Estado contrapõe-se o Estado das Estrelas Individuais, com seu teatro, promessas e elementos ficcionais. E o que está por trás disso? Entre outros fatores, instituições frágeis, conteúdos sociais amorfos, banalização da violência, descrença na política e na justiça, carência de cidadania, um conjunto festejado pela mídia. São visíveis os sintomas da crise, da deterioração de programas sociais nos capítulos da segurança, educação, saúde e habitação. A polícia não cumpre seu papel de preservar a ordem.  Exércitos privados se multiplicam. A marginália cresce e o medo se espraia.

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Nesse vazio, abrem-se espaços para mecanismos catárticos.  A “marcha para Jesus” e a Parada Gay são exemplos de eventos de grande mobilização. De um lado, o encontro místico, de outro, a liberação de identidades. Ninguém grava o que se ouviu nos palanques, mas a estética dos espetáculos (o meio é a mensagem, McLuhan) é a própria mensagem. Todos se recordam das cenas. O efeito teatral sobre milhares de pessoas e a alienação cívica são provocados por esses ritos, signos e ensaios coletivos.

A liturgia do evangelismo cria animação social, coisa típica do Estado-Espetáculo, maneira de jogar o anzol para “pescar” a fé de multidões. A estampa dos credos nada mais é que retrato acabado de um tempo em que o essencial cede lugar ao acessório.

O resultado é a dormência da cidadania. Cidadão que vive na ficção transforma versão em verdade e o meio em fim. Sem serviços essenciais básicos eficientes, as pessoas se fragilizam, perdem autonomia. Rebanhos famintos à procura de pasto, sem noção de direitos.

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O debate das ideias dá lugar ao ludismo. Líderes das massas já não são figuras política portando valores essenciais, como decência, respeitabilidade, honra, moral, ética, compromisso. Esse acervo se perdeu. O que vemos hoje são atores expressando promessas de salvação, elementos canhestros dramatizando o cotidiano, ancorando-se na miséria para aumentar seus cofres.

Paisagem social lúgubre. Remete-nos ao poeta Manuel Bandeira, que assim cantava: “que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? O que vejo é o beco”.

 

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Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político 

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