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A dor dos invisíveis

Num país tão desigual como o nosso, a grande maioria das crianças - 61% do total - cerca de 33 milhões - vivem na pobreza

Por Mirian Guaraciaba
Atualizado em 30 jul 2020, 19h17 - Publicado em 26 nov 2019, 12h00

A única chance de Sâmia é abandonar o bebê. A única chance do recém-nascido será a adoção por uma família constituída, pai e mãe, nome e sobrenome. O país é Marrocos. Os dias de hoje. Tão bem contada em “Adam”, dirigido por Maryam Touzani, linda atriz, roteirista, marroquina, 39 anos, a história de Sâmia trata literalmente dos excluídos. A dor avassaladora da mãe ao desamparar o filho só não é maior que o medo de vê-lo condenado como bastardo para o resto da vida.

O filme é delicado. Mas sufocante. Não permite o choro – não está longe de nós a realidade marroquina, machista, intolerante, miserável e desigual. Quase 50 mil crianças estão em abrigos públicos no Brasil, em situação de abandono absoluto. Mães desesperadas. Desamparadas. Desse universo invisível, apenas sete mil estão prontos para a adoção. O restante? O resto? Os que não se incluem nos adotáveis ainda estão sub judice.

Num país tão desigual como o nosso, a grande maioria das crianças – 61% do total – cerca de 33 milhões – vivem na pobreza, perto de 13 milhões não tem saneamento básico, 2,5 milhões estão fora da escola; 2,7 milhões em situação de trabalho infantil.

Queira ou não o capitão que nos desgoverna, e abomina ONGs, os dados são realistas. E atuais. Foram recolhidos por cinco organizações não governamentais sem fins lucrativos para o “Child Rights Now – Análise da Situação dos Direitos da Criança no Brasil”.

No quadro em que vivemos, vai piorar. Há menos de um mês. Bolsonaro anunciou a criação do “direito ao equilíbrio fiscal”, sobrepondo-o ao artigo 6º da Constituição que diz que “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a Previdência Social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados”. Pela proposta do Capitão, se passar no Congresso, primeiro paga-se aos bancos. Depois, se sobrar, o resto.

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Bolsonaro ainda planeja um estelionato eleitoral. Na campanha, garantiu que jamais acabaria com o Bolsa Familia. Não é o que parece. O capitão não gosta do programa que tem a cara de Luis Inácio Lula da Silva, e seu ministro da Economia anda com uma tesoura no bolso para cortar programas sociais. “Minha casa, minha vida” também tem a cara de Lula e já foi reduzido de R$ 4,6 bilhões para R$ 2,7 bilhões. Terá o menor orçamento de sua história.

A igualdade de oportunidades na sociedade brasileira é utopia. Desde sempre. Os filhos dos ricos ou mais abastados estudam, os pobres ensinam seus filhos a reciclarem lixo. O IBGE espelha o Brasil de hoje: a renda média do 1% mais rico do país é cerca de 35 vezes maior que os ganhos de metade dos mais pobres. O IPEA engrossa: o desemprego empobreceu mais ainda os que já eram pobres, recuando de 5,7% para 3,5% sua participação na renda nacional.

Sem dó nem piedade. O dinheiro dos que trabalham já não é suficiente para o luxo do almoço ou do transporte coletivo. E vida que segue. Em O Globo dessa segunda, o cineasta Cacá Diegues encara o assunto. Fala de desigualdades, pobreza, indiferença, omissão. “Hoje, o desprezo pela dor do outro e a idéia de fatalidade do sofrimento alheio estão consagrados, já viraram programa de governo em muitos regimes. Alguns, até, considerados exemplos de democracia”, sentencia.

Estão no Brasil. Estão nas telas dos cinemas. De “Adam”, a “Coringa”, ou “Parasita”, os excluídos, os invisíveis, não estão longe das nossas casas. Gente de verdade, absolutamente descartável, habitando um mundo cada vez mais cruel. A vida cada mais dificil, o Brasil desfocando cada vez mais as diferenças, a agonia de quem não tem emprego, não tem saúde, não tem escola. Não tem abrigo. Se esse governo pudesse, excluiria até nossa esperança de dias melhores.

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