Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, prestaria um grande favor ao presidente Jair Bolsonaro se aceitasse em breve um dos muitos pedidos de impeachment contra ele que guarda na gaveta. Seria um político amador se o fizesse. E Maia, apesar da juventude, tem se revelado um político ajuizado e esperto.
Por mais que Bolsonaro o pressione e ataque como tem feito, Maia não cairá na armadilha. O deputado diz que está acostumado com pressões desde antes de nascer. No útero da mãe, foi pressionado pela irmã gêmea. Depois de nascido, aprendeu com o pai, Cesar Maia, ex-prefeito do Rio, como lidar com situações difíceis.
A presidência da Câmara por três mandatos consecutivos foi a melhor escola que Maia poderia ter-se matriculado para neste momento encarar com sensatez o presidente mais belicoso que pôs os pés no Palácio do Planalto desde a redemocratização do país em 1985. O temperamento irritado de Maia é coisa do passado.
Se Bolsonaro o desafia dizendo que ele quer derrubá-lo, não é um patriota, nem tem “um coração verde amarelo”, Maia responde: “Enquanto o presidente joga pedras no Congresso, o Congresso lhe manda flores”. Bolsonaro teme a abertura de um processo de impeachment no próximo ano – por isso deseja antecipá-lo.
Não se tira presidente em meio a uma pandemia justo quando se pede às pessoas que fiquem em casa. Pode-se tirar depois que a epidemia passe e que as pessoas voltem às ruas. Mesmo assim, a tirá-lo, é preferível que fique onde está sob a tutela do Congresso e da Justiça. Impeachment é sempre um processo traumático.
Impeachment, já, não teria a menor possibilidade de ser aprovado. Nem o PT o apoiaria. Maia sabe disso, Bolsonaro também e, por isso, o quer. Sabe que o impeachment terá melhores condições de avançar quando se puder fazer um balanço de casos e de mortes provocados pelo coronavírus, e do papel do presidente nisso tudo.
Onde você estava? – foi a pergunta que correu o mundo depois do assassinato do presidente norte-americano John Kennedy em 1963. Até hoje, muita gente se lembra de onde estava. Repete-se a pergunta a propósito do 11 de setembro de 2001 quando o terrorismo matou quase três mil pessoas nos Estados Unidos.
Antes da pandemia, Bolsonaro contava com a recuperação da economia para, em 2022, candidato à reeleição, apresentá-la como seu cartão de visita. A recuperação entrou por uma perna de pinto, saiu por uma perna de pato. Na eleição se perguntará: Onde você estava e o que fez quando o coronavírus matou tanta gente?
Bolsonaro desperdiçou a chance de poder responder que estava na presidência e que liderou o país na penosa luta contra o maior flagelo que se abateu sobre a humanidade neste início de século.