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Choque de realidade

O voluntarismo de pouco serve na areia movediça de Brasília

Por Murillo de Aragão Atualizado em 14 ago 2020, 18h34 - Publicado em 14 ago 2020, 06h00

Muitos chegam a Brasília acreditando que poderão fazer tudo o que pensam, em especial os que nunca tiveram experiência em cargo público. É um engano. A complexidade da máquina pública é exasperante. O processo decisório em Brasília é excruciante e termina sendo decepcionante para muitos. O estudo das razões para o fracasso do voluntarismo em Brasília justificaria um mestrado. Não apenas uma coluna, mas vamos tentar resumir.

Muitos dos que chegam para ocupar um cargo no Poder Executivo nem imaginam como a máquina pública corporativista reage a corpos estranhos. Os que até sabem das dificuldades não aquilatam o tamanho dessas dificuldades e não decifram o relacionamento com as demais instituições. Qualquer política mais sofisticada deve ser submetida ao escrutínio dos demais poderes. Não raro, iniciativas administrativas são barradas pelo Judiciário. Outras dependem do Congresso Nacional, cuja complexidade é igualmente ciclópica. Governar é administrar muitos governos dentro da administração pública, que tem tempo e ritmo próprios.

Antes de tentar fazer o que pretende, o administrador público deve gastar bastante tempo avaliando o que “é possível fazer” e, depois, planejando “como fazer”. Realisticamente, existem temas que precisam ser amadurecidos por um longo período. Por exemplo, a privatização do Banco do Brasil. Não basta desejar privatizá-lo, é necessário saber a viabilidade em relação ao tempo e planejar as etapas para que aconteça.

“Muitos dos que chegam ao Executivo não imaginam como a máquina reage a corpos estranhos”

Avaliar e planejar significam identificar resistências e aliados. Buscar atalhos e reduzir fricções. Sobretudo, é saber que qualquer iniciativa mais elaborada implica em custos políticos. Em Brasília, em Washington ou em outras capitais onde o poder decisório é compartilhado entre poderes, não existe lanche grátis. Qualquer ação (projeto, proposta, iniciativa) causa uma reação (troca de favores e compensações), que, para ficar claro, não significa entrar no terreno da ilegalidade ou da imoralidade. A realidade é que o voluntarismo de pouco serve em uma Brasília onde certas áreas são como areia movediça dragando boas iniciativas. Outra lição para o “saber fazer” é envolver a proposta em uma bela narrativa. Sem saber se comunicar, o relevante passa por irrelevante. Ao propor boas narrativas, o administrador público se prepara para as batalhas mais duras que virão à frente. Ganha credibilidade, respeito e simpatia.

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O governo Bolsonaro não sabe se comunicar, apesar de o presidente ser popular e dominar as redes sociais. A equipe econômica peca por não dispor de estratégia de comunicação que reforce seus êxitos e, por consequência, amplie o seu poder político para batalhas dentro e fora do Palácio do Planalto.

O time de Guedes vem perdendo quadros de peso desde a posse. Alguns de seus integrantes nem eram da administração pública por carreira, como Salim Mattar e Paulo Uebel. Uma lástima para o Brasil. Eram nomes de grande capacidade com realizações que justificaram amplamente sua ida para o governo. Aos que analisam o comportamento das equipes econômicas, as expectativas devem ser realisticamente avaliadas a partir de quatro etapas (lembrando que existem abismos entre elas): “vontade de fazer”, “ver o que é possível fazer”, “saber fazer” e “fazer”. Trata-se de um exercício fundamental de realpolitik tupiniquim.

Publicado em VEJA de 19 de agosto de 2020, edição nº 2700

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