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Paralisia: esquerda atrasada não entende acontecimentos em Cuba

Enquanto esquerdistas cubanos clamam por respeito aos direitos humanos e até uma comissão da verdade para investigar abusos

Por Vilma Gryzinski 22 jul 2021, 08h26

Aqueles que se imaginam anti-imperialistas nem chegaram perto do pote de farinha, enquanto esquerdistas mais espertos, inclusive dentro de Cuba, estão voltando com um bolo de derrubar os queixos dos que pararam no tempo.

Como explicar, do ponto de vista da esquerda convencional e, na América Latina, castrista até o último fio de barba, que um jovem cubano saia na rua com um cartaz pedindo “Socialismo, sim. Repressão, não”?

Para quem não está preso e amarrado aos circuitos neuronais de sempre, a fase da fidelidade bovina já foi totalmente superada. O festival de pancadaria com que o regime cubano recebeu a erupção de protestos do 11 de julho foi o empurrão final.

O site La Joven Cuba, por exemplo, que não pode ser acusado de identificação com os “trumpistas de Miami”,  publicou um editorial em que rompe com a máxima “que nos repetem até a saciedade” de que qualquer dissidência é traição num país sitiado por um inimigo poderoso – a combalida e hoje ridícula narrativa oficial.

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“Acontece que no caminho de guardar silêncio para não dar armas ao inimigo externo, podem ser perdidas a virtude e a justiça”, anota o editorial.

“Em nome do decoro e da decência”, La Joven Cuba pede garantias para Leonardo Romero Negrín, o universitário preso e espancado por proteger um ex-aluno durante os protestos, e a criação de uma “Comissão de Verdade e Reconciliação que investigue de maneira transparente” os abusos sofridos por ele e “outros que possam ter ocorrido”.

Em termos muito bem calculados, o sociólogo chileno Andrés Kogan Valderrama escreve no mesmo site que a reação desencadeada pelo regime, “reprimindo e detendo inclusive figuras da Revolução e da esquerda na ilha” – mais uma vez aparece o nome de Leonardo Romero – “deveria despertar a reflexão regional e não ser cúmplice de um processo político fechado em si mesmo”.

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“Proponho isso porque parece que o processo político cubano se transformou com o passar do tempo em uma espécie de tabu para boa parte das esquerdas no mundo, especialmente latino-americanas, onde qualquer crítica a respeito é rapidamente desmoralizada por seu caráter imperialista e contrarrevolucionário”.

Kogan percorre todo o circuito convencional – e equivocado – sobre os males do embargo americano, que nem embargo é, para acrescentar: “Mas daí a omitir o caráter centralista, militarista, autoritário e burocrático do Estado em Cuba, formatado estruturalmente pela partidocracia castrista, é simplesmente se deixar levar por uma noção estática do que foi a Revolução nos últimos 62 anos”.

Nada como alguém de esquerda para fazer uma boa autocrítica.

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No El País, que está fazendo uma excelente cobertura dos acontecimentos em Cuba, Carlos Pagni disse que as penúrias materiais têm seu peso, “mas o verdadeiro motor das manifestações é a falta de pluralismo e de liberdade de expressão”.

“Muitos partidos e líderes de esquerda de toda a região se pronunciaram em defesa da ditadura e repetiram suas justificativas”, disse, mencionando os suspeitos de sempre no Brasil, no Uruguai e na Argentina.

“No entanto, começaram a aparecer fissuras nessa reivindicação. Dissidências que revelam que o castrismo está sendo ameaçado por um movimento diferente, novo, dentro e também fora da ilha”.

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De modo geral, a esquerda menos amarrada por visões ideológicas do passado pede um diálogo que conduza a reformas – e, obviamente, respeito aos direitos humanos, uma bandeira esquerdista tradicional que os defensores da ditadura cubana tristemente pisoteiam.

“É preciso haver mais pontes, tem que haver mais diálogos, mais desejos de resolver a montanha de temas econômicos e políticos pendentes”, disse Silvio Rodríguez, praticamente o cantor oficial do castrismo.

Rodríguez encontrou-se com o dramaturgo Yunior García, um dos mais destacados participantes da nova onda cubana.

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“Para mim, o mais doloroso foi escutar que eles, como geração, já não se sentiam parte do processo cubano”, escreveu o cantor, indicando um dos aspectos mais interessantes do atual momento: o choque entre a velha guarda convicta dos ideais revolucionários e as gerações mais jovens, desligadas dessa conexão.

Nem todos estão para conversa, a essa altura. Escreveu um leitor do La Joven Cuba: “Todos os patriotas cubanos, incluindo Fidel Castro e os revolucionários de 1959, jamais teriam negociado com uma ditadura repressiva e violenta”.

“Fidel jamais pediu para dialogar com Batista”.

“Não se negocia com uma ditadura cruel e violenta, é preciso lutar para tirá-los do poder, seja como for, fazer até o impossível para que seja de forma pacífica, do contrário será preciso fazer como fez Fidel, à bala, tirando as armas do inimigo”.

Deu para sentir o clima? Quem não entender pode acabar com a farinha despejada no chão e nenhum bolo.

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