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Na trilha do dinheiro de Chávez: dois presos com muito a revelar

Lula, Kirchner, Evo - alguns nomes de beneficiados, segundo ex-diretor do serviço secreto, que forma dupla da delação com testa de ferro extraditado

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 20 out 2021, 12h58 - Publicado em 20 out 2021, 07h36

Quando perdem o poder e caem nas malhas da justiça, ex-manda-chuvas continuam a ter uma única mercadoria valiosa: informação.

O que sabem e o que contam pode fazer a diferença entre sentenças duras e acordos mais amenos.

Dois homens se encontram hoje nessa posição em relação às conhecidas – ou nem tanto – operações de corrupção, tráfico de drogas e apoio monetário a governantes amigos da Venezuela, desde a época de Hugo Chávez até os dias mais recentes de seu sucessor, Nicolás Maduro.

Um deles é Alex Saab, empresário colombiano que se tornou uma figura importante nos subterrâneos do chavismo, e foi deportado de Cabo Verde para os Estados Unidos no sábado passado.

Outro é Hugo Carvajal, ex-chefe do serviço militar de inteligência, que caiu numa armadilha feita por seus próprios colegas e teve que fugir da Venezuela depois de declarar apoio ao oposicionista Juan Guaidó.

Carvajal era o “espião dos espiões”, o homem encarregado por Chávez de ficar de olho no seu entorno mais próximo, principalmente os líderes militares que juravam lealdade e poderiam traí-lo.

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É uma ironia que não tenha se dado conta da rede que se montou a seu redor e o levou à desgraça,

Quando percebeu a encrenca, Carvajal conseguiu fugir do país e foi parar na Espanha, mas passou para a clandestinidade diante do pedido de extradição dos Estados Unidos. Dizem que tentou negociar um acordo de imunidade com os americanos, sem sucesso. Acabou detido no começo de setembro. Agora, está falando. Por enquanto, em linhas gerais.

O trecho mais significativo do documento que apresentou à justiça:

“Enquanto fui diretor de Inteligência e Contrainteligência Militar da Venezuela, recebi uma grande quantidade de informes assinalando que o financiamento internacional estava ocorrendo”.

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“Exemplos concretos são: Néstor Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Lula da Silva no Brasil, Fernando Lugo no Paraguai, Ollanta Humala no Peru, Zelaya em Honduras, Gustavo Petro na Colômbia, Movimento Cinco Estrelas na Itália e Podemos na Espanha. Todos estes foram registrados como receptores de dinheiro enviado pelo governo venezuelano”.

O dinheiro clandestino para o Podemos, que hoje participa da coalizão de governo da Espanha, já era conhecido, mas Carvajal, conhecido pelo apelido de El Pollo – o Frango -, deu detalhes:

“O dinheiro era transportado pelo informante mais importante que tive sobre estes casos. O informante recolhia o dinheiro na embaixada de Cuba na Venezuela e o levava à Chancelaria da Venezuela, onde era recebido por Williams Amaro”.

Amaro era o secretário de Maduro, então ministro das Relações Exteriores.

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“Ele o rotulava como mala diplomática e o dinheiro era enviado à embaixada da Venezuela na Espanha. Na embaixada, era retirado por Ramón Gordils, que logo fazia a entrega a Juan Carlos Monedero”.

As malas de dinheiro venezuelano com destino aos cofres de Néstor Kirchner também têm um histórico conhecido – um carregamento  de 800 mil dólares chegou a ser apreendido e liberado no infame voo das maletas, em 2007, para a campanha de Cristina Kirchner.

Mais recentes no quadro são as supostas contribuições ao Movimento Cinco Estrelas, o estranho populismo de esquerda que também já integrou o governo italiano.

Outro nome relativamente novo no pedaço é o de Gustavo Petro, o candidato de esquerda que é favorito para a eleição presidencial da Colômbia em maio do ano que vem.

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El Pollo Carvajal sabe muito bem que a melhor forma de valorizar sua mercadoria é falar das tramas internacionais de Hugo Chávez: nada repercute tanto quanto a lista de companheiros beneficiados na época em que a Venezuela tinha dinheiro para bancar a geopolítica bolivariana.

Para a justiça americana, se eventualmente chegar a ela, interessa mais o que sabe sobre os venezuelanos de alto coturno entranhados no narcotráfico.

El Pollo, segundo resumiu o Infobae, “conhece os segredos militares mais escabrosos de cada um dos oficiais que cresceram com a revolução, assim como as tarefas que cada um deles realizou de maneira ilícita, as entranhas da relação com Cuba e até o armamento comprado da Rússia”.

Outro informante vital é Alex Saab, o multimilionário que “se tornou o maior operador de um executivo asfixiado pelas sanções internacionais”, segundo definiu o El País.

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“As autoridades americanas suspeitam que ele tem a chave de onde Maduro e seu entorno escondem sua fortuna”, disse o jornal espanhol.

Alguns destinos suspeitos: Chipre, China e Hong Kong.

Com toda esta experiência, cometeu um erro de amador: procurou lavar via Miami 156 milhões de dólares de contratos fictícios para a compra de material de construção no Equador, falsamente destinados  à construção de casas populares.

Assim, caiu na malha americana que agora conseguiu levá-lo ao lugar mais temido por corruptos e traficantes de todo mundo: uma cela no sistema prisional dos Estados Unidos.

Para dar uma ideia do prestígio – e da preocupação – que ele evoca, durante sua prisão em Cabo Verde, o regime venezuelano o qualificou de enviado especial à Rússia e ao Irã, nomeando-o depois para um cargo diplomático, na tentativa de evitar a extradição.

Alex Saab e Hugo Carvajal não são os únicos com motivos para dormir mal.

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