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Muita pose, pouco serviço: o desmanche da popularidade de Joe Biden

Nenhum presidente americano perdeu tantos pontos em tão pouco tempo em quase oitenta anos - e a chances de recuperação são discutíveis

Por Vilma Gryzinski 26 out 2021, 07h49

Num mundo em que o copo de Joe Biden está meio cheio, ele fecha um acordo sobre o pacotaço de 3,5 trilhões de dólares ainda este mês, o entupimento nas linhas de abastecimento logo é superado pelo engenho humano, o preço da gasolina não vira caso para  internação psiquiátrica, a inflação volta a “níveis aceitáveis” em 2022 – palavra de Janet Yellen, hoje secretária do Tesouro -, a pandemia reflui e a assombrosa máquina da economia americana entrega seus frutos fabulosos.

Gradativamente, ele recupera a popularidade, compensa os 11,3 pontos perdidos em nove meses de governo – uma queda nunca vista desde 1945 -, fantasia-se com o manto de novo Franklin Roosevelt e tudo melhora a tempo de esquentar as máquinas para a campanha pela reeleição de 2024.

Com o copo meio vazio, nada disso acontece. Ou acontece apenas parcialmente, sem nunca recuperar os 56% de aprovação que ele teve nos três primeiros meses de governo. Os 44,7% que tem atualmente viram padrão – deixando-o na incômoda posição de presidente com índice mais baixo de aprovação nessa altura de seu mandato, com exceção de Donald Trump.

É uma ironia que Biden, eleito com avassalador apoio de todas as elites mais influentes como o homem que iria exorcizar os Estados Unidos da odiada presença de Trump, hoje faça companhia a ele no limbo dos presidentes impopulares.

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Até os programas humorísticos como o Saturday Night Live, que incineravam Trump em sátiras destruidoras – a melhor de todas diabolicamente encarnada por Alec Baldwin, hoje naufragado no trágico caso da diretora de fotografia que matou acidentalmente -, estão começando a despertar para o potencial de Biden como personagem a ser ridicularizado.

No último programa, o presidente contracena com o personagem que era anos atrás, quando “todo mundo gostava de mim” e “a imprensa me chamava de tio Joe”.

O político de gestos populistas e pose de galã da terceira idade, com seus óculos escuros modelo aviador e uma imprensa majoritariamente não só favorável como disposta a relevar qualquer possível “probleminha”, foi desmontado tanto por fatos sobre os quais tinha pouco controle – como a retomada da pandemia quando a coisa já parecia controlada – quanto por desastres inteiramente fabricados por ele mesmo, como a vexaminosa retirada do Afeganistão.

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Para sorte de Biden, o país deixou de ser notícia e sumiu do mapa. Mas em seu lugar entraram assuntos movidos por correntes poderosas que afetam a economia planetária, como os engasgos que a recuperação pós-pandemia acelerou. O descompasso entre demanda e oferta criou os pesadelos logísticos do momento.

Os americanos estão com dinheiro no bolso, economizado durante a retração pandêmica, e querem gastar. Em agosto, torraram o equivalente atualizado a 15 trilhões de dólares. Se os produtos não chegam, é claro que se instaura um clima de frustração – e um ambiente fértil para o aumento da inflação.

Os problemas logísticos coincidiram com dois fenômenos. Primeiro, um presidente de 78 anos que passou descansando 106 dos seus 276 dias na Casa Branca – um levantamento feito pela CNN. Justa ou injustamente, passa a imagem de um presidente sem gana de trabalhar, principalmente quando várias crises simultâneas estão bufando no pescoço da nação.

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Outro fenômeno: o secretário dos Transportes e ex-rival Pete Buttigieg desapareceu no meio da crise logística. Em meados de outubro, soube-se que ele estava em licença paternidade desde agosto.

Como seus filhos gêmeos são de um casamento homossexual, os críticos morderam os cotovelos o quanto deu, temendo que qualquer referência à licença deixasse transparecer preconceito ou condenação moral. Mas o fato é que um ministro ausente num momento vital e um presidente dado a longos fins de semana criaram a imagem de um governo à deriva.

“Podem falar o nome de qualquer crise e o presidente Biden e sua equipe não têm a menor ideia de como resolvê-la”, escreveu o New York Post num editorial – o jornal é um dos raros que criticam Biden sem restrições.

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É claro que são críticas do ponto de vista conservador, centradas principalmente na guinada para a esquerda que Biden, um moderado histórico, deu uma vez eleito, adotando como seu um programa multitrilionário do qual “o verdadeiro autor é Bernie Sanders”, o senador socialista.

Apesar do discurso enrolado, dos escorregões verbais e da imagem de descolamento da realidade que passa, Biden é um político com meio século de experiência, capital que está empregando na tarefa de negociar com dois senadores democratas, Joe Manchin e Kyrsten Sinema, as “pontes” que faltam para a aprovação do pacote social de 3,5 trilhões – é claro que toda a oposição republicana está fechada contra.

Manchin e Sinema vão acabar concordando com o pacote, depois de arrancarem concessões de Biden, inclusive a possível retirada do aumento de impostos para empresas, um ponto de honra da esquerda democrata.

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É assim mesmo que funciona, como todo mundo sabe em Brasília. Muitos pontos às vezes são incluídos em grandes projetos com o propósito não-declarado de servir como peças a serem rifadas na hora da negociação.

Joe Biden vai cantar vitória quando convencer os senadores renitentes, com razão. Mas a agenda progressista tem que ser ajustada ao mundo real. Segundo uma pesquisa recente, apenas 37% dos americanos acham que o governo e o Partido Democrata, obcecados por mudança climática e questões raciais e de gênero, estão focados nos problemas que realmente preocupam a população.

Não existe copo meio cheio que resista a isso.

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