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Kim Jong-un criou mesmo o vale-cachorro em troca de comida?

Entre as mais delirantes notícias vindas da Coreia do Norte está a compra de cães criados como pets para manter em funcionamento restaurantes do ramo

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 18 ago 2020, 08h47 - Publicado em 18 ago 2020, 08h32

São tênues as fronteiras entre o que é verdade e o que é mentira na Coreia do Norte.

Muitas vezes, notícias que parecem absurdas são confirmadas tempos depois. Outras continuam no limbo da dúvida.

A última, vinda de sites sul-coreanos focados no vizinho, delirante e hermético reino vermelho de Kim Jong-un: o regime está trocando animais de estimação por vouchers que valem rações de arroz ou óleo de cozinha.

Comer carne de cachorro não é tabu nas duas Coreias e em várias regiões da China. No verão, como agora, ela é valorizada por “combater o calor” e dar mais energia; no inverno, por aumentar a temperatura corporal. Conceitos, obviamente, não científicos.

Criações de cachorros como proteína alto padrão na Coreia do Norte fornecem cerca de um milhão de animais por ano. A diferença é que agora os cães de estimação entraram na dança.

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O NK Daily fala especificamente em cachorros grandes, com mais de quinze quilos, destinados a abastecer restaurantes especializados da capital.

“As autoridades mandaram funcionários de várias regiões do país, inclusive no município de Pakchon, comprarem cachorros com quinze quilos ou mais e mandarem para Pyongyang”, segundo uma fonte norte-coreana, obviamente não identificada.

Em uma semana, Pakchon mandou 750 quilos de carne canina para a capital.

O jornal sul-coreano Chosun Ilbo disse que em julho foi baixado um decreto declarando que ter animais de estimação é contra a lei, por sinalizar “uma tendência de ideologia burguesa”.

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Segundo o jornal, os donos de pets são obrigados a vender seus cães. A opção é tê-los simplesmente confiscados. 

A concepção de que ter cães é um desvio burguês e um desperdício de recursos exíguos vem da China de Mao Tsé Tung, onde os animais de estimação ou de rua foram todos exterminados ao longo de sucessivas campanhas.

Quando o grupo maoísta Sendero Luminoso surgiu no Peru, nos anos oitenta, o “anúncio” de suas ações terroristas foi feito com cachorros enforcados nos postes de iluminação de Lima, acompanhados por dizeres revolucionários contra as recém-iniciadas reformas na China.

Os senderistas também inventaram o cachorro-bomba, autoexplicativo. Geralmente era um sinal de ataques próximos contra prefeitos de pequenas cidades andinas.

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Entre atentados, repressão e outras barbaridades, o Sendero deixou uma trilha de 70 mil mortos no Peru.

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A Coreia do Norte está, para variar, vivendo dias de emergência em matéria de comida e, praticamente, de tudo mais. Sem contar que continua a não ter oficialmente uma única vítima do novo coronavírus.

Mas os queridos companheiros animais destinados à panela não estão obrigatoriamente ligados à crise. Podem ser mais um capricho do ditador supremo.

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Em outro capítulo capricho ou sabe-se lá o quê, a irmã favorita dele, Kim Yo-jong, cogitada como eventual sucessora quando o rubicundo tirado desapareceu do mapa por várias semanas, também não tem comparecido nas últimas reuniões da cúpula do partido.

Com a China em estado de antagonismo agudo em relação aos Estados Unidos, qualquer perspectiva de desarmamento nuclear ou de abertura do regime norte-coreano simplesmente sumiu do mapa.

Segundo John Bolton, o ex-conselheiro de Segurança Nacional que saiu brigado com Donald Trump, o presidente não entende os motivos da Guerra da Coreia – invasão da região sul pelos comunistas do norte.

Tem muito jeito de dor de cotovelo. Trump tem 73 anos, fez o segundo grau em colégio militar e soa impossível que a Guerra da Coreia, encerrada em 1953 com um armistício, sem tratado de paz, não fosse ainda um tema relevante.

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Sobre suas exigências de que a Coreia do Sul contribuísse mais para a manutenção das forças americanas, o assunto é público.

Seguindo a tática de parecer mais flexível e em seguida retomar o estilo ditador maluco e ameaçador, Kim continua a deixar a Coreia do Sul perdida com o estilo bipolaridade política.

Em 2018, quando estava na fase “bonzinho”, Kim presenteou o presidente sul-coreano Moon Jae In com dois belos exemplares brancos da raça pungsan, uma linhagem norte-coreana de cães de caça.

Estes escaparam da panela.

Amanhã tem uma reunião antecipada do Politburo e os decifradores de enigmas da Coreia do Norte estão de olho para ver se a irmã de Kim vai comparecer. 

Ou o que mais pode acontecer de verdades que parecem mentiras e vice-versa.

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