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Joe Biden perdeu o centro e a notícia é tão ruim que dá força a Trump

Eleições estaduais indicam que os eleitores móveis, que votam ora num partido, ora no outro, são os que mais abandonaram os democratas

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 4 nov 2021, 07h57 - Publicado em 4 nov 2021, 07h55

O partido do presidente perder eleições regionais ou legislativas no meio do mandato é normal – aconteceu com Barack Obama e com Donald Trump.

Duro mesmo é quando os números são tão negativos como aconteceu no estado de Virginia, onde um azarão republicano, Glenn Youngkin, milionário que já presidiu o maior fundo de investimentos dos Estados Unidos, uma posição essencialmente pouco simpática às massas votantes, virou o jogo.

Há exatamente um ano, Joe Biden derrotou Donald Trump nesse estado, com um belo resultado de 54% dos votos, 10 pontos a mais que o adversário – o melhor, para um candidato democrata, desde ninguém menos do que Franklin Roosevelt, o legendário presidente que ele tenta emular.

Em apenas dez meses, a casa caiu. Hoje, nacionalmente, Biden tem apenas 42% de aprovação (algumas pesquisas dão até menos, 38%). Para piorar, os democratas disputaram o governo estadual com um homem da mais profunda máquina do partido, o ex-governadorTerry McAuliffe, um assessor da copa e cozinha de Bill e Hillary Clinton.

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McAuliffe fez tudo conforme o figurino predominante hoje no partido, que deu uma pronunciada guinada para a esquerda. Em seus discurso, de cada dez palavras, uma era Trump. Chegou a dizer que “os pais não devem ter autoridade para determinar” o currículo escolar – uma questão incandescente no momento em que se ergue uma forte onda de rejeição ao ensino, desde o primeiro grau,  de princípios da teoria crítica racial, segundo os quais todos os brancos, inclusive crianças, são indelével e irremediavelmente racistas.

Não é preciso ser de direita para se indignar com esse tipo de doutrinação. Pesquisas de opinião mostram que eleitores da Virginia estão, sim, preocupados com os rumos do ensino – sem falar em inflação, desabastecimento e outros problemas atuais que desapareceram do discurso democrata.

Escrevendo no Politico, o comentarista conservador Charles Sykes ironizou: “Nos jogos de futebol e nas reuniões de pais e mestres, ou em outros lugares onde se cruzam pais de classe média, você não ouve falar em ‘interseccionalidade’ ou debates sobre o uso correto dos pronomes”. As referência são a temas identitários que dominam o discurso nas universidades e da ala progressista dos democratas.

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Exatamente esses progressistas “relutam em fazer qualquer análise mais profunda sobre os motivos que alienaram antigos integrantes de sua base” eleitoral.

São os mesmos eleitores que deram a vitória a Biden no ano passado, quando Trump parecia intragável demais, e agora acham que o presidente os abandonou ao abraçar a pauta esquerdista.

Hoje, a rejeição a Biden entre eleitores independentes é comparável à de Donald Trump em seus piores momentos. Numa pesquisa anterior às eleições estaduais, 62% dos independentes disseram que não consideram o governo Biden competente para administrar o país.

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Perder o centro desestabiliza qualquer líder político nas democracias. Governar apenas para sua tribo, como fez Trump e como está fazendo Biden, isola os dirigentes e os coloca cada vez mais na defensiva: para “nós”, tudo; para “eles”, que se danem.

Cada vez que Trump, em seus comícios eleitorais de 2020, ridicularizava Biden ou insuflava a massa contra a imprensa – por mais parcial que esta comprovadamente fosse -, deixava os convertidos pegando fogo, mas afastava os hesitantes. Os indecisos acabaram se decidindo e deu no que deu.

A desaprovação a Biden e os fiascos que vem protagonizando, como a absurda retirada do Afeganistão e, agora, a luta interna em seu próprio partido sobre os programas sociais trilionários, evidentemente levam a perguntas inevitáveis: Donald Trump vai se candidatar em 2024? Quais suas chances?

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Trump foi um típico candidato de um mandato só, uma aposta arriscada dos eleitores que se inclinaram a tentar uma mudança fora dos quadros políticos habituais.

Hoje,  78%% dos eleitores republicanos acham que Trump deve concorrer e 47% declaram voto nele logo de cara. Seu índice de favorabilidade nesse eleitorado é de impressionantes 83% – um sedutor canto de sereia para o ex-presidente.

O problema é que só teria chances de vitória atraindo os independentes. Isso depende, em boa parte, de como será julgado o desempenho de Joe Biden. Ele ainda tem mais três anos e dois meses de mandato. Está apostando tudo no gigantesco pacote de benefícios sociais que irrigará bondades em todos os setores, da assistência médica à licença remunerada para mães e pais, que nos Estados Unidos é decidida empresa por empresa.

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Não pode desperdiçar suas chances: dentro de um ano, as eleições para o Congresso podem inverter a maioria que os democratas têm na Câmara e no Senado e enterrar os ambiciosos programas de Biden.

O momento não é dos mais favoráveis. Inflação, aumento da gasolina e falta de produtos não são problemas que se resolverão rapidamente – nem nos Estados Unidos nem em nenhum outro país. E aumenta a percepção de que Biden não tem energia e foco para enfrentar essa pauleira toda.

Em 2024, ele completará 81 anos e o tempo não tem funcionado a seu favor.

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