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Foi golpe? As incríveis similitudes da defesa de Netanyahu

Não precisa nem dizer em qual país: primeiro-ministro vira réu por corrupção e reage com acusações de tentativa de golpe e politização da Justiça

Por Vilma Gryzinski 22 nov 2019, 14h24

“Está na hora de investigar os investigadores, de investigar a procuradoria que aprova estas investigações corrompidas. Respeito a polícia, respeito os promotores. Mas é preciso entender que não estão acima das críticas.”

“É preciso ser cego para não ver que tem uma coisa ruim acontecendo com as investigações policiais e a promotoria. Estamos assistindo uma tentativa de golpe feita pela polícia com base em falsas acusações.”

“O processo investigativo corrompido atingiu seu ápice hoje.”

É obrigação dos profissionais da análise política resistir a comparações fáceis. Em praticamente todas as circunstâncias, estão erradas.

Mas também é quase impossível olhar para as escaldantes palavras de Benjamin Netanyahu em defesa de si próprio, baseado no eterno princípio de que a melhor delas é o ataque, e não ver incríveis semelhanças com os casos de políticos corruptos no Brasil.

Bibi é acusado de prevaricação em duas ações penais, mais prevaricação e corrupção passiva numa terceira.

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Nada envolve as quantias as quantias estonteantes da história recente do Brasil nem o estabelecimento de um mecanismo permanente de corrupção via grandes construtoras.

Mas o toma lá, dá cá tem leis idênticas em qualquer lugar do mundo.

Os casos são numerados: 1 000, 2 000 e 4 000.

No primeiro, Netanyahu é acusado de receber presentes de simpatizantes milionários – em alguns casos exigir, quando entrava em ação a mulher, Sarah.

O mais conhecido é Arnon Milchan, produtor de cinema baseado nos Estados Unidos. Ele abastecia o casal Netanyahu de champanhe rosê e charutos.

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Bibi ligou para o secretário de Estado americano da época, John Kerry, pedindo intervenção no visto de residência do produtor. Milchan e agregados colaboraram extensamente com a investigação.

A segunda ação penal envolve o dono do maior jornal popular de Israel, a quem Bibi é acusado de favorecer, prometendo enfraquecer a circulação de um rival – também simpatizante -, em troca de cobertura mais favorável ainda.

O terceiro, e mais grave por implicar em corrupção, também se refere à busca de apoio no noticiário. No caso, do site Walla, cujo dono é Shaul Elovitch.

Muito mais importante, Elovitch também é dono da Bezeq, gigante da telefonia. Segundo as investigações, Bibi interferiu num projeto de lei para favorecer a Bezeq.

O procurador-geral Avichai Mandelblit, general reformado que ocupou o cargo mais alto na estrutura jurídica das forças armadas de Israel, decidiu que só a ação penal 4 000 incluiria a acusação de corrupção – contra sua equipe, claro, promotores sempre querem ir para as cabeças.

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O inquérito foi longo, teve dramáticas delações premiadas e depoimentos inacreditáveis.

Miriam Adelson, médica israelense casada com um milionário dono de cassinos, disse que Sara Netanyahu é “completamente louca”.

Chegou a ameaçar que se o Irã atacasse Israel seria culpa dela, Miriam, porque o tabloide pertencente a seu marido, Sheldon Adelson, havia publicado uma foto desfavorável de Sara.

Atenção: os Adelson sempre foram simpatizantes e contribuintes do Likud, o partido de direita de Netanyahu.

O jornal dele é o que Bibi prometeu enfraquecer, para agradar um rival, conforme a ação penal 1000.

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Juízo final

Como em qualquer outro lugar do mundo, inclusive o nosso, existem três opções para o caso de Netanyahu: ele é culpado, é inocente ou ele acredita totalmente na segunda hipótese.

Daí as acusações de tentativa de golpe: se um inocente no mais alto cargo político é acusado de crimes de corrupção, só pode ser por conspiração de seus inimigos encastelados no poder judiciário.

“Dei minha vida por este país, combati por este país, foi ferido por este país”, disse ele no exaltado discurso em defesa própria.

Bibi foi das forças especiais do Exército e levou um tiro no braço, disparado com um colega de equipe, no espetacular resgate dos passageiros do avião da Sabena sequestrado por palestinos e levado para o aeroporto de Telavive em 1972.

Além de poder ser chamado de heroico, Bibi também é um graduado mestre da política e da sobrevivência em circunstâncias que seriam impossíveis até para outros fortes.

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Mas até mesmo por seus padrões está numa posição mais precária do que nunca.

Bibi continua como primeiro-ministro em caráter interino, enquanto nem ele nem o rival, Benny Gantz, conseguem formar uma maioria parlamentar.

Nos Estados Unidos, de cujo apoio Israel depende para sobreviver em termos militares e políticos, Donald Trump corre o risco da “morte por mil cortes”, sob a forma de impeachment.

Mesmo que o presidente americano escape, pode perder a reeleição.

E mais de um pré-candidato democrata quer desmontar tudo o que Trump fez, inclusive o apoio sem precedentes para Israel, como o reconhecimento do direito do país a manter em seu território a área das montanhas de Golã tomada da Síria em 1967.

Sem contar o Irã, onde a corrida para a bomba nuclear é cada vez menos disfarçada.

O novo enrosco de Netanyahu pode favorecer o partido de Benny Gantz nas tentativas de formação de uma nova coalizão de governo.

Numa atitude inconcebível até recentemente, o jornal The Jerusalem Post, o mais importante da direita israelense, publicou um editorial em que diz que está na hora de Bibi deixar o governo.

“Não existe golpe nenhum em Israel”, reagiu Gantz ao discurso de Netanyahu.

Considerado como acima de qualquer suspeita como ex-chefe do estado maior das forças armadas, o estrelado general da reserva pode conseguir por vias tortas o que não alcançou até agora na arena das negociações políticas.

A alternância de poder é inevitável, e salutar, nas democracias.

E talvez até o prodigiosamente esperto Netanyahu não resista à perspectiva sem precedentes de Israel ter um primeiro-ministro que tira uma parte do dia para enfrentar um julgamento.

Sem falar no Juízo Final à beira do qual o país vive permanentemente.

O que é melhor no momento para Israel, para sua sobrevivência na melhor situação possível de não-belicosidade – nem vamos falar em paz – ou de ações bélicas apenas quando são inevitáveis?

Um governante funcional ou um que se mantém na base do “não vai ter golpe”?

Como tudo em Israel, não existem respostas fáceis. Aliás, até as difíceis só são encontradas na unha.

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