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As certezas nos escapam

Como é difícil ter respostas cristalinas diante de tanta incerteza

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 8 Maio 2020, 11h00 - Publicado em 8 Maio 2020, 06h00

Imaginem um balão de aniversário. Agora, imaginem a proporção desse balão em relação ao nosso planeta Terra. Um vírus tem mais ou menos a mesma relação de tamanho com a bola de gás. Essa comparação, romanticamente aterradora, foi feita por um patologista e professor aposentado que escreve na revista inglesa Spectator, John Lee. Talvez mais do que todas as cenas que acompanhamos com o coração na mão, a comparação expõe a vulnerabilidade humana diante desse infinitamente pequeno e perigoso agente infiltrado. Querendo certezas para nos segurar, deparamos com incertezas. A ciência não é uma entidade todo-­poderosa com respostas para tudo, especialistas têm opiniões contraditórias, a experiência da Suécia pode ser uma exceção brilhante ou uma desgraça que empilha mortes evitáveis, as crianças ora são pequenas granadas virais, ora são inofensivas, depois voltam a ser perigosas. E a vacina vai demorar. Ou talvez nem venha a existir.

John Lee faz parte de uma valente minoria de cientistas que contestam as visões predominantes, especialmente sobre os benefícios do isolamento (atenção: estamos falando de debates altamente qualificados e não contaminados por paixões políticas). Parodiando He­ming­way, ele escreveu: “A certeza na ciência é uma festa deambulante, dependendo do que você está olhando. Nas ciências físicas, frequentemente dá para ter certeza sobre os números. Mas nas ciências biológicas as coisas são mais complicadas. Organismos vivos têm infinitas camadas de complexidades estonteantes e isso dificulta ter respostas cristalinas”.

Disse Galbraith: “A opinião convencional serve para nos proteger do doloroso trabalho de pensar”

Para nós, leigos, a questão da transmissibilidade do vírus pelas crianças, levantada na semana passada, talvez tenha sido a de maior carga emocional. Em questão de horas, desabaram informações tão contraditórias quanto bem argumentadas por especialistas. Primeiro, um dos principais epidemiologistas da Suíça anunciou que crianças abaixo de 10 anos “raramente são infectadas e não transmitem o vírus”. Poderia haver notícia melhor para avós separados dos netos? Quase imediatamente, o virologista alemão Christian Drosten alertou sobre os níveis de vírus no trato respiratório serem iguais entre crianças e adultos. A OMS disse que não havia uma quantidade suficiente de pesquisas para sustentar coisa nenhuma.

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Essa é a resposta padrão quando é complicado — ou perigoso — se comprometer com alguma posição definitiva. Mas os governantes precisam decidir enquanto o avião está em pane a 11 000 metros de altitude e nós precisamos acreditar que estão tomando as decisões certas. Talvez nunca tenha sido tão realista a definição de John Kenneth Galbraith: “A política não é a arte do possível. Ela consiste em escolher entre o desagradável e o desastroso”. O elegante herdeiro do pensamento keynesiano em economia entrou para a cultura popular com o livro, depois série de TV, A Era da Incerteza, sobre o mundo pós-I Guerra. Qual seria a reação de Galbraith diante do pandemônio de hoje? Como todas as mentes brilhantes, inclusive ou principalmente aquelas das quais discordamos, ele deixou muitas pistas plantadas. Uma delas, entre tantas: “A opinião convencional serve para nos proteger do doloroso trabalho de pensar”.

Publicado em VEJA de 13 de maio de 2020, edição nº 2686

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