Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Mundialista Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Vilma Gryzinski
Se está no mapa, é interessante. Notícias comentadas sobre países, povos e personagens que interessam a participantes curiosos da comunidade global. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

A eterna doença argentina

O presidente acha que tudo vai bem, mas tudo vai mal

Por Vilma Gryzinski Atualizado em 5 mar 2021, 10h54 - Publicado em 5 mar 2021, 06h00

“A Argentina é, por excelência, um exemplo de uma economia cuja estagnação relativa não parece derivar do clima, de divisões raciais, de pobreza malthusiana ou de atraso tecnológico. Sua sociedade, não sua economia, parece estar doente. Seu sistema político não funciona de forma a gerar produtividade. E essa doença na sociologia e no governo prejudica a saúde da economia argentina.” Quantos brasileiros não se identificam completamente com o diagnóstico feito sobre nosso vizinho do sul por Paul Samuelson? Brasil e Argentina compartilham a sina do desenvolvimento interrompido. E das crises que se repetem, fazendo com que os vizinhos se vigiem mutuamente e, conforme a fase, pensem: “Pelo menos não estamos tão mal quanto eles”.

No momento, é nossa vez de dizer isso. Por mais precário que seja o arame sobre o qual nos equilibramos, a situação dos argentinos, tristemente, é mais complicada ainda.

A análise de Samuelson, Nobel póstumo de Economia, foi revisitada por um artigo recente do El País com um título cruelmente veraz: “A crise perpétua da Argentina”. O estágio atual inclui contração de 10% na economia por causa do coronavírus, a “quarenterna” que nem bloqueou o vírus nem preservou a atividade econômica, inflação de quase 40%, derretimento do peso, reservas esgotadas, e, na condição de maior devedor do Fundo Monetário Internacional, sem ter para onde correr, emissão de moeda a todo o vapor.

“Conforme a fase, brasileiros e argentinos dizem: ‘Pelo menos não estamos tão mal quanto eles’”

Continua após a publicidade

O excepcionalismo argentino é regularmente estudado por economistas perplexos com um enigma: como, tendo dado uma arrancada tão promissora, a Argentina acabou fazendo tão pouco com tanto. “A Argentina iniciou o século XX como um dos lugares mais ricos do mundo. Em 1913, era mais rica do que a França ou a Alemanha, quase duas vezes mais próspera do que a Espanha e com renda per capita quase tão alta quanto a do Canadá. Até os anos 1930, os franceses usavam a frase ‘riche comme un argentin’ para denominar alguém absurdamente rico”, diz um número da Latin American Economic Review dedicado a tentar descascar o abacaxi do enigma argentino. Tendo o ano de 1928 como marco do fim da belle époque dos Pampas, a Argentina demorou até o ano 2000 para dobrar seu PIB per capita. No mesmo período, países como Estados Unidos, Canadá e o Reino Unido multiplicaram sua renda por quatro. Alemanha, França e Suécia quintuplicaram a deles. Itália e Espanha sextuplicaram. Japão, Taiwan e Coreia do Sul mais do que decuplicaram. A do Brasil, como comparação inevitável, cresceu quase cinco vezes.

A maldição argentina desafia a lógica e proporciona momentos de ironia não planejada, como o do discurso feito na semana passada, por Alberto Fernández, o peronista “bonzinho” eleito presidente via poderosa chefa Cristina Kirchner. Entusiasmado com o autoelogio às ações de seu governo, ele prometeu que nada o fará “claudicar no empenho para dar racionalidade e sensatez ao debate dos problemas argentinos”. Talvez nenhuma outra promessa do inesgotável acervo argentino tenha sido tão delirantemente irrealizável.

Publicado em VEJA de 10 de março de 2021, edição nº 2728

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.