Coleção resgata obras raras de literatura brasileira
O pernambucano Medeiros e Albuquerque e o mineiro Veiga Miranda não são nomes facilmente lembrados quando se pensa no cânone da literatura brasileira. Mas poderiam ser, caso seus livros não tivessem sido relegados a edições únicas que se esgotaram há tempos. A Edusp, Editora da Universidade de São Paulo, em parceria com a Com-Arte, a editora-laboratório […]
O pernambucano Medeiros e Albuquerque e o mineiro Veiga Miranda não são nomes facilmente lembrados quando se pensa no cânone da literatura brasileira. Mas poderiam ser, caso seus livros não tivessem sido relegados a edições únicas que se esgotaram há tempos. A Edusp, Editora da Universidade de São Paulo, em parceria com a Com-Arte, a editora-laboratório do curso de Editoração da USP, tenta agora compensar essa injustiça com a coleção Reserva Literária, recém-chegada às lojas.
Com três volumes iniciais, Contos Cariocas (238 páginas, 53 reais), de Artur Azevedo, este um nome mais familiar a quem é um pouco chegado à literatura ou já prestou vestibular; Marta (192 páginas, 40 reais), de Medeiros e Albuquerque, e Mau-Olhado (380 páginas, 60 reais), de Veiga Miranda, a coleção coloca à disposição dos leitores edições bem cuidadas, publicadas em capa dura. Os textos foram estabelecidos, ou seja, preparados, comparados à primeira edição de cada livro e corrigidos por alunos do curso de Editoração da USP. De acordo com José de Paula Ramos Júnior, professor-editor do projeto, a ideia é dar visibilidade a obras que têm valor artístico claro, mas foram esquecidas em edições já antigas e raras, fora de catálogo.
Artur Azevedo, por exemplo, é mais lembrado por ser irmão de Aluísio Azevedo, autor do romance naturalista O Cortiço, do que por sua própria produção. De Paula lembra, no entanto, que, em sua época, o trabalho de Artur como jornalista, poeta, dramaturgo e autor de contos era mais prestigiado do que o de seu irmão Aluísio, que seria posteriormente lembrado como um dos escritores mais importantes da literatura brasileira. “Contos Cariocas, coletânea póstuma de 23 contos divertidíssimos, dispersos e perdidos em vários periódicos antigos, só conheceu uma edição, de 1928, antes desta que inaugura a Reserva Literária”, afirma o professor.
Já Medeiros e Albuquerque costuma ser relacionado, quando muito, aos versos do Hino da República. “Do fim do século XIX até sua morte, em 1934, ele foi um reconhecido político, educador, jornalista, crítico, poeta, contista e autor de romances de sucesso. Presidiu a Academia Brasileira de Letras e, como parlamentar, propôs a primeira lei republicana de proteção aos direitos autorais”, diz De Paula. O professor e editor lembra também que o escritor foi pioneiro do conto policial e da assimilação artística da psicanálise no Brasil, característica que pode ser reconhecida no romance Marta.
Por fim, a coleção traz Veiga Miranda, engenheiro que, mesmo em seu tempo, não obteve tanto sucesso literário como Artur Azevedo e Medeiros e Albuquerque, dedicando-se principalmente à política. Foi vereador e prefeito de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, deputado e ministro da Marinha, tornando-se o primeiro civil a ocupar uma pasta militar da República, em 1922. “Jornalista e professor, Veiga Miranda foi biógrafo do poeta Álvares de Azevedo e autor de contos, novelas e romances aplaudidos pela melhor crítica da época, mas quase completamente esquecidos”, afirma De Paula.
Próximos lançamentos – Atualmente em estágio avançado de produção editorial, o romance Navios Iluminados, de Ranulfo Prata, está previsto para ser lançado em 2014 pela Reserva Literária. Segundo o professor editor do projeto, também há possibilidade de se publicar outro livro no próximo ano, o romance O Feiticeiro, de Xavier Marques, cujo texto está sendo preparado pelos alunos de graduação da USP.