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Poucas cidades no mundo têm tanto a dizer como São Paulo

Ensaísta Davi Lago mostra as faces da capital paulista, maior cidade do hemisfério sul em densidade demográfica e relevância econômica, que faz 467 anos

Por Davi Lago
Atualizado em 25 jan 2021, 09h07 - Publicado em 25 jan 2021, 08h49

A cidade de São Paulo completa hoje 467 anos como uma das maiores realizações humanas na face da terra. A população da capital paulista é maior que a população inteira de Portugal. O PIB de São Paulo é maior que o PIB de Uruguai, Croácia e Angola. Um cidadão paulistano simplesmente não se impressiona com as proporções de qualquer outra cidade no mundo: São Paulo é a maior cidade do hemisfério sul em densidade demográfica e relevância econômica. Estes dados realçam a magnitude e a complexidade dos desafios paulistanos. O mais óbvio e evidente é o próprio desafio de ordenar o convívio de mais de doze milhões de pessoas no mesmo espaço urbano. Uma cidade se constrói com conhecimento, diálogo, busca por soluções coletivas. Assim, pesquisadores de todo o planeta observam atentamente o desenvolvimento da cidade de São Paulo em temas decisivos à coexistência humana como gestão de recursos hídricos, saneamento, manejo de resíduos sólidos, mobilidade, respeito à diversidade, direitos fundamentais, justiça social. Tanto nos problemas, como nas soluções, São Paulo é uma referência.

Por exemplo, a questão da desigualdade econômica e segregação espacial. A antropóloga Teresa Pires do Rio Caldeira, em sua obra Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo (2003), afirma que São Paulo desenvolveu três formas diferentes de expressão no espaço urbano. A primeira (1880-1940) produziu uma cidade concentrada em que os diferentes grupos sociais se comprimiam numa área urbana pequena e estavam segregados por tipos de moradia. A segunda forma urbana, a centro-periferia, preconizou a dilatação da cidade dos anos 1940 até os anos 1980. Os diferentes grupos sociais se distinguiram pela distância entre bairros centrais com infraestrutura adequada e periferias com saneamento precário. A terceira forma se configura desde os anos 1980 até o presente e está sobreposta às formas anteriores: os diferentes grupos sociais estão muitas vezes próximos, mas estão separados por muros e tecnologias de segurança, e tendem a não circular ou interagir em áreas comuns. Os instrumentos deste padrão de segregação espacial são chamados por Caldeira de “enclaves fortificados”: espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo, lazer e trabalho. Assim, ao analisar as formas de segregação de São Paulo, Caldeira vislumbra o destino dos grandes ajuntamentos metropolitanos ao redor do mundo.

Por outro lado, São Paulo também se destaca pelo engajamento de seus habitantes na luta pela justiça social e reocupação dos espaços públicos. A pesquisadora Lucy Earle, no estudo Transgressive Citizenship and the Struggle for Social Justice (2017) afirma que os movimentos sociais, a multiplicidade de pautas e o engajamento do cidadão paulistano nas causas públicas se tornaram referências incontornáveis em questões sobre o direito à cidade. As manifestações políticas que tomaram as ruas das principais cidades brasileiras em junho de 2013 brotaram literalmente no centro de São Paulo, com a indignação dos cidadãos ao aumento tarifário no transporte público. Deste modo, a Terra da Garoa firmou-se como uma das metrópoles mais importantes do mundo, tanto pelos critérios tradicionais de avaliação (políticos, econômicos, demográficos) como por sua capacidade criativa de se reinventar diante de tantos desafios. Poucas cidades no mundo têm tanto a dizer. Em seus momentos tristes e felizes, a trajetória da cidade de São Paulo exemplifica as múltiplas possibilidades do homo sapiens – e faz isso de modo concreto

* Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo

 

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