O ocaso tecnológico brasileiro
Davi Lago mostra que Brasil tem 20% da biodiversidade do planeta e a quarta juventude mais conectada, mas a falta de investimento em ciência atrasa o país
O Brasil está aquém do seu potencial de inovação tecnológica. O país ocupa apenas a 62ª posição no Índice Global de Inovação 2020 divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO) em parceria com a Cornell University e o Instituto Europeu de Administração de Empresas. O ranking engloba 131 países e examina oitenta indicadores essenciais sobre pesquisa e desenvolvimento.
O avanço em ciência e tecnologia é elementar pois amplia o bem-estar da sociedade. Por exemplo, foram avanços em ciência e tecnologia que mudaram a vida dos brasileiros no século vinte: a expectativa de vida aumentou de 34 anos (1900) para 75 anos (2015) com a evolução do sistema de saneamento e a criação de vacinas e técnicas terapêuticas para as doenças tropicais. Além disso, a inovação gera desenvolvimento econômico e reafirma a autonomia e soberania nacional. Sem inovação o Brasil perde competitividade, os laboratórios se tornam obsoletos, insumos básicos precisam ser importados, ocorre acelerada fuga de cérebros, deixando o país cada vez mais dependente tecnologicamente de outras nações.
Entre os desafios básicos comumente apontados para que o país avance na inovação estão: falta de investimentos, falta de ambiente regulatório adequado, burocracias excessivas, subaproveitamento da rede de museus e instituições de ciência e tecnologia, falta de organização e parcerias público-privadas para o desenvolvimento carreiras em tecnologia, deficiências na transposição da pesquisa para o mercado de produtos tecnológicos, falta de cultura científica, tecnológica e inovadora. De fato, o Brasil está na contramão do mundo investindo menos de 1% do PIB em pesquisa e desenvolvimento – enquanto União Europeia investe 3%, Estados Unidos 2,7%, China 2,5%, Coreia do Sul e Israel mais que 4%. Como afirmou Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, não investir em ciência, tecnologia e inovação é “terraplanismo econômico”.
Na base de todos esses desafios está a completa falta de visão das lideranças brasileiras. O Brasil está perdendo tempo: ciência, tecnologia e inovação deveriam ser ênfases irremovíveis e transversais em todos os programas de governo e políticas públicas. Líderes abertos para o futuro deveriam exigir de si mesmos um mínimo de alfabetização científica. O Brasil deveria ter uma política tecnológica clara que priorizasse nossos diferenciais competitivos como os recursos naturais: estima-se que 20% da biodiversidade mundial esteja no Brasil. Possuímos a quarta juventude mais conectada na internet no mundo, possibilidades de mercado interno, mas nossos parques de inovação ainda são precários. A pandemia escancarou a desorganização brasileira na questão: faltam insumos para produzir vacinas. Precisamos urgentemente mudar esta postura retrógrada. Não se faz ciência da noite para o dia.
* Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo