Indígenas do Vale do Javari pedem socorro por conta da pandemia
Etnias da região no Amazonas com o maior número de grupos isolados do mundo falam em descaso do governo e pedem a construção de hospital de campanha

Povos indígenas do Vale do Javari, terra no Amazonas com o maior número de grupos isolados do mundo, pediram socorro pela primeira vez desde o início da pandemia, em nota endereçada à sociedade brasileira e à comunidade internacional.
No documento, a coordenação da União dos povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava) trata da proliferação do coronavírus entre os indígenas, cita o enfraquecimento e o descaso dos órgãos públicos motivado “por uma política anti-indígena do governo atual” e pede providências como a construção de um hospital de campanha em Atalaia do Norte (AM) para atender aldeias.
A UNIJAVA é representante dos povos Mayoruna (Matses), Matis, Tüküna (Kanamary), Kulina (Pano), Korubo e Tsohom-Djapá. Segundo a coordenação, o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) do Vale do Javari informou que existem três indígenas confirmados para a Covid-19. Além disso, mais 15 pessoas e cinco famílias na aldeia estariam apresentando sintomas semelhantes aos provocados pelo coronavírus.
Segundo a entidade, os testes disponibilizados são insuficientes e a constante presença de pescadores, madeireiros e caçadores ilegais na região, que faz divisa com o Peru, agravam os riscos dos moradores em relação à doença.
ASSINE VEJA

“Com o enfraquecimento e o descaso dos órgãos públicos motivado por uma política anti-indígena do atual governo, as ações relacionadas a vigilância e saúde se tornam insuficientes para a complexidade do território”, diz o documento.
Os indígenas ainda citam outras doenças com as quais os índios precisam lidar, como malária, coqueluche e hepatites, e afirmam que a Covid-19 representa uma nova ameaça ao povo.
“Após uma longa história de dizimação, nós povos indígenas resistimos e nossa população aumentou. Atualmente, corremos o risco novamente de ser reduzidos por uma doença dos não indígenas”.
As etnias fazem outras exigências como esclarecimentos das autoridades sobre como o coronavírus entrou nas aldeias; disponibilização de medicamentos para o tratamento da doença e testes rápidos para todas as aldeias; instalação de barreiras sanitárias e locais de quarentena nos pontos de vulnerabilidade.