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Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog
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Ciência encurtou o tempo pela urgência da pandemia

Pesquisador diz que trabalha 14 horas por dia e acha que assim retorna à sociedade o investimento em sua formação 

Por Matheus Leitão Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 jul 2020, 16h15 - Publicado em 23 jul 2020, 15h27

A pandemia do coronavírus revelou à sociedade uma área essencial que andava escondida e desvalorizada no país: a importância da ciência e dos pesquisadores para ajudar a lidar com os desafios da saúde humana. Embora a Covid-19 já tenha feito milhares de vítimas fatais e tenha atingido milhões de pessoas no Brasil, o epidemiologista Pedro Hallal consegue ver pontos positivos em todo o cenário.

Pedro Hallal é responsável pela coordenação da Epicovid, pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, financiada pelo Ministério da Saúde, que mede a prevalência do coronavírus e avalia a velocidade de expansão da doença no Brasil.

Na avaliação de Hallal, a pandemia trouxe três efeitos positivos para a ciência: o senso de urgência para os pesquisadores trabalharem mais rápido e de forma mais efetiva para a população; a melhoria na comunicação científica, que se tornou mais acessível para que todos entendam o que está sendo estudado; e a valorização da ciência e dos pesquisadores num momento em que esse trabalho define os passos que serão tomados em favor da sociedade.

“De uma forma ou de outra, esse senso de urgência da pandemia acaba nos fazendo refletir sobre uma pergunta importante: para quem e para que a gente faz ciência?”, questiona Pedro Hallal que, em seguida, responde a própria pergunta, destacando que a população é o público alvo da ciência.

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Ao explicar que fez seu mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Pelotas, instituição na qual ele exerce ainda a função de reitor, o epidemiologista reforça que a população pagou pelo seu ensino e, por senso de responsabilidade, é seu dever retribuir isso na pandemia da Covid-19.

O pesquisador, que tem trabalhado cerca de 14 horas todos os dias desde o início da crise sanitária, explica que a saúde e a família têm sido afetadas pela alta carga de trabalho, mas não vê outra maneira de agir neste momento.

“É um senso de responsabilidade que tem a ver com uma forma de retribuir. Minha formação foi toda paga pela população brasileira. O cara que é epidemiologista, teve mestrado e doutorado pago pelo governo. Se eu ficasse em casa fingindo que não é comigo, eu estaria sendo irresponsável”, afirma.

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Pedro Hallal conta que amigos e conhecidos próximos testaram positivo para Covid-19 e enfatiza que a ciência se colocou de pé e se fez “gigante”, mesmo sem receber prioridade nos investimentos por parte do atual governo e de gestões anteriores. “Minha percepção é muito positiva do papel da ciência nesse momento”, destaca.

Embora veja muitos acertos em meio à pandemia, o epidemiologista conta que a ciência também cometeu gafes nesse período. Para ele, o tempo necessário para que pesquisadores cheguem a uma conclusão sobre determinado estudo foi cortado pela metade, já que a sociedade espera respostas rápidas a respeito de uma doença tão desconhecida. “Em alguns casos, isso pode gerar erros, pode gerar conclusões precipitadas, aí sim também tem que se levar em consideração essas questões”, explica.

O pesquisador cita erros em artigos publicados no início da pandemia que tiveram que ser consertados algum tempo depois. Conclusões como a do Imperial College, que afirmava que quase 90% dos contaminados por Covid-19 eram assintomáticos, por exemplo, foram derrubadas alguns dias depois, com pesquisas e análises dos infectados.

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Apesar desses equívocos, Pedro Hallal diz que a urgência é necessária. “Eu não trocaria isso por usar o tempo normal da ciência. Foi uma escolha nossa. Claro que se você estiver fazendo um estudo que não tenha tanta urgência, pode ser que você consiga cumprir os ritos normais. Mas em uma situação de emergência como essa, essa pressão da urgência faz bem para nós, pesquisadores, sinceramente”, acredita.

Ao afirmar que a comoção pública tem pressionado os pesquisadores, Pedro Hallal explica que os próprios cientistas estão apavorados com um vírus desconhecido. “Nós somos humanos, também estamos apavorados com esse vírus. Talvez para nós seja pior porque sabemos o quanto ele é desconhecido, o que é um problemão. A gente nota como a reação em um e outro lugar é diferente. É um pouco dessa comoção e do nosso senso de responsabilidade. O melhor que eu posso fazer hoje é informar esse resultado. Se daqui a um tempo vai aparecer que não era exatamente assim, ok, o conhecimento evolui”, afirma.

A Epicovid, pesquisa coordenada por Hallal na Universidade Federal de Pelotas, tem sido de grande importância para o desenvolvimento de ações de enfrentamento da doença no Brasil. A análise tem sido realizada em 133 municípios espalhados pelo país e, em cada uma das fases, cerca de 30 mil pessoas dessas cidades são testadas e analisadas.

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Segundo Pedro Hallal, o estudo já chegou a cinco conclusões essenciais até o momento:

–     Crianças contraem o coronavírus tanto quanto os adultos;

–     90% dos pacientes têm sintomas, mesmo que leves;

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–     A pandemia tem desigualdades regionais marcantes e cada região responde de uma forma em determinado período;

–     Os indígenas têm 5 vezes mais infecção do que as pessoas que se autodeclaram brancas;

–     O número real de pessoas infectadas na população é 6 vezes maior do que o que aparece nas estatísticas oficiais.

Para o pesquisador, a ameaça de que a pesquisa seja interrompida por falta de financiamento por parte do governo brasileiro pode ser uma das grandes gafes dessa pandemia. “As pessoas estão tão perdidas no enfrentamento da doença que talvez não se deem conta do tesouro que elas têm em mãos, que são os dados da Epicovid. Realmente será um mico histórico se o Brasil não conseguir seguir com a Epicovid”, conclui Pedro Hallal.

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