Abril Day: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Matheus Leitão

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog de notícias exclusivas e opinião nas áreas de política, direitos humanos e meio ambiente. Jornalista desde 2000, Matheus Leitão é vencedor de prêmios como Esso e Vladimir Herzog

A filantropia criativa em crises sanitárias

Davi Lago mostra o nascimento da filantropia no mundo e como ela pode nos ajudar em 2021

Por Davi Lago
Atualizado em 31 Maio 2021, 19h09 - Publicado em 31 Maio 2021, 19h08

Filantropia é compreendida em sentido amplo como ação voluntária pelo bem comum. Autoridades acadêmicas no tema afirmam que as ações filantrópicas cumprem cinco papéis principais: (1) suprir necessidades, especialmente quando outros setores falham em supri-las; (2) promover e defender uma causa, apontando a necessidade de reformas para o bem comum; (3) expressar valores culturais, servindo de instrumento para preservar tradições, culturas e identidades; (4) gerar transformação cívica, promovendo engajamento cívico e construindo a comunidade; e (5) impulsionar a vanguarda social, servindo de catalisador para experimentação, inovação e desenvolvimento no campo social. Este último aspecto é particularmente importante em crises sanitárias.

Por exemplo, foi na virada para o século vinte, em meio à crise sanitária causada pela tuberculose, que surgiu a filantropia em massa nos Estados Unidos. O Census Bureau estimou que em 1908 a tuberculose foi responsável por 11% de todas as mortes nos Estados Unidos e de 25% das mortes de crianças em Nova York. O governo americano era incapaz de resolver o problema sozinho e a ajuda filantrópica secular e religiosa estava aquém do potencial. O comitê do governo Theodore Roosevelt descreveu a filantropia de então como “esforços fracos e espasmódicos de caridade”, incapazes de responder ao flagelo da tuberculose.

A história mudou quando Emily Bissell, uma jovem voluntária da Cruz Vermelha Delaware, conheceu um projeto de caridade dinamarquês baseado em selos postais. Bissell convenceu a Cruz Vermelha estadunidense a vender selos postais de Natal em favor da Associação Nacional para o Estudo e Prevenção da Tuberculose, organização voluntária criada por médicos durante a crise. O projeto foi um sucesso absoluto arrecadando milhões de dólares em todo o país por vários anos. Autores como Olivier Zunz, em Philanthropy in America: a History, e Scott Cutlip, em History of Fundraising, afirmam que essas ações criaram a filantropia em massa e levaram à institucionalização de novas leis de saúde pública, políticas sanitárias e programas de educação.

Além disso, as novas técnicas de arrecadação de fundos tornaram possível uma mudança drástica nos hábitos de doação estadunidenses. A filantropia de massa foi o motor de uma colaboração nacional na batalha de longo prazo contra outras doenças potencialmente fatais. Entre 1904 e 1916, o número de dispensários e clínicas de tuberculose subiu de 18 para 455. Durante os mesmos anos, o número de associações voluntárias locais nas campanhas contra a doença saltou de 18 para 1.324. Assim, a Associação contra a tuberculose (hoje nomeada American Lung Association) propôs uma fórmula inteiramente nova para doador e beneficiário: as doações seriam instrumentos para construção de redes de segurança contra ameaças mais amplas.

Assim, as práticas solidárias contemporâneas superaram as concepções paternalistas e elitistas do século dezenove. O atual contexto pandêmico requer novas iniciativas para o enfrentamento da Covid-19 e o consequente desenvolvimento social. É uma questão de valores e comportamento. Afinal, a história da filantropia em qualquer cultura registra a agenda moral desta cultura ao longo das gerações. Robert L. Payton e Michael P. Moody afirmam que a história da filantropia é a “história social da imaginação moral”, ou seja, o registro de quais foram os padrões éticos sobressalentes de determinada sociedade, não em palavras, mas em ações.

* Davi Lago é pesquisador do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da Fundação São Paulo 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ABRILDAY

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.