Vacina em jovem e uso de máscara: Queiroga é tão obediente quanto Pazuello
Para agradar a Bolsonaro, ministro veta vacinação de adolescentes, critica a proteção obrigatória e dá sequência ao ‘um manda, outro obedece’ do antecessor
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello deixou o cargo sob várias críticas, sendo uma delas a de que era muito subserviente a Jair Bolsonaro nas questões relacionadas ao combate à pandemia. Já se tornou histórica a sua frase “um manda, outro obedece”, que usou ao ser questionado sobre o veto do presidente à compra de vacinas da CoronaVac, em outubro de 2020, da qual o próprio ministro estava tratando.
Pazuello, no entanto, já não precisa mais carregar esse fardo sozinho. Seu sucessor, Marcelo Queiroga, em menos de seis meses no cargo, já deu mostras de que é tão ou mais obediente ao presidente nessa questão, com um agravante: ele é médico e não um militar acostumado a obedecer ordens superiores, como o seu antecessor.
Em agosto, Queiroga já havia provocado polêmica ao criticar a obrigatoriedade do uso de máscaras, ecoando uma velha pregação de Bolsonaro. “Somos contra essa questão de obrigatoriedade. O Brasil é um país que tem muitas leis, e as pessoas infelizmente não as observam”, disse o ministro.
O volume de críticas recebido à época, no entanto, nem se compara à saraivada da qual tem sido alvo agora que decidiu emitir orientação suspendendo a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos que não tenham comorbidade ou não estejam encarcerados. Pior: deu a entender que a decisão foi inspirada em orientações de Bolsonaro. “O senhor tem conversado comigo sobre esse tema e nós fizemos uma revisão detalhada no banco de dados do Datasus”, disse na live semanal do presidente transmitida nas redes sociais na quinta-feira, 16.
A revisão a que se refere concluiu que mais de 3,5 milhões de jovens nessa faixa etária já foram vacinados desde agosto, quando a recomendação do ministério era para que isso começasse só em 15 de setembro. Para justificar a suspensão, citou “informações da literatura mundial” e “de sistemas de saúde como o inglês” e disse, para agradar ao presidente, que, como ele, “joga dentro das quatro linhas da Constituição”, ao declarar que a lei prevê a obrigatoriedade da vacinação apenas para um determinado tipo de jovem.
“Eu tenho minha opinião, mas a palavra final é dele (Queiroga). E ele segue ou não a minha opinião”, declarou Bolsonaro. “A minha conversa com o Queiroga não é uma imposição. Eu levo para ele o que eu vejo, o que eu leio, os meus sentimentos”, completou o presidente.
Sem máscara
Como se não bastasse, na mesma live, Queiroga concordou ainda com outra obsessão de Bolsonaro: acabar com a obrigatoriedade do uso da máscara, uma medida considerada pelos especialistas fundamental para conter o avanço da Covid-19.
“Fui agora à Itália, representando o Brasil no encontro do G-20, estava todo mundo sem máscara na rua. Fiz uma audiência bilateral com o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, era um ambiente aberto, um terraço, e eu estava de máscara, Ele disse: ‘Ministro, vamos tirar a máscara porque aqui não precisa’, contou Queiroga sobre sua viagem a Roma. “Quem quiser usa. Mas essa mania de querer criar lei para tudo. Daqui a pouco querem uma lei para obrigar o aluno a se vacinar para entrar na escola. Não precisa de vacina”, completou o ministro.
Nesta sexta-feira, após a ampla repercussão negativa de sua decisão sobre a vacinação de adolescentes, Queiroga negou à coluna Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, que tivesse obedecido ao presidente. “Bolsonaro não mandou nada. O presidente não interfere nisso daí”, afirmou.
Tentando desmentir ou não, a imagem que Queiroga vai consolidando é a de que ele, como Pazuello, é igualmente submisso a Bolsonaro, um conhecido negacionista da ciência, quando, por ser médico, deveria ser o seu contraponto.