Clique e Assine VEJA por R$ 9,90/mês
Imagem Blog

Maquiavel

Por José Benedito da Silva Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
A política e seus bastidores. Com Laísa Dall'Agnol, Victoria Bechara, Bruno Caniato, Valmar Hupsel Filho e Isabella Alonso Panho. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

Os evangélicos que criticam a indicação de André Mendonça para o STF

Pastora luterana diz que iniciativa fere o princípio do estado laico; líder de frente evangélica acha que apreço de Bolsonaro pela religião é ‘questionável’

Por Caíque Alencar 18 jul 2021, 15h23

Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para ocupar a cadeira deixada por Marco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal (STF), o atual advogado-geral da União, André Mendonça, não tem unanimidade entre religiosos para ter seu nome garantido na Corte. Embora tenha sido o escolhido por Bolsonaro para ser o ministro “terrivelmente evangélico” no tribunal, ele enfrenta críticas de colegas que compartilham de sua fé. Para esses líderes religiosos, o AGU tem o “notório saber jurídico”, mas as pedras no sapato são os seus posicionamentos baseados em princípios bíblicos, o temor de que a religião contamine o Supremo e a ruptura da barreira do estado laico.

A ponderação é feita pela teóloga Lusmarina Campos Garcia, pastora luterana e pesquisadora de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que afirma que não há nada que desabone André Mendonça do ponto de vista do “primor acadêmico”. Ela destaca, no entanto, que considerar a religião dele como critério para indicação ao STF atenta contra a cidadania e a liberdade religiosa. “Essa indicação submete a República aos interesses pessoais e eleitoreiros de uma pessoa. Por isso eu acho que foi uma má indicação e sou contra ela. A coisa pública não pode estar submetida a interesse pessoal”, afirma.

Para a religiosa, a presença de Mendonça, além de ser uma sinalização tendo em vista as eleições de 2022, vai servir para ecoar a voz de Bolsonaro no Supremo — ela avalia que isso fica claro principalmente pela orientação que o presidente deu para que Mendonça sugira começar as sessões da Corte  com uma oração pelo menos uma vez por semana. “Isso fere a laicidade do estado. E se eu quisesse colocar lá dentro alguém que fosse ‘terrivelmente candomblecista’? Essa indicação, do jeito que foi feita, é uma coisa que a gente não pode admitir”, diz a teóloga.

“Isso fere a laicidade do estado. E se eu quisesse colocar lá dentro alguém que fosse ‘terrivelmente candomblecista’?”

Lusmarina Campos Garcia, pastora luterana e teóloga
Continua após a publicidade

A opinião é compartilhada pelo pastor Ariovaldo Ramos, líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito e membro da Coalizão Evangélicos pelo Clima. Segundo Ramos, a religião de um indicado para ocupar vaga na Suprema Corte não deveria nunca ser um critério determinante. “O presidente colocou a religião como passível de representação, ao dizer que seria muito bom ter um ministro do STF ‘terrivelmente evangélico’. O presidente disse isso desconsiderando a laicidade do estado brasileiro e, isso sim, é terrível. Eu sou evangélico, mas eu não quero isso, não quero ninguém recebendo ou deixando de receber qualquer poder na República por ser da minha religião ou de religião qualquer”, afirmou.

Não quero ninguém recebendo ou deixando de receber qualquer poder na República por ser da minha religião ou de religião qualquer”

Ariovaldo Ramos, pastor e líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito

Ainda de acordo com o líder religioso, a promessa só não foi cumprida antes, com a indicação de André Mendonça em vez de Kassio Nunes Marques na primeira vaga aberta no governo Bolsonaro (a de Celso de Mello), para garantir que o presidente da República não fosse “jogado para fora do poder”. “O presidente disse isso lá atrás, mas, não cumpriu, porque antes de satisfazer aos evangélicos viciados pelo amor ao poder, e às benesses da lassidão de um governo corruptível, teve, tudo indica, de agradar o Centrão”, disse Ramos.

Continua após a publicidade

Interesse eleitoral

O líder da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito ainda vai além nas críticas e acusa Bolsonaro de ter um apreço pela religião que é “questionável”. “Esse movimento irresponsável e ilegal só pode ter como objetivo transformar os evangélicos, de vez, em curral eleitoral, apoiado por pastores e pastoras que, consumidos por postura autoritária, sonham que a tirania que exercem sobre o povo, que só queria Cristo, seja modo de governo.”

Desde que deixou a prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito movimentos para se aproximar de evangélicos. Essa fatia do eleitorado é uma das mais fiéis a Bolsonaro, mas agora essa posição confortável corre riscos com a entrada do petista no jogo eleitoral. Com a indicação de Mendonça ao STF, Bolsonaro pretende manter os evangélicos a seu lado — resta saber se a medida vai neutralizar as investidas do petista.

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.