Dez perguntas fundamentais ainda sem resposta no caso Prevent Senior
As denúncias graves contra a empresa exigem uma investigação bem mais aprofundada, com a participação de peritos médicos independentes

Nos últimos dias, a Prevent Senior virou algo de um conjunto impressionante e variado de denúncias. Boa parte dessas acusações vieram de um dossiê apresentado à CPI da pandemia por Bruna Morato, advogada de médicos e ex-médicos do plano de saúde (ela mesmo depôs à Comissão na última terça, 28). Fraude em pesquisa, omissões de óbitos causados por Covid-19, negação de vagas na UTI a título de economia, pressão para profissionais receitarem cloroquina e envolvimento com o “gabinete paralelo” da saúde do governo federal, entre outras. Fazendo uso do sigilo profissional, Morato se recusou a revelar a identidade dos acusadores em seu depoimento à CPI. Além dos senadores, outras autoridades devem se debruçar sobre o caso daqui para frente. A Assembleia Legislativa de São Paulo quer abrir sua própria CPI, o governador João Doria solicitou a entidades como o Cremesp a adoção de medidas e foi criada uma força-tarefa no Ministério Público para aprofundar as investigações. Considerando-se o tamanho da rede (a Prevent Senior tem mais de 500 000 beneficiários, grande parte deles idosos) e a gravidade das denúncias, é fundamental uma análise aprofundada e independente do escândalo, que tem ainda perguntar importantes a serem respondidas:
- Os denunciantes, via advogada Bruna Morato, afirmam que a Prevent Senior manipulou dados de um estudo sobre a cloroquina, subtraindo dele sete mortes de forma a atestar a eficácia desse medicamento nos tratamentos contra a Covid. A Prevent Senior diz que os dados do estudo estão corretos e que as sete mortes ocorreram em um período posterior ao da pesquisa. Quem está mentindo?
- Por uma série de falhas técnicas e omissões, o trabalho da Prevent Senior sobre cloroquina foi cancelado pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. A empresa já havia divulgado os resultados, mas não recorreu da decisão. Por que deixou de lado o assunto e não levou o caso à frente?
- Hoje, a Prevent Senior diz que o tal estudo era apenas “um acompanhamento observacional de pacientes”. Por que não deixou isso claro no ano passado, quando o próprio presidente divulgou com alarde os resultados do levantamento?
- Se era apenas um “estudo observacional”, por que submetê-lo à Comissão de Ética em Pesquisa?
- Por que a Prevent Senior insistiu na entrega de milhares dos chamados “kit cloroquina” mesmo após o fracasso de sua pesquisa sobre o assunto e do surgimento de estudos bem mais sérios apontando para a ineficácia do medicamento? Por que só agora, após as denúncias levadas à CPI, um dos donos veio a público reconhecer que cloroquina não cura a doença?
- A advogada Bruna Morato disse que ouviu dos médicos que são seus clientes que a Prevent Senior fez um pacto com o governo federal para ajudar na divulgação e defesa do chamado “tratamento precoce”. Que provas os acusadores têm a respeito disso?
- Fora os depoimentos desses médicos, via advogada Bruna Morato, existem outras provas que confirmam a denúncia de que o plano de saúde pressionava o corpo clínico a prescrever cloroquina?
- Omissões de ocorrências de Covid verificadas em alguns casos de óbito que vieram a público foram erros pontuais ou fazem mesmo parte de um esquema maior de subnotificação de mortes por coronavírus bancado pela Prevent Senior, conforme denúncia levada à CPI?
- Em depoimento à CPI no dia 22, o executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista, Júnior confirmou que a companhia orientou médicos a modificarem, após algumas semanas de internação, o código de diagnóstico dos pacientes que haviam dado entrada com Covid-19, mas já se encontravam curados da infecção e não representavam mais risco à população do hospital. Posteriormente, a assessoria de comunicação corrigiu a declaração, dizendo que a mudança ocorreu apenas no sistema interno de controle de leitos, sem prejuízo para as notificações oficiais de casos e óbitos por Covid enviadas as autoridades sanitárias. Por que órgãos de controle como a Agência Nacional de Saúde ainda não se mobilizaram para apurar se houve ou não comportamento irregular e, por consequência, a subnotificação?
- Por que a Agência Nacional de Saúde e o Conselho Federal de Medicina não fizeram nada a respeito do caso, quando já era público que a Prevent Senior havia adotado a prática de distribuir o “kit cloroquina” a milhares de pessoas?