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Nomofobia: a dependência do telefone celular. Este é o seu caso?

Cada vez mais as pessoas não conseguem desgrudar do smartphone e esse hábito pode trazer consequências físicas e psicológicas

Por José Alexandre Crippa
4 abr 2017, 13h07

Desde a metade dos anos 1990, o uso de aparelhos eletrônicos tem aumentado cada vez mais rapidamente. Segundo a União Internacional de Telecomunicações (UIT) já são mais de 7 bilhões de aparelhos celulares em uso no mundo, sendo esta  a maneira mais usada para acessar a internet. Com o advento dos smartphones, o aparelho já traz diversas facilidades muito além da câmera fotográfica e filmadora de alta resolução, como ampla acessibilidade a e-mails e redes sociais, pesquisas on-line, visualização de filmes e programas de TV, músicas, realização de transações financeiras e diversas outras possibilidades. Apesar de todas estas vantagens, algumas pessoas podem apresentar um padrão de uso problemático.

Antes da popularização do celular, outras dependências comportamentais haviam sido descritas: alimentar, exercícios, compra, trabalho (workaholics), jogo, internet e sexo. Mais recentemente, o termo nomofobia (uma abreviação, do inglês, para no-mobile-phone phobia) foi criado no Reino Unido para descrever o pavor de estar sem o telefone celular disponível. Na realidade, este neologismo atualmente tem sido muito utilizado para descrever a dependência (também conhecida como uso problemático ou compulsão) do telefone móvel.

As prevalências descritas do uso abusivo do celular variam amplamente, muito em decorrência da diversidade dos critérios diagnósticos utilizados e da variabilidade dos indivíduos estudados. As taxas estimadas de dependência de celular podem chegar até a 60% nos seus usuários. Um estudo brasileiro realizado pela pesquisadora Anna Lúcia King, da UFRJ, verificou que 34% dos entrevistados afirmaram ter alto grau de ansiedade sem o telefone por perto. Assim, com a enorme quantidade de pessoas com pleno acesso ao aparelho, estes índices são extremamente preocupantes.

Dependência precoce

Neste sentido, o ponto que mais chama a atenção aqui é que cada vez mais cedo inicia-se o uso do celular, com milhões de crianças (várias com cerca de dois ou três anos de idade!) e adolescentes com acesso livre, total e irrestrito. Sabe-se que o quanto antes ocorre uma dependência, piores são suas consequências físicas e psicológicas em longo prazo. Em termos comportamentais mais amplos, têm sido observado nestes jovens uma falta de habilidade nos relacionamentos interpessoais, com dificuldades no estabelecimento de vínculos de amizade e/ou afetivos plenos e duradouros.

Em nível neurobiológico, sabemos que existe um “sistema de recompensa cerebral” (SRC) que tem como função estimular comportamentos que colaboram com a manutenção da vida (como sexo, alimentação e proteção). Quando o SRC é ativado, com a liberação do neurotransmissor dopamina, isto proporciona imediatas sensações de prazer e satisfação. Tal qual para as drogas de abuso, as dependências comportamentais (incluindo a nomofobia), são capazes de levar a uma hiperatividade do constante SRC, podendo causar alteração no funcionamento cerebral. Entretanto, as consequências de longo prazo do funcionamento alterado pelo excesso do uso do celular ainda são incertas.

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Além disso, as pessoas que apresentam uso abusivo do celular têm maior chance de desenvolver transtornos psiquiátricos como ansiedade, depressão e sintomas de impulsividade, embora a relação de causa-efeito nem sempre seja fácil de ser estabelecida. Problemas físicos frequentemente ocorrem, incluindo fadiga, patologia ocular, dores musculares, tendinites, cefaleia, distúrbios do sono e sedentarismo. Além disso, é evidente a maior propensão em se envolver em um acidente automobilístico e de sofrerem quedas ao andar.

Sintomas da nomofobia

Portanto, as pessoas com uso problemático do celular apresentam diversos sinais e sintomas muito parecidos com a dependência de drogas:

  1. Fissura: a) usa o telefone celular para se sentir melhor, quando está pra baixo.
  2. Abstinência: a) quando não está com o aparelho fica preocupado e ansioso em perder chamadas ou mensagens; b) acha difícil desligar o aparelho em situações obrigatórias, como no avião ao decolar;
  3. Consequências negativas para a vida: a) atrasa em compromissos por ficar muito tempo no celular; b) gasta valores elevados na compra do aparelho e nas contas; c) ocupa-se demasiadamente com o celular quando deveria estar fazendo outras coisas; d) a produtividade no estudo e/ou trabalho reduz como resultado direto deste padrão de uso do celular; e) recebem mais multas de trânsito.
  4. Perda de controle: a) os amigos ou familiares reclamam do padrão de uso do celular, podendo atrapalhar os relacionamentos; b) permanece conectado ao celular por períodos muito maiores do que gostaria;
  5. Tolerância: a) aumento progressivo no tempo que fica usando o celular; b) incapacidade de gastar menos tempo usando o aparelho.
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Dicas

Então, se a primeira coisa que você faz quando acorda é olhar o seu celular; se checa o seu telefone de cada 5 a 30 minutos; se dorme com o celular no seu quarto (pior ainda se for do lado da cama); se sempre arranja uma desculpa para levar o celular para o banheiro (para o chuveiro, é mais grave!) e, se anda com ele na mão a maior parte do tempo, você pode ter dependência do celular. Assim, aqui vão algumas sugestões que poderão te ajudar:

  1. Não perca o seu sono
    Jamais leve o celular para a cama. Desligue-o e deixe ele fora do seu quarto. Se a sua desculpa é que você usa ele para despertar, compre um despertador.
  2. Acordou? Use a regra dos primeiros 45 minutos*
    Ao acordar, você deve se preparar para o dia que terá pela frente, ir no banheiro, preparar o seu café da manhã, se alongar, se vestir e arrumar. Se for casado (a), beije seu parceiro (a). Os primeiros 45 minutos são seus. Não cheque o celular antes disso.
    * Se você for mulher, amplie para 60 minutos.
  3. Carro ligado, celular desligado
    Você vai economizar em multas e reduzir drasticamente a chance de ter um acidente sério. Proteja você e os outros, motoristas e pedestres.
  4. Desligue o celular no seu período mais produtivo
    Ao longo de algumas horas, desligue o seu celular e coloque longe do seu alcance (numa bolsa ou gaveta). Só ligue quando completar o seu trabalho.
  5. Fique atento à criança com celular
    Fique atento ao padrão de uso e conteúdo que a criança acessa no celular e imponha limites com disciplina. Estabeleça os momentos e o tempo de uso que seu filho pode se dedicar esta atividade.
  6. Saia da Matrix
    Não deixe aquela máxima ser verdadeira para você: “O celular aproxima quem está longe, mas afasta quem está perto! ”. Em qualquer reunião; nas refeições; brincando com seus filhos; confraternizando com os amigos, tudo isso é mais importante que o seu celular. Viva no mundo real e dê atenção ao que há a sua volta e a quem te ama e se importa contigo.

Agora, se nada disso ajudar, talvez você precise de uma avaliação de um profissional de saúde mental. Mas neste caso, não se esqueça! Desligue o celular antes de entrar no consultório…

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José Alexandre Crippa
(Celio Messias/VEJA.com)

 

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