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Letra de Médico

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As lições de Florence Nightingale, ou o poder da atenção

Um novo estudo confirmou que o carinho humano e o auxílio fora do ambulatório têm um grande impacto no resultado do tratamento de câncer

Por Paulo Hoff
8 ago 2017, 13h36

Florence Nightingale ficou famosa ao levar um grupo de enfermeiras aos campos da batalha da Crimeia, em um empenho para dar um tratamento digno e humano aos soldados feridos nos campos de batalha. Seus esforços moldaram as bases da enfermagem profissional moderna, e muito contribuíram para a melhoria do tratamento em hospitais do mundo todo.

O encontro da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), realizado anualmente em Chicago, costuma ter as novas terapias contra o câncer como principais atrações. No entanto, em junho de 2017, um resultado dramático, não relacionado a nenhum medicamento, mas com muito a haver com a história de Florence, chamou a atenção de todo o mundo.

Estudo confirma benefícios de acompanhamento detalhado

Especialistas do Memorial Sloan Kettering, Hospital de Nova York, compararam o acompanhamento usual, essencialmente reativo, de pacientes com câncer, com o uso de um programa de software que permitia um acompanhamento mais detalhado e proativo dos sintomas usuais, em pacientes com esta doença. Não havia diferença entre os grupos em relação ao tratamento e ao número de visitas ao médico.

Melhoria na sobrevida

As informações mais sérias registradas pelos pacientes eram enviadas imediatamente por e-mail para enfermeiras, que retornavam ao paciente ou os encaminhava para atenção médica. Pacientes no grupo controle tinham o acesso regular a seus médicos. Para surpresa de muitos, o grupo acompanhado com o programa mais intenso não somente apresentou ganho em termos de qualidade de vida, menor número de hospitalizações, mas mais importante, teve melhora na sobrevida.

As possíveis explicações são muitas. O mais plausível é que o paciente americano normalmente tem pouco acesso a seus médicos fora das consultas, e um diagnóstico precoce de efeitos colaterais ou complicações resultou em tratamento mais longo, e, portanto, mais eficiente. O que chama a atenção é o grande impacto que esta conduta simples teve no resultado do tratamento. Em média, os pacientes viveram até 20% mais tempo no grupo experimental, sem a adição de nenhum novo tratamento.

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Experiência Brasil

No Instituto do Câncer do Estado de São Paulo temos uma experiencia similar, com o “Alô enfermeiro”, um canal para que os pacientes do hospital tenham acesso rápido por telefone, quando necessário. A avaliação dos pacientes é ótima, e muitas hospitalizações e complicações são evitadas.

Carinho humano e auxílio contínuo impactam no tratamento

O câncer é uma doença cruel, que afeta os pacientes e seus familiares de maneiras inesperadas. O tratamento também acaba por adicionar complicações e sintomas. O estudo americano confirma algo que já acreditávamos, que o carinho humano e a disponibilidade de auxílio fora do ambulatório têm um grande impacto no resultado do tratamento. Só não imaginávamos o real tamanho desta diferença!

Vivemos uma era de grandes avanços em relação ao câncer, com o descobrimento de medicamentos e procedimentos maravilhosos. Não podemos esquecer, no entanto, do poder da atenção, carinho e dedicação, e do quanto uma simples conversa pode adicionar ao tratamento. O que trouxe resultados no estudo americano não foi a alta tecnologia, mas as pessoas por traz da mesma.

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O exemplo de Florence Nightingale continua vivo, e a boa medicina precisa trabalhar o conceito de qualidade, humanização e multidisciplinariedade, particularmente no tratamento de uma doença tão grave quanto o câncer.

 

Letra de Médico - Paulo Hoff
(Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

 

Quem faz Letra de Médico

Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
Antonio Carlos do Nascimento, endocrinologista
Antônio Frasson, mastologista
Artur Timerman, infectologista
Arthur Cukiert, neurologista
Ben-Hur Ferraz Neto, cirurgião
Bernardo Garicochea, oncologista
Claudia Cozer Kalil, endocrinologista
Claudio Lottenberg, oftalmologista
Daniel Magnoni, nutrólogo
David Uip, infectologista
Edson Borges, especialista em reprodução assistida
Fernando Maluf, oncologista
Freddy Eliaschewitz, endocrinologista
Jardis Volpi, dermatologista
José Alexandre Crippa, psiquiatra
Ludhmila Hajjar, intensivista
Luiz Rohde,
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Mauro Fisberg, pediatra
Miguel Srougi, urologista
Paulo Hoff, oncologista
Paulo Zogaib, medico do esporte
Raul Cutait, cirurgião
Roberto Kalil – cardiologista
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra
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Sergio Podgaec, ginecologista
Sergio Simon, oncologista

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