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Uma tragicomédia governamental

A ideia do veto ao gasto de R$ 50 milhões com distribuição de absorventes femininos no SUS se disseminou como um vírus no Planalto — e ninguém contestou

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 out 2021, 08h30

Com a equipe que tem, Jair Bolsonaro não precisa de mais adversários. O caso dos absorventes femininos é exemplar.

Ele vetou uma despesa de R$ 50 milhões por ano aprovada pelo Congresso, em regime de urgência, para possibilitar a distribuição desses produtos de higiene a mulheres jovens e pobres no Sistema Único de Saúde.

É questão de saúde pública, lembrou ontem o presidente do Senado Rodrigo Pacheco: “Pautei no Senado e aprovamos rapidamente porque queríamos transformar essa realidade. São impressionantes as histórias de proteção com papel de jornal e miolo de pão por adolescentes e mulheres carentes.”

A ideia do veto se disseminou como um vírus político no Palácio do Planalto, onde ocorre uma hipnose coletiva  diante do derretimento da candidatura de Bolsonaro à reeleição. O chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, fingiu que não era com ele. Outros ministros, também. Os assessores jurídicos se limitaram a preencher o “formulário” para emoldurar a decisão presidencial.

Bolsonaro assinou por razões inexplicáveis. Única explicação plausível, talvez, fosse uma certa ojeriza a “dar privilégio” a pobre que “acaba votando em comunista” — coisa com a qual, possivelmente,  ele não concorda.

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O presidente do Senado reagiu com fina ironia: “O Congresso está pronto para contribuir com o governo nas soluções de cunho fiscal, mas considero desde já que esse veto é candidatíssimo a ser derrubado”

Damares Alves, ministra da Mulher e da Família, tentou socorrer o chefe. E conseguiu aquilo que parecia impossível: piorou a situação. Deu uma dimensão tragicômica à própria atuação e à forma como Bolsonaro governa: “A gente tem que decidir, a prioridade é a vacina ou é o absorvente?”

Ela administra um ministério virtual, mas com orçamento anual de R$ 514 milhões — valor dez vezes superior  ao custo estimado para distribuição de absorventes femininos no SUS.

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Damares sonha com uma vaga no Senado, na eleição do ano que vem. Na biografia, além de currículo turbinado, ostenta o registro de 15 minutos de fama numa reunião ministerial.

Foi em abril do ano passado, quando a pandemia já superlotava hospitais. Ela apresentou uma ideia para agradar o chefe: mandar prender governadores e prefeitos que limitassem a circulação de pessoas nas cidades. Recuou, mais tarde, quando soube que sua ideia  continha um risco potencial de queda do governo, eventualmente com prisão para os envolvidos.

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