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Informação e análise
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FHC e Lula: conversa é a arte da política

Não se deve subestimá-los. Eles fazem política em privado, engolem palavras em público e saem sorrindo como quem acabou de fazer uma refeição completa

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 Maio 2021, 09h20

Boa comida, bom vinho, boa conversa — coisa rara, principalmente em tempos de pandemia.

Curiosamente, há quem não goste. E não são poucos, pelas reações observadas no PT, no PSDB, no DEM, no PCdo B, no Psol, e no Palácio do Planalto ao encontro dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula, na semana passada.

Infindável quantidade de tinta, papel e dígitos foram gastos nas críticas às “mais de três horas de conversa” entre os líderes políticos, que se conhecem há pelo menos cinco décadas.

O PT não gosta de recordar, mas já houve momentos em que Lula não só fez campanha, como também subiu em palanques e fez discursos representando Fernando Henrique.

Foi em 1978, no ABC paulista, sob a ditadura, numa época assim descrita no ácido humor de Nelson Rodrigues, dramaturgo, então visto como ícone do reacionarismo: “A nossa realidade está muito pobre, muito vazia, sem um certo apelo dramático. Ninguém quer morrer, ninguém quer se suicidar…”

Na redemocratização, ficou eternizada a imagem da alegria de Fernando Henrique ao ajudar Lula desajeitado na emoção de vestir a faixa presidencial, na civilizada sucessão de 2003.

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Notável, hoje, é que Jair Bolsonaro, presidente aos 66 anos e depois de três décadas na política, esteja demonstrando extraordinária competência em reunir no bloco oposicionista tanta gente experimentada na arte de conversar para derrotar o adversário nas urnas.

Fernando Henrique, 89 anos, Lula, 75, Sarney, 91, e Temer, 80, são políticos instruídos na técnica de falar sobre flores, urnas e democracia até quando ficam mudos.

Aprenderam, por exemplo, vendo Tancredo Neves interromper um assessor que falava do “resto dos deputados” do partido, e sugerir: “Meu filho, nunca fale do ‘resto’. Fale sempre ‘dos demais'”.

Eles sobreviveram a personagens como José de Magalhães Pinto, banqueiro, ex-governador de Minas, que apostou no golpe de 1964 como atalho para chegar ao centro do poder. Não conseguiu, claro, mas continuou insistindo.

Tentou até 1978, quando Lula foi à rua fazer campanha para eleger Fernando Henrique ao Senado, pelo MDB. Na época septuagenário, Magalhães Pinto conversava até com o principal adversário mineiro, Tancredo Neves. Projetava sua candidatura a deputado federal na expectativa de, adiante, se tornar candidato presidencial na oposição ao governo do general-presidente João Figueiredo.

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À saída de um almoço-conversa, em Brasília, encontrou jornalistas. Um deles perguntou-lhe se já não se considerava velho para tamanha aventura política. “De maneira nenhuma”— respondeu. “Aliás, se quiserem vir comigo, estou indo agora mesmo tomar vacina contra paralisia infantil.”

Sete anos depois, Magalhães Pinto estava fora do páreo. Seu adversário, Tancredo Neves, se elegeu presidente — pelo voto indireto — contra Paulo Maluf, derrotando o governo Figueiredo.

Tancredo havia feito uma campanha de rua para uma eleição indireta. Levou para o palanque Fernando Henrique e Lula, entre outros. Na hora do voto indireto no colégio eleitoral, em 1985, o PT de Lula preferiu marcar sua posição com a abstenção.

Tancredo se elegeu por ampla maioria no Congresso, onde se conversa sobre tudo, inclusive política. E  encerrou o ciclo de generais-presidentes. Doente, nem tomou posse. Morreu e quem governou foi o vice Sarney (de 1985 a 1990).

Treze anos depois, quando Fernando Henrique passou a faixa presidencial a Lula, Sarney se elegeu presidente do Senado. Foi o principal aliado de Lula no Congresso durante oito anos.

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É recomendável não subestimar Fernando Henrique, Lula, Sarney e Temer. Eles fazem política em privado, engolem palavras em público e saem sorrindo como quem acabou de fazer uma refeição completa.

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