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Assustado com Lula, Bolsonaro ataca Luiza Trajano e Magalu

Insônia com os riscos eleitorais, talvez, explique a ofensiva contra a acionista de uma das empresas mais lucrativas, que emprega cerca de 30 mil pessoas

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 nov 2021, 08h00

Jair Bolsonaro disse ontem que uma “empresária socialista” havia perdido “R$ 30 bilhões agora, quando anunciou amor pelo nove dedos.” Não citou o nome, mas os seus seguidores entenderam como referência a Luiza Trajano, acionista-controladora da rede de varejo Magazine Luiza, uma das empresas brasileiras mais lucrativas nos últimos quatro anos (2016-2020).

A história de sucesso dessa empresária de Franca (SP) garantiu-lhe, aos 73 anos, destaque numa recente lista anual de personalidades da revista Time (EUA), que pediu a Lula para apresentá-la aos seus leitores. “Em um mundo corporativo ainda dominado por homens, Luiza Trajano conseguiu transformar o Magazine Luiza em um gigante do varejo”, ele escreveu.

Num país onde mulheres são maioria (53%) no eleitorado, mas têm pouca visibilidade na política, ela passou a frequentar a imaginação de alguns dirigentes de partidos, inclusive no PT, como candidata “ideal” à vice-presidência da República. E sempre em chapa presidencial liderada por homens.

Bolsonaro, da  forma grosseira como costuma agir em relação a mulheres, fantasiou-a como vice de Lula, cujo espectro o mantém insone no Palácio da Alvorada há sete meses, com vantagem média de vinte pontos nas pesquisas eleitorais.

Ontem, de passagem por Recife, Luiza Trajano ironizou: “É porque precisam de uma mulher para ser presidente ou vice, porque nós mulheres somos mais famosas agora, né?, então, eles [homens] falam isso.” Contou que nunca esteve com Lula, “nunca fui convidada para ser vice, não sou candidata a nada e nunca recebi nenhum convite para ser candidata.”

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Explicou com mordacidade sua visão “socialista” do Brasil: “Quando eu digo que sou a favor do Bolsa Família, eu sou esquerda; quando digo que sou a favor da privatização dos Correios, eu sou direita.”

Na prática, Bolsonaro abusou do cargo de presidente para difundir informação potencialmente danosa — e de forma dissimulada — sobre uma companhia privada, com ações negociadas em Bolsa de Valores e responsável pelo emprego de mais de 30 mil pessoas em 800 municípios.

Numa hipótese benigna, a insônia com os riscos eleitorais, talvez, explique seu ataque à empresa privada e à acionista-controladora.

Vista do próprio governo, das mesas de operações da BB Investimentos, o braço do Banco do Brasil para o mercado de capitais, a  rede Magalu tem situação exatamente oposta à insinuada por Bolsonaro. “A capacidade de manter forte crescimento de vendas em diferentes cenários é o que a diferencia das demais companhias do setor” — qualificou a corretora BB Investimentos, em setembro, ao analisar o desempenho da empresa no primeiro semestre.

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Entre julho e setembro, a rede lucrou R$ 22,6 milhões, uma expressiva queda em relação ao resultado do mesmo período em 2020, que somou R$ 215,9 milhões. Empresa e analistas de mercado atribuem esse expressivo declínio nos lucros à corrosão no poder de compra da clientela, efeito de uma inflação crescente e disseminada, ou desgovernada, acompanhada pela alta nas taxas de juros.

Porém, entre aliados do governo no Congresso, houve quem interpretasse o ataque de Bolsonaro à empresária Luiza Trajano de forma diferente. Foi percebido como uma espécie de “auxílio emergencial”, indireto e encoberto, a “amigos” comerciantes  pressionados por dificuldades na competição com a Magalu em cidades do interior.

Lembrou-se até do presidente-candidato no ano passado, no auge da pandemia, fantasiado de garoto-propaganda de medicamentos do “kit-covid”, mundialmente reconhecido pela ineficácia. Em alguns casos, o lucro das empresas beneficiadas aumentou mais de 700%.

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