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Jorge Pontes

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Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.
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PF de Recife quebra paradigmas na repressão ao tráfico

Operação Além-Mar aplicou uma moderna abordagem capitalista no combate ao crime

Por Jorge Pontes
Atualizado em 19 ago 2020, 17h09 - Publicado em 19 ago 2020, 17h05

A Operação Além-Mar, deflagrada pela Superintendência Regional da Polícia Federal em Pernambuco, nessa terça-feira, 18, talvez represente um marco para o enfrentamento ao tráfico de drogas na Região Nordeste.

Com suas delegacias especializadas na repressão a entorpecentes – as DRE’s – historicamente inclinadas a alvejar o tráfico local de Cannabis sp, com enfoque em pequenas apreensões nas capitais e na realização de grandes operações de erradicação de pés de maconha, que são deflagradas com a mesma receita, há décadas, todos os anos, no interior dos estados de Pernambuco e Bahia, tendo como quartéis generais – polos operacionais estratégicos – o semiárido daquela região, a PF pernambucana deflagrou uma operação que quebrou definitivamente os velhos paradigmas locais que produziam um eterno “mais do mesmo”, sem grandes variações de qualidade, do ponto de vista da desarticulação das atividades de plantio, distribuição e venda da droga, na região em questão.

Focando agora no tráfico internacional de cocaína, e aplicando uma moderna e atualizada abordagem capitalista da repressão ao tráfico de entorpecentes, a Além-Mar foi de fato muito além da perseguição e apreensão da droga propriamente dita.

A operação conheceu e desarticulou uma organização criminosa estratificada, que agia em 13 unidades da federação, trazendo cocaína de países produtores na América do Sul e intermediando sua exportação para França, Holanda, Espanha e Cabo Verde.

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Na ação policial que envolveu a atuação de aproximadamente 640 policiais federais – em 13 estados – foram realizadas 33 prisões, 139 buscas e apreensões, onde foram apreendidos 3 helicópteros, 2 aviões, 3 embarcações, 52 HD’s, 74 celulares, 55 carros de luxo e 400 mil Reais em dinheiro.

Interessante ressaltar a departamentalização da inteligência da ação, que abordou os alvos como quatros ORCRIM’s estanques – embora sistematizadas – sendo que duas destinadas ao tráfico de entorpecentes propriamente dito, a terceira destinada à lavagem de dinheiro e a quarta destinada às operações de logística do transporte rodoviário.

Ao atingir a estrutura financeira da ORCRIM, ao atacar o dinheiro, a fortuna e os bens de luxo amealhados, dinamita-se um grande quinhão dos frutos obtidos com o que a organização já produziu, transportou, distribuiu e exportou, em drogas, durante considerável parte de sua existência, tanto no Brasil como no exterior.

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O que seria inatingível – uma volta ao passado das ações criminosas – se torna possível com essa visão capitalista da repressão ao tráfico.

Outro ponto de relevo foi o olhar mais detido – da PF – sobre a engenharia e o funcionamento das rotas como operação nodal (e protagonista) da ORCRIM. A análise de três modais distintos de transporte – rodoviário, aéreo e marítimo – foi um plus da inteligência da Além-Mar, que produziu uma diferença positiva para o entendimento sistemático da atuação dos atores envolvidos.

A bem da verdade, hoje em dia, no pós 11 de Setembro, tanto no tráfico de drogas como no de armas, passando pelo de seres humanos e o de espécies protegidas da fauna silvestre, a elaboração, o teste e a utilização de rotas internacionais seguras é uma das mais importantes e elaboradas atividades das organizações criminosas que se dedicam ao contrabando em geral.

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Sem rotas seguras e efetivamente testadas, a roda desses crimes não gira.

Por oportuno, há alguns ingredientes fundamentais para o sucesso de uma investigação de tráfico de drogas. O primeiro é controlar a ansiedade e o imediatismo que nos fazem, em várias ocasiões, acreditar – erradamente – acerca do momento exato de deflagração da operação repressiva. Outro ponto de central importância é a necessária despreocupação e total desapego em relação às estatísticas de apreensão de drogas. A polícia que se foca em quantidade de drogas apreendidas abre mão de conhecer a estrutura da organização criminosa investigada e, por conseguinte, atinge apenas o primeiro andar do edifício da criminalidade, prendendo tão somente os motoristas de caminhão que transportam a droga.

Uma boa coordenação com o Ministério Público Federal e com o Judiciário, além da instrumental cooperação – em tempo real – com nossas congêneres no exterior, ajudaram a fazer da Além-Mar uma operação policial que já nasceu histórica.

Enfim, abandonar o varejo das apreensões de drogas, e priorizar a busca obsessiva pelo topo (e o lucro) das quadrilhas, as penthouses das organizações criminosas, é o que deve nortear sempre o trabalho da Polícia Federal.

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