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Woody Allen destrincha desde o sucesso até a sua ruína em autobiografia

O livro tem a espirituosidade típica do cineasta. Mas é, na verdade, uma carta-testamento sobre a denúncia que acabou com sua carreira

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 14h22 - Publicado em 20 nov 2020, 06h00

Entre as coisas que Woody Allen considerou ser na vida, incluem-se ídolo do beisebol, detetive particular vivido e mundano, mágico assombroso, astuto jogador de pôquer profissional, dramaturgo de respeito, talento do jazz e até gângster, à moda de James Cagney ou Edward G. Robinson — que, como criminosos, eram ótimos atores. Entediado em uma escola “para professores com problemas de aprendizado”, Allen passou anos matando aula e indo se refugiar delas nas sessões duplas dos cinemas de bairro. De forma que o garoto que, sim, era bom no beisebol e esperto no pôquer, fazia truques de mágica e tocava clarinete imaginava seu futuro de acordo com o que via nos filmes. O surpreendente é que, por um caminho mais ou menos tortuoso, Allen realizou quase todos os sonhos da infância, ou pelo menos aqueles que não envolviam atividades ilegítimas: jogou bola em estádios (por razões beneficentes, não atléticas), seus shows de jazz lotaram (ele se reconhece um clarinetista sofrível), embolsou dinheiro em mesas de pôquer com celebridades (atores de sua imensa agenda). Ganhou a briga, enfim, com sua eterna arqui-inimiga — a realidade. Ou pelo menos por um bom tempo. A certa altura, ela invade as páginas de Woody Allen — A Autobiografia (Globo Livros; tradução de Santiago Nazarian; 328 páginas; 49,90 reais) e não vai mais embora.

Antes de chegar ao elefante na sala — a acusação feita em 1992, por sua ex-namorada Mia Farrow, de que ele teria molestado sua filha Dylan, então com 7 anos —, as memórias de Allen são puro deleite. O caminho pelo qual ele se estabeleceu como um dos grandes cineastas americanos da década de 70 em diante começou na escrita, criando gagues para humoristas e bolando tiradas para gente famosa.

Esse seu traquejo para o espirituoso transborda dos primeiros capítulos. Está no modo como descreve os pais (“discordavam em todos os assuntos, exceto Hitler e meu boletim”, mas “amavam-se da forma deles, uma forma conhecida talvez apenas por algumas tribos caçadoras de cabeças em Bornéu”) ou a si mesmo (“a concepção de que sou um intelectual é tão tola quanto o Monstro do Lago Ness, já que não tenho um neurônio intelectual em minha cabeça; o que eu tenho são óculos de aros pretos”). Às vezes, o engraçado vem temperado pelo doce — quando diz ter amado a irmã Letty desde o dia em que ela nasceu, quando devaneia sobre as ex ou quando reafirma e exalta sua paixão por Soon-Yi, com quem está casado há mais de vinte anos.

E então chega-se ao que, embora ele negue, parece ser a verdadeira razão desta autobiografia: os vários desmoronamentos de sua vida pessoal sob a ação das acusações feitas, e duas décadas depois renovadas, por Mia Farrow, Dylan e o filho Ronan. Allen dá sua versão pormenorizada dos acontecimentos deflagrados pelo seu namoro com Soon-Yi, que era filha adotiva de Mia; reproduz ipsis litteris as conclusões das duas longas investigações paralelas (uma delas, contratada por Mia) que afirmaram não ter havido nenhuma impropriedade; descreve as várias “bandeiras vermelhas” no comportamento de Mia.

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Como ele próprio admite, são pequenas as chances de que os partidários da versão dela venham a mudar de ideia. Aos 84 anos, com a carreira cancelada, Allen deixa em A Autobiografia o que soa, melancolicamente, como uma carta-testamento a quem interessar possa.

Publicado em VEJA de 25 de novembro de 2020, edição nº 2714

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