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Por Coluna
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Eu, Daniel Blake

Pessoas pequenas. É delas que o inglês Ken Loach – diretor célebre pelo naturalismo rigoroso e pelo coração grande – se ocupa neste drama premiado em Cannes

Por Isabela Boscov Atualizado em 12 jan 2017, 15h23 - Publicado em 8 jan 2017, 17h42

É um daqueles impasses que a burocracia é mestra em criar: Daniel Blake (Dave Johns), carpinteiro sessentão, está parado em razão de um infarto. Os médicos ordenam que ele passe alguns meses em recuperação. O serviço de seguridade social discorda: em uma entrevista surreal, Daniel crava menos que os 15 pontos necessários para receber o auxílio-saúde. Presumivelmente, não sofrer de incontinência anula os riscos de um miocárdio fraco. Daniel se pendura ao telefone, e não chega a lugar nenhum. Vai ao posto de atendimento e descobre que está em um labirinto concebido de forma a não oferecer saída. Mais: arruma briga ao interceder em favor de uma mãe solteira, com duas crianças, que perdeu a entrevista por ter se atrasado alguns minutos. Katie (Hayley Squires) foi realocada para o norte da Inglaterra por falta de moradia popular em Londres. Não conhece a cidade, pegou o ônibus errado. A pessoa à sua frente lhe cedeu o horário. Mas regras são regras, e Daniel, Katie e as crianças são expulsos do posto no braço. Eis um dos aspectos mais cortantes de Eu, Daniel Blake, já em cartaz no país: a truculência com que o Estado mantém apartados de si os cidadãos – em especial os que mais necessitam dele.

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(Divulgação)

Eu, Daniel Blake deu ao diretor inglês Ken Loach sua segunda Palma de Ouro em Cannes (a primeira foi em 2006, por Ventos da Liberdade). O filme é intenso, comovente. Mas a premiação é curiosa, já que este é um Loach típico, na forma e no conteúdo. Nele há tudo o que o diretor de 80 anos e mais de cinquenta de carreira sempre teve de melhor: o naturalismo rigoroso das atuações e da ambientação; os atores que parecem ter sido encontrados nas ruas vivendo os seus papéis; o drama central concentrado até o ponto de saturação. Há também o habitual socialismo romântico de Loach, que atribui ao capitalismo o desamparo das pessoas pequenas. O que sempre redime o diretor do esquematismo, porém, é a sinceridade da sua crença em um sistema ideal, que emane dos mais nobres princípios humanistas.

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(Divulgação)

Assim, se o Estado maltrata gente como Daniel e Katie, pelo menos existe uma rede espontânea que ajuda essas pessoas a se erguer dos tombos: vizinhos, ex-colegas de trabalho, jovens na mesa ao lado no cibercafé, o gerente de um mercadinho se dispõem a doar um minuto do seu tempo, uma pequena atenção, uma gentileza. Entre Daniel e Katie, a rede que se forma não é assim tênue nem casual. A cada visita que Daniel faz à casa da jovem, ora para cuidar das crianças, ora para reparar a fiação, mais o vínculo se aprofunda. Loach afasta qualquer sugestão de natureza romântica ou mesmo paternal. É de uma amizade verdadeira que ele trata aqui, forjada pelos piores momentos e pelos melhores sentimentos. Sem querer, ele meio que invalida suas próprias posturas ideológicas. Não é deste ou daquele sistema que se precisa; é de um coração como o do diretor.

Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 11/01/2017
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2017

Trailer

EU, DANIEL BLAKE
(I, Daniel Blake)
Inglaterra/França/Bélgica, 2016
Direção: Ken Loach
Com Dave Johns, Hayley Squires, Sharon Percy, Stephen Clegg
Distribuição: Imovision

 

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