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Por Coluna
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Oscar 2017: Estrelas Além do Tempo

Um filme bem-comportado e divertido sobre a tarefa muito árdua de desbravar território

Por Isabela Boscov Atualizado em 2 fev 2017, 20h18 - Publicado em 2 fev 2017, 20h13

De vez em quando, só sapateando mesmo: a cena em que Taraji P. Henson finalmente chega no limite e, às lágrimas, tem um faniquito na sala dos engenheiros da Nasa – por ter de tomar café de um bule à parte, por ter de fazer peregrinações diárias dentro do campus para ir até o banheiro segregado, por o chefe (Jim Parsons, de The Big Bang Theory) lhe roubar o tempo todo o crédito pelo trabalho – é uma das grandes satisfações de Estrelas Além do Tempo. E, no entanto, é a cena menos “real” e mais “cinema” do filme; é feita para proporcionar à plateia uma catarse que a personagem verdadeira, a matemática Katherine G. Johnson, dificilmente poderia desfrutar. Não foi com choro nem desânimo que Katherine e as outras protagonistas conseguiram se impor sobre duas desvantagens que então, no comecinho da década de 60, eram virtualmente insuperáveis – a de serem mulheres e negras. Foi fazendo um trabalho tão superlativo, inovador e competente que, a certa altura, tornou-se impossível continuar a deixá-las para trás. Estrelas Além do Tempo é um filme muito certinho e bem-comportado. É uma graça, e é muito terno. Como cinema, carece um tantinho de imaginação e de senso de aventura. Mas tem um mérito incontornável: nunca é demais lembrar das pessoas que tiveram de brigar todos os dias para conquistar coisas que hoje são tidas como certas (ou quase isso). Pessoas assim valentes abrem avenidas. Mas é das trilhas no mato que o filme se ocupa – das dificuldades infinitas, tanto as banais como as colossais, que Katherine e suas colegas Dorothy Vaughn (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe) tiveram de enfrentar para alargar seus horizontes.

Estrelas Além do Tempo
(Hopper Stone/Divulgação)

Estrelas Além do Tempo se passa em 1961, quando o QG da Nasa ainda estabelecido em Langley, na Virgínia – então um Estado segregado entre brancos e negros – estava em atividade febril na tentativa de tirar do papel, e lançar no espaço, o projeto Mercury. Enquanto John Glenn e os outros astronautas esperavam os engenheiros e cientistas quebrar a cabeça para colocá-los em órbita da Terra, os soviéticos estavam já dois passos à frente. Computadores não havia; um IBM monstruoso (e com capacidade de processamento muito inferior à do seu celular) estava sendo montado a duras penas em Langley, e a montanha de contas gerada pelo projeto era feita no muque, por centenas de calculistas. Muitas eram mulheres; durante a II Guerra, sem força de trabalho masculina disponível, a Aeronáutica começara a empregá-las. Entre as mulheres, havia as calculistas negras, numa sala à parte em um porão lá nos confins do campus, onde a srta. Mitchell, a supervisora branca (Kirsten Dunst), pisava como quem quisesse jogar fora os sapatos depois. A srta. Mitchell tem uma mártir; Dorothy, que supervisiona a divisão com o mesmo cargo (ou seja, sem ele) e com o mesmo salário (bem mais baixo) das outras calculistas, entre as quais estavam as hiperqualificadas, mas completamente ignoradas, Katherine e Mary.

Estrelas Além do Tempo
(Hopper Stone/Divulgação)

A pressão de fazer o projeto Mercury funcionar, porém, serviu para obrigar as chefias a aproveitar o talento intelectual onde ele existisse, ainda que a contragosto – e, como o melhor de Estrelas é justamente os diferentes caminhos que Katherine, Dorothy e Mary percorreram, deixo ao filme a tarefa de contar como foi esse percurso. O elenco é o trunfo indiscutível; eu diria que ainda não é hora de Janelle Monáe trocar a carreira de cantora pela de atriz, mas Octavia Spencer é uma maravilha – e Taraji P. Henson e Kevin Costner, como o chefe de engenharia, vêm logo atrás. Estrelas Além do Tempo faz muito bom uso também da sua simpatia (esta, a qualidade do diretor Theodore Melfi, de Um Santo Vizinho), da trilha sonora com a sensacional música negra do período, e sobretudo do humor: não é em tom dramático, e sim em tom de peripécia, que o filme recria a trajetória das três matemáticas. É divertido e às vezes é também comovente. Mas ali, na hora, de verdade, deve ter sido é de chorar.

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Estrelas Além do Tempo
(Hopper Stone/Divulgação)

Obs.: Estrelas Além do Tempo é adaptado de um livro-reportagem homônimo da americana Margot Lee Shetterly, filha de um engenheiro negro da Nasa no campus da Virgínia. Margot nasceu em 1969 e cresceu ali, achando que todos os negros se tornavam engenheiros, matemáticos, físicos ou cientistas espaciais, porque sua família convivia com dezenas de outras famílias assim. Essa é a avenida que Katherine, Dorothy, Mary e outros como elas abriram.


Trailer

ESTRELAS ALÉM DO TEMPO
(Hidden Figures)
Estados Unidos, 2016
Direção: Theodore Melfi
Com Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monáe, Kevin Costner, Jim Parsons, Kirsten Dunst, Mahershala Ali, Glenn Powell, Olek Krupa
Distribuição: Fox

 

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