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Por Coluna
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No clima de Tarantino e “Mindhunter”? Crimes verdadeiros no seu streaming

O filão oferece desde histórias aterradoras e personagens fascinantes ou inquietantes até casos bem-humorados

Por Isabela Boscov 24 ago 2019, 20h16

O Anjo

Onde: Looke

Cachos loiros, lábios cheios, rosto inocente: o adolescente Carlos tem mesmo um ar angelical – e aí está um caso em que as aparências enganam, e muito. Apoiado em um desempenho sensacional do jovem Lorenzo Ferro, o diretor Luis Ortega faz de O Anjo um filme vibrante, colorido, e também vertiginoso na maneira como acompanha a virada súbita de seu protagonista, que migra do péssimo comportamento para a sociopatia plena a partir do momento em que encontra um companheiro ideal (Chino Darín, filho de Ricardo Darín) para suas, digamos, aventuras. O diretor recupera assim, numa narrativa tão vigorosa quanto imprevisível, um personagem que chocou a Argentina no início dos anos 70 e se tornou um dos nomes mais célebres da crônica policial do país. A trilha, com versões brega argentinas de sucessos pop, é uma atração à parte.

O Anjo
El Angel, 2018 (Pagu/Divulgação)

Poderia Me Perdoar?

Onde: Looke

A escritora Lee Israel era um ouriço: espinhos por toda parte, e em cada espinho uma dose de veneno. Antes autora de certo prestígio, Lee adentrou os anos 90 em baixa total. Viu-se, assim, cinquentona, solitária e dura. Entra em cena o oposto complementar de Lee: cinquentão como ela, também gay e também sem um tostão para chamar de seu, Jack Hock (Richard E. Grant) era no entanto um bon vivant que vivera de flanar e namorar. Mas já perdera o viço, e precisava tanto de uma amizade que tratou de se encantar com os modos rudes e o esnobismo intelectual de Lee. Das voltas desse acaso, surgiu um outro: a escritora descobriu ser capaz de escrever cartas que imitavam à perfeição as tiradas espirituosas da correspondência de Dorothy Parker, ou de Noël Coward, em falsificações que passavam fácil por artigos reais. Eram tão bons os seus textos que, ainda que não fossem genuínos, mereceriam sê-lo. Rica, Lee não ficou. Mas, enquanto o esquema durou, viveu com conforto – ainda que em sobressalto constante, com medo de ser desmascarada. Quinze anos depois de o ser, faturou de novo com a ideia, ao publicar a autobiografia em que se baseia esta modesta mas competente comédia trágica.

Poderia Me Perdoar?
Can You Ever Forgive Me?, 2018 (Fox/Divulgação)

Aliança do Crime

Onde: Amazon

James “Whitey” Bulger era um sujeito que exalava ameaça. Durante as décadas de 70 e 80, ele usou o terror que era capaz de instilar e praticar para dominar a hierarquia criminosa de Boston, controlando qualquer transação suja, ilegal ou violenta que acontecesse na cidade. Condensar essa capacidade de intimidação e coação é a tarefa de Johnny Depp. Não faltam oportunidades também para os coadjuvantes: Benedict Cumberbatch é de uma ambivalência magistral como o irmão senador (sim, isso mesmo) do bandido, e é no rosto de Jesse Plemons e Rory Cochrane, estupendos, que se vê como até para os parceiros de Whitey era aterradora a sua violência. Joel Edgerton interpreta um personagem que é crucial: nos anos 70, quando a ordem era pôr fim à  máfia, o agente John Connolly, que crescera com os Bulger, achou que seria ótima ideia recrutar Whitey como informante. Connolly faria boa figura com a chefia, e Whitey ganharia aquela força para eliminar a concorrência ítalo-americana. A dúvida é se Whitey de fato forneceu qualquer informação, ou apenas promoveu seus interesses: são incontornáveis as evidências de que vários agentes e a Procuradoria tinham pleno conhecimento de que Whitey seguia assassinando, extorquindo, traficando e aterrorizando. Cadáveres apareciam às dezenas em covas rasas, mas nem multa de trânsito ele levou nesse período.

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Aliança do Crime
Black Mass, 2015 (Warner/Divulgação)

O Gângster

Onde: Netflix

Por mais de quinze anos, Frank Lucas foi capanga de um dos chefões do Harlem, o bairro negro nova-iorquino. Com a morte do patrão, em 1968, o esperado era que virasse subalterno de algum outro bandido da área. Lucas, porém, havia traçado planos audaciosos para conduzir-se até o topo do crime. Nascido numa família tipicamente pobre do Sul, ele queria ser um negro com poder – algo inimaginável à época. Mas Lucas se tornaria um dos criminosos mais ricos, astutos e vorazes da crônica americana. Dirigido por Ridley Scott, o filme opõe Russell Crowe, como o policial que detectou a existência de Lucas, e Denzel Washington como o protagonista. Mas o que decididamente eleva O Gângster é a visão de que é na esfera social que essa história se desenrola. Se Lucas voou abaixo do radar por tanto tempo, foi porque ninguém acreditava que um negro pudesse ser tão organizado ou subjugar os brancos nos negócios. E se caiu, foi porque topou com um homem parecido com ele: Richie Roberts, o detetive interpretado por Crowe, era um judeu de classe média baixa que estudava direito à noite e ganhara a hostilidade dos colegas por ter devolvido 1 milhão de dólares apreendidos numa batida. O que o filme propõe é que Richie notou Lucas por ser também ele um homem de quem não se esperava nada, mas que queria muito.

O Gângster
American Gangster, 2007 (Universal/Divulgação)

Zodíaco

Onde: Netflix

O diretor David Fincher tinha 7 anos quando a região da Baía de São Francisco, onde ele morava, entrou em estado de alarme em razão de um serial killer autodenominado Zodíaco, que reivindicava seus crimes em cartas e telefonemas a jornais, à polícia e até a familiares das vítimas – e essa impressão de algo vivido e vividamente lembrado está por toda parte em Zodíaco, o filme que mudou o rumo da carreira de Fincher, do diretor que adorava exibir seu virtuosismo técnico, em Seven e Clube da Luta, para o virtuose controlado e perfeccionista que se vê em Mindhunter. Em Zodíaco, de um lado estão os dois principais investigadores do caso, os policiais interpretados por Mark Ruffalo e Anthony Edwards, que devotam anos de sua carreira ao caso, mas têm o preparo necessário para não o levar para dentro de casa. Do outro lado ficam o repórter policial  de Robert Downey Jr. e o cartunista vivido por Jake Gyllenhaal, que não souberam como separar a busca de sua vida pessoal e foram bater no fundo do poço por causa dela. Fincher tem opiniões firmes: matar para existir aos olhos alheios é uma confissão de insignificância, e é na insignificância que Zodíaco firmemente mantém a personalidade do assassino. A única esfera em que ele existe, nos 158 minutos de projeção, é a das pessoas que ele anulou, e a das pessoas que buscam anulá-lo. Repare também na edição de som soberba, que recria a atmosfera dos ambientes com o máximo de naturalismo

Zodíaco
Zodiac, 2007 (Warner/Divulgação)

A Grande Jogada

Onde: Amazon, HBO GO

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É assombrosa a quantidade de informação que o roteirista Aaron Sorkin – aqui estreando na direção – consegue comprimir nos primeiros minutos de A Grande Jogada: explicando à plateia como passou de promessa olímpica do esqui a suspeita do FBI por organização criminosa, Molly Bloom, a protagonista, vai da infância ao auge, e dele à desgraça, com a velocidade de quem desce a encosta de olho numa medalha. Chega a causar vertigem: mestre das falas hiperarticuladas e pela terceira vez indicado ao Oscar de roteiro (já ganhou por A Rede Social e concorreu por O Homem que Mudou o Jogo, e foi cruelmente esnobado por Steve Jobs), Sorkin encontra em Jessica Chastain uma atriz que não apenas maneja com inteligência os intricados diálogos e voice-overs, mas sabe fazer da aparência de neutralidade emocional uma forma de arte (com a qual, paradoxalmente, sinaliza uma gama vasta de emoções).

A Grande Jogada
Molly’s Game, 2017 (Diamond/Divulgação)

A História Verdadeira

Onde: Netflix

Jovem e já celebrado repórter do New York Times, Michael Finkel (Jonah Hill) caiu em desgraça da noite para o dia, quando se descobriu que ele havia inventado o personagem principal de uma matéria de grande repercussão. Seria impossível se reerguer de um tombo como esse, mas Finkel viu uma luz no fim do túnel quando foi informado de que sua identidade fora roubada pelo psicopata Christian Longo (James Franco), que fugira depois de assassinar toda a sua família mas fora afinal preso. Finkel raciocinou que poderia se aproveitar desse estranho vínculo para propor ao assassino uma série de conversas, com vistas a uma grande reportagem ou uma biografia. A dinâmica doentia que se formou entre eles é dessas coisas que não dá para inventar: prepare-se para momentos de perplexidade e repulsa, alimentados pela química excelente (e perturbadora) entre os amigos do peito Hill e Franco.

A História Verdadeira
True Story, 2015 (Fox/Divulgação)

O Homem de Gelo

Onde: Amazon

Richard Kuklinski (Michael Shannon) não é um tipo que se gostaria de encontrar em uma rua escura. Porém, com insistência e um pingo de humor, ele consegue conquistar a suave Deborah (Winona Ryder). Torna-se um marido dedicado e pai amoroso, sustentando a família com uma ocupação rentável: assassino de aluguel. A serviço de um mafioso (Ray Liotta), Kuklinski mata com precisão cirúrgica e indiferença burocrática. E sem deixar vestígios: até a esposa acredita que ele é um operador do mercado financeiro. Quando esse frágil equilíbrio é rompido e Kuklinski se vê obrigado a agir por conta própria, ele se associa a um assassino ainda mais frio (Chris Evans, irreconhecível) e atrai tanto a fúria dos criminosos quanto a atenção da polícia. Baseado em acontecimentos reais de Nova York entre as décadas de 60 e 80, este é um suspense de emoções contidas, no qual a violência explode em momentos inesperados. 

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O Homem de Gelo
The Iceman, 2012 (Califórnia/Divulgação)

Um Crime Americano

Onde: GloboPlay

Em 1965, as adolescentes Jennie e Sylvia Likens foram despejadas pelos pais na casa de uma passadeira de Indianapolis, mediante pagamento de 20 dólares semanais. Os Likens tinham acabado de conhecer Gertrude Baniszewski. Mas, por ela ter um punhado de filhos, comodamente julgaram que as meninas ficariam bem. Doente, desequilibrada, sem dinheiro e mergulhada numa paixão obsessiva por um homem mais jovem, Gertrude (Catherine Keener) logo elegeu Sylvia (Ellen Page) para o papel de causadora de todos os seus problemas. Em semanas, passou das surras para queimaduras, espancamentos, mutilações e sodomia. Convocou os filhos a participar das sevícias e, a seguir, também os amigos deles. Todos concordaram; nenhum deles a denunciou; e os vizinhos, que ouviam os gritos, acharam que não convinha se meter na vida alheia. Um Crime Americano não pretende oferecer uma tese geral para o mecanismo dos casos hediondos de cativeiro e abuso de crianças. E por isso mesmo, por se ater com minúcia aos detalhes de um caso em particular, termina por ser terrivelmente esclarecedor sobre todos eles.

Um Crime Americano
An American Crime, 2007 (Califórnia/Divulgação)

Lendas do Crime

Onde: Netflix

Tom Hardy faz papel duplo: o dos gêmeos Ronald e Reginald Kray, que durante parte dos anos 50 e 60 mandaram no crime organizado londrino. Os Kray eram tão destrambelhados que, como gângsters, nem sempre conseguiam ser um modelo de eficiência. Aos 9 anos, Reggie quase matou Ronnie de traumatismo craniano, durante uma briga. Nas suas passagens pela prisão, causavam tanto tumulto, e atacavam os guardas com tanta brutalidade, que logo nenhuma carceragem queria recebê-los. Nos combates com as facções inimigas, eram de uma truculência indizível. Seu reinado foi, portanto, complicado e relativamente breve. Mas os Kray eram gângsters com ginga e com estilo, e faziam uma figura condizente com a swinging London da década de 60: atraíam aristocratas, políticos e gente como Frank Sinatra para os seus nightclubs e viraram celebridades. Fascinaram tanto quanto aterrorizaram – e Tom Hardy, que não tem quem se compare com ele em ameaça sedutora (e excentricidade) quando lhe dão rédea solta, é a dupla razão pela qual Lendas do Crime pega o espectador de surpresa com suas erupções de violência e eletricidade. Quem narra a história, porém, é Frances (Emily Browning), que caiu na conversa açucarada de Reggie, casou-se com ele e teve infinitas ocasiões de desejar que não o tivesse feito.

Lendas do Crime
Legend, 2015 (Imagem Filmes/Divulgação)

Prenda-me Se For Capaz

Onde: Amazon

Frank Abagnale Jr. nunca topou com uma chance que não fosse capaz de agarrar. Entre 1963 e 1967, ele descontou cerca de 2,5 milhões de dólares em cheques fraudados (com técnicas de própria invenção) em 26 países e em todos os Estados americanos, fez-se passar por piloto da Pan Am para viajar milhares de quilômetros como carona de companhias aéreas diversas, foi contratado como chefe da emergência pediátrica de um hospital, trabalhou como procurador do Estado e driblou com agilidade sensacional os policiais que o perseguiam. Seria um belíssimo currículo para um golpista experimentado, mas Frank tinha apenas 16 anos quando começou a preenchê-lo. Aos 21, ele encerrou essa carreira e iniciou outra, dessa vez nos sistemas penais sueco, francês e por fim americano, quando foi extraditado para os Estados Unidos. Frank foi libertado pelo próprio FBI, por razões tão inacreditáveis quanto a sua própria carreira, sete anos antes de cumprir os doze de sua sentença. Protagonizada por Leonardo DiCaprio com charme juvenil  e dirigida com gosto por Steven Spielberg, a história de Frank é como estar numa montanha-russa que sobe a toda a velocidade: uma sensação de angústia pela queda inevitável e euforia pelo trajeto algo heróico, ainda que insensato, até o topo.

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Prenda-me Se For Capaz
Catch Me If You Can, 2002 (Universal / Paramount/Divulgação)
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