Geraldo Alckmin é a cara do PSB
Artigo do blog desfaz os mitos petistas sobre a ideologia dos partidos
Ninguém é fã de refrigerante só porque bebeu uma coca-cola no deserto – mas no deserto cultural brasileiro a sede se passa por convicção.
No Brasil, qualquer governo que precise recorrer a um mínimo de desestatização para fazer caixa em tempos de crise já é tachado de direitista e conservador pela propaganda de petistas, socialistas e comunistas na mídia, no sistema de ensino, no show business, no mercado editorial e nos demais centros disseminadores de ideia da sociedade que eles passaram a controlar seguindo durante décadas, por meio da “ocupação de espaços”, a estratégia da “Revolução Cultural” proposta pelo ideólogo italiano Antonio Gramsci.
Foi assim com Fernando Henrique Cardoso; é assim com Michel Temer, sem que nenhum deles, nem seus partidos, tenham maior confluência histórica ou intelectual com a direita no sentido clássico, anti-estatista e anti-intervencionista, muito menos com o conservadorismo nos costumes: anti-legalização das drogas, anti-aborto, anti-desarmamento da população civil.
Em 2004, FHC chegou mesmo a admitir que PT e PSDB não tinham diferenças ideológicas: “Não discutimos nem disputamos ideologia. É poder, é quem comanda”, disse o ex-presidente. “Porque a luta é política, não é ideológica”.
Em 2009, o próprio Lula, na prática, confirmou FHC, exaltando o fato de não haver candidatos de direita na disputa. (Vídeo: AQUI.)
O PSDB nasceu como dissidência do PMDB, que nasceu do MDB, o partido esquerdista dos opositores do regime militar que rivalizavam com o poderio governista da Aliança Renovadora Nacional (Arena). Nem sequer o próprio regime militar, que multiplicou o número de estatais no Brasil e interveio até não poder mais na economia, era movido pelos mesmos princípios dos governos de Ronald Reagan, nos EUA, ou Margaret Thatcher, na Inglaterra.
O exemplo mais emblemático de que o PSDB não é de direita foi dado por Geraldo Alckmin quando o então candidato tucano à Presidência vestiu durante a campanha de 2006 uma jaqueta com símbolos de estatais brasileiras para provar que não era um “privatista”, como o PT o acusava.
Nem o estouro dos escândalos dos Correios e do mensalão em 2005 fez o tucano pensar duas vezes sobre os efeitos do aparelhamento político das estatais, ou as oportunidades de compra e venda de favores e influência no Estado, antes de negar de corpo e alma o rótulo atribuído pelos petistas.
Sindicalista e político ligado ao PT paranaense, Henrique Pizzolato havia sido indicado para a diretoria de marketing do Banco do Brasil em 2003, onde se aproveitou do cargo para desviar dinheiro de um contrato da agência DNA Propaganda, do publicitário até hoje preso Marcos Valério, a quem favoreceu na renovação de um contrato de R$ 152,8 milhões.
Pizzolato – que fugiu para a Itália, mas acabou capturado e extraditado para o Brasil – foi condenado a 12 anos e sete meses de prisão por formação de quadrilha, peculato e lavagem de dinheiro.
O esquema do mensalão destinou-se a desviar dinheiro para financiar a compra de apoio de parlamentares ao governo do PT, como afirmou, textualmente, a Procuradoria-Geral da República.
O vexame de Alckmin, que acabou derrotado por Lula, ainda foi agravado pelo tempo, dado o avanço dos esquemas petistas de corrupção nas quatro estatais que estampavam sua jaqueta.
O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal ainda tiveram de usar recursos próprios para honrar programas sociais, porque, durante o governo de Dilma Rousseff, o Tesouro Nacional atrasava pagamentos aos bancos federais para disfarçar o rombo nas contas públicas e financiar programas eleitoreiros.
Esse tipo de procedimento foi considerado “fraude fiscal e contabilidade destrutiva” pelo procurador Júlio Marcelo Oliveira, do Ministério Público de Contas junto ao Tribunal de Contas da União, o que contribuiu para o impeachment de Dilma em 2016.
Na Petrobras, o PT institucionalizou o maior esquema de corrupção da história do Brasil, que consistia na distribuição de cargos entre aliados e apadrinhados com o objetivo de “arrecadar propinas” para alcançar a governabilidade, perpetuar o partido no poder e permitir o enriquecimento ilícito de agentes públicos e políticos, como acusa o Ministério Público Federal, destacando Lula como o “comandante máximo”.
“As evidências apontam que o petrolão era apenas uma parte de um quadro muito maior, que é a propinocracia, ou o governo regido pelas propinas”, declarou o procurador da República Deltan Dallagnol em setembro, três meses antes de o Departamento de Justiça dos EUA chamar a atuação da Odebrecht e da Braskem nos últimos 15 anos no Brasil e em mais 11 países de “maior caso de suborno da história”.
Agora, dez anos depois das eleições de 2006, o mesmo Partido Socialista Brasileiro (PSB) que já acolheu Ciro Gomes e Marina Silva discute internamente sobre a vinda de Geraldo Alckmin – atual governador de São Paulo e codinome “Santo” na lista da Odebrecht –, a fim de lançá-lo candidato à Presidência da República em 2018.
É justo.
Se a preferência da alta cúpula do PSDB é por lançar novamente o senador Aécio Neves, mantido na presidência do partido, o PSB não tem maiores problemas ideológicos para vestir a camisa de Alckmin. Quer dizer: a jaqueta.
Um dos principais nomes do PSB foi Miguel Arraes (1916-2005), avô de Eduardo Campos (1965-2014). Durante o governo de Fernando Collor de Mello, por exemplo, Arraes leu da Tribuna da Câmara o Manifesto da Frente Parlamentar Nacionalista que condenava a desestatização.
Em 2001, quando o PSB decidiu lançar um candidato próprio à presidência, um dos eixos do programa sugerido por Arraes e aprovado por unanimidade no Diretório Nacional do partido foi a “revisão das privatizações feitas pelo governo federal”.
E alguém sabe ou se lembra quem foi o candidato do PSB?
Ele mesmo: Anthony Garotinho, ex-governador do Rio de Janeiro que chegou a ser preso em 2016 por compra de votos. Garotinho ficou em terceiro lugar e, no segundo turno, claro, o partido apoiou Lula.
O programa do PSB tem até hoje entre seus pontos centrais a estatização dos “meios de produção”, o que inclui indústrias e propriedades rurais, porque, como prega a cartilha, “a socialização realizar-se-á gradativamente, até a transferência, ao domínio social, de todos os bens passíveis de criar riquezas”.
No campo, os donos de grandes propriedades teriam de ceder espaço a cooperativas controladas pelo Estado; e o texto ainda cita outras medidas impensáveis, como a “nacionalização do crédito e das operações de seguro” e a “exclusividade da navegação de cabotagem, inclusive fluvial, para os navios brasileiros”.
No Brasil dos sonhos do PSB, portanto, o Estado não apenas interviria na economia: ele assumiria as rédeas de toda a produção industrial, das exportações e da divisão das riquezas; e até instituições privadas de ensino com fins lucrativos estariam com os dias contados.
Nada mais natural que um partido socialista que defende tamanho inchaço do Estado, a despeito de todos os males que isto causou ao Brasil, sirva de plataforma política para a nova tentativa de um defensor das estatais de chegar à Presidência.
Geraldo Alckmin é a cara do PSB.
Com a sua eventual transferência, este blog lamentará apenas que o PSDB perca um dos maiores representantes do quão direitista os tucanos não são.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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