Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Educação em evidência

Por João Batista Oliveira Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O que as evidências mostram sobre o que funciona de fato na área de Educação? O autor conta com a participação dos leitores para enriquecer esse debate.
Continua após publicidade

Um SUS para a educação?

Que vantagens traria um sistema nacional de educação? Em que medida União, Estados e Municípios se beneficiariam de um grau ainda maior de articulação?

Por João Batista Oliveira 20 dez 2021, 11h19

Entre as várias idiossincrasias de nosso país, uma delas é a de que as pessoas que decidem sobre a educação pública não colocam seus filhos na escola pública. Isso é muito diferente dos países avançados, em que os filhos dos políticos, parlamentares, acadêmicos e profissionais frequentam, em sua imensa maioria, a escola pública.

Quem decide no parlamento percebe o impacto da decisão dentro de casa. Isso não ocorre no Brasil. Educação pública é para os outros. E isso requer cuidados especiais por parte de quem advoga políticas e as aprova. O critério básico para lidar com esse tipo de situação se resume numa pergunta: “cui bono”? Quem ganha com isso?

O SUS constitui inegavelmente um sistema necessário, de alta relevância e com uma relevante folha de serviços prestados à população do país, especialmente os mais pobres. Possivelmente, é o melhor que se pode oferecer dentro das condições econômicas e institucionais em que vive o país. Mas, exceto no caso da vacinação obrigatória, o SUS não afeta a vida dos que invocam as suas virtudes. Essas pessoas possuem seguro de saúde privado e são as mesmas que matriculam seus filhos na escola privada.

A existência do SUS é necessária por várias razões, sendo que a mais importante delas é a interação entre as políticas e as ações dos diferentes agentes públicos: um mesmo paciente pode frequentar, ao mesmo tempo, serviços de âmbito local, regional ou supra-regional. As informações sobre o paciente precisam circular entre os diferentes agentes, em tempo real. Os serviços prestados por uma instância precisam ser debitados a outra – ou a um caixa central.

Enfim, existem razões objetivas para uma organização sistêmica do sistema de saúde. Mesmo que a saúde fosse redesenhada de maneira regional – como possivelmente devesse ser – ainda assim haveria algumas instâncias carentes de coordenação e políticas articuladas em tempo real, como no caso de doenças transmissíveis, campanhas de vacinação ou filas de implante de órgãos.

Continua após a publicidade

E é possível que, em menor escala, o mesmo seja adequado para algumas questões específicas de segurança e assistência social: se os municípios não se comunicam, o bandido pode se esconder num deles e um beneficiário pode explorar a falta de informação do outro município.

O mesmo não ocorre com a educação. Por exemplo, vimos como redes estaduais e municipais operam num mesmo território há séculos sem que uma se comunique com a outra, nem mesmo para decidir onde instalar ou fechar uma escola. Talvez até fosse desejável que isso ocorresse, mas não ocorre e a vida continua há pelo menos 500 anos…

Outro exemplo que oferece importantes lições encontra-se na operação das escolas privadas. Existe um arcabouço legal, que, de resto, poderia ser imensamente mais simples. Esse arcabouço é o suficiente para que uma escola se autoadministre. Há pouca ou nenhuma necessidade de interação com outras instâncias. No máximo, se transfere um aluno com seu histórico escolar a cada ano ou final de ciclo. Ponto final. O mesmo se aplica às escolas federais.

Continua após a publicidade

Que vantagens traria a existência de um sistema nacional de educação? Em que medida as instâncias federadas – União, Estados e Municípios – precisam ou se beneficiariam de um grau ainda maior de articulação? Ou, colocado de outra forma, faltariam mecanismos para que União, Estados e Municípios pudessem melhor desempenhar as suas funções? Faltaria clareza no que é o papel de cada um?

No caso de Estados e Municípios, já vimos que não existem amarras para que estados tomem decisões unilaterais – como no caso da municipalização no Ceará e Maranhão, ou, ainda no caso do Ceará, com políticas de estímulo aos municípios. Qualquer outro estado poderia tomar esse tipo de iniciativa, incluindo a municipalização ou a divisão de tarefas entre séries iniciais e finais, como no caso do Paraná. Nada impede que isso venha a ocorrer. Não existe qualquer barreira legal. E é difícil imaginar como uma articulação nacional sistêmica poderia contribuir para aumentar a autonomia das relações entre esses entes federados.

Resta, portanto, a União. Que problema um sistema nacional de educação se propõe a resolver? Aumentar o papel da União? Tornar as ações da União mais eficazes? Mais eficientes? Mais diferenciadas, para atender às diferentes realidades, necessidades e demandas locais? E, dependendo da resposta, por que uma organização “sistêmica” seria o instrumento institucional adequado para promover esses fins? O que há de errado com o MEC tem a ver com o MEC ou com o arranjo federativo?

Não há nenhum elemento, na discussão havida até o momento, que sugira vantagens para uma organização sistêmica da educação. Mas há vários elementos que sugerem, ao contrário, enormes desvantagens e riscos dessa alternativa. Esses elementos precisam ser explicitados.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.