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É Tudo História

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O que é fato e ficção em filmes e séries baseados em casos reais
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A absurda realidade de ‘Dom’: O que é fato e ficção na série brasileira

Trama sobre rapaz que assaltava casas de luxo no Rio de Janeiro conduz seriado do Amazon Prime Video, que acaba de confirmar a produção da 2ª temporada

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 jun 2021, 13h31 - Publicado em 24 jun 2021, 13h22

Ao arrebanhar milhões de pessoas até os cinemas com o filme 2 Filhos de Francisco, o cineasta Breno Silveira se tornou ímã de pessoas interessadas em contar tramas da vida real – especialmente aquelas que envolvem pais e filhos. Foi assim que ele conheceu Luiz Victor Lomba, um policial da reserva que, nos anos 70, se aliou ao exército no combate da chegada da cocaína ao Brasil. Um detalhe em sua história chamava a atenção: Victor era pai de Pedro Machado Lomba Neto, criminoso conhecido como Pedro Dom, que, no início dos anos 2000, assaltava mansões no Rio de Janeiro para alimentar seu vício em cocaína.

A história com contornos que desafiam até a ficção foi adaptada por Silveira na série Dom, do Prime Video, da Amazon, com Gabriel Leone como Dom e Flavio Tolezani na pele de Victor. Uma segunda temporada foi confirmada nesta quinta-feira, 24, após Dom se tornar a série de língua não-inglesa mais vista na plataforma. Envolvente, a trama bebe principalmente dos relatos contados por Victor. Elementos ficcionais e pesquisas feitas pela equipe completam o roteiro. Silveira, porém, alerta: “As cenas mais absurdas da série foram invenção da realidade”, disse ele a VEJA.

 

Victor busca Dom no meio do baile funk 

Dom
(//VEJA.com)

Logo nos primeiros minutos da série, uma cena impressionante: Victor sobe o morro atrás de Dom. Armado, ele entra em um baile funk e atira para cima chamando a atenção de todos. Não bastasse a ousadia, Victor ainda brada que é policial, mas que está ali apenas em busca do filho, antes de colocar a arma no chão. Mesmo com diversos traficantes lhe apontando suas armas, o pai desesperado se recusa a sair dali até que Dom vá com ele. A cena aconteceu na vida real. Victor contou a Breno Silveira que o filho estava há 6 dias no Morro da Mangueira e que tinha ouvido notícias de que ele estava prestes a sofrer uma overdose pelo alto consumo de drogas naquele período. O ex-policial não teve dúvidas e subiu o morro para levar o filho para casa. Assim como mostra a série, na vida real Victor de fato algemou Dom na cama, mas ele se soltou sozinho.

O lado escritor de Victor 

Dom
(//VEJA.com)

A narração da série é atrelada ao livro que Victor escreve sobre o filho. Victor realmente tinha um lado escritor. Ele lançou um livro, chamado O Beijo da Bruxa, sobre uma operação na qual estava envolvido para destruir um laboratório de cocaína. O policial também escreveu um livro sobre a relação com o filho, mas não publicou, com receio de narrar histórias envolvendo a polícia carioca. No seu último mês de vida, antes de falecer em 2018, vítima de um câncer de pulmão, Victor ainda escreveu várias revelações e enviou aos roteiristas da série.

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Internações de Dom

Dom
(//VEJA.com)

Em um dos momentos mais marcantes da série, Dom (vivido por Guilherme Garcia) é internado dez vezes em uma clínica de reabilitação. A ficção, no caso, amenizou a realidade. Na verdade, foram 15 internações no total, sendo a primeira quando ele tinha 13 anos de idade. A passagem pela Febem (hoje, Fundação CASA) – experiência que o colocou de fato em contato com a criminalidade – também aconteceu. Na série, porém, ela se dá quando ele está prestes a completar 18 anos e, na vida real, ele foi detido no local mais novo, por volta dos 15 anos.

Roubos e fugas mirabolantes 

Dom
(//VEJA.com)

Loiro, olhos azuis e sorriso carismático, Dom não tinha dificuldades para driblar porteiros e seguranças na Zona Sul carioca, onde ele e seu “bonde” cometiam roubos entrando e saindo pela porta da frente de grandes condomínios. Os assaltos específicos representados na série são obra da ficção. Diversos roubos na época eram atrelados ao grupo mesmo não sendo. Victor contou aos roteiristas que aconteceu de ver na TV a manchete sobre um assalto que acusava Dom, porém o rapaz estava na casa do pai naquele momento. O que é fiel na série é o modus operandi do grupo: Dom era bom com fechaduras e muito inteligente, ele orquestrava os roubos e usava sua aparência para abrir portas.

Lico, o melhor amigo 

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Dom
(//VEJA.com)

A relação de amizade entre Dom e Lico (Mc Caverinha na infância, e Ramon Francisco adulto) é um dos fios condutores emotivos da trama. Filho da empregada da família, Lico se vicia em cocaína junto com Dom. Inseparáveis, eles representam duas pontas da sociedade: a do jovem branco de classe média e o jovem negro da favela. Mesmo em realidades distantes, ambos são igualmente destruídos pelo vício. Dom de fato tinha um amigo inseparável, mas boa parte da criação de Lico é ficção. “Existiam vários amigos, parentes, pessoas diferentes que foram amigas de Dom e se envolveram com drogas também. Juntei todos em uma pessoa só”, conta Silveira.

Jasmin, a namorada 

Dom
(//VEJA.com)

Interpretada por Raquel Villar, Jasmin é a grande paixão da vida de Dom. É também quem lhe apresenta o esquema de roubos em mansões. Na vida real, o rapaz teve uma namorada, a quem o pai enxergava como má influência. Jasmim, porém, é uma personagem fictícia. O fato é que ela e Viviane (Isabella Santoni) foram inspiradas nas duas namoradas do Mauricinho Botafogo, outro ladrão de residências no Rio, apresentado rapidamente na série antes de ser preso e deixar o terreno livre para Dom.

Relação de Victor com Arcanjo, o militar 

Dom
(//VEJA.com)

Não há evidências sobre o arranjo entre Victor e o militar que o alicia em 1969, apelidado de Arcanjo (intepretado por Wilson Rabelo). Ao diretor da série, porém, o ex-policial garantiu que ele era real, mas de modo algum revelaria detalhes sobre quem era seu “chefe”. Na trama, Arcanjo contrata Victor, então mergulhador profissional, para mapear os pontos de contrabando no litoral do nordeste brasileiro. Mais tarde, ele designa Victor para atuar infiltrado na favela Santa Marta, Zona Sul do Rio. “Um dia o Victor me mostrou de longe o cartão com o nome Arcanjo, mas logo escondeu. Não sabemos quem ele é, apenas que foi um militar importante durante a ditadura”, conta Silveira.

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Victor fica amigo de traficante no morro 

Dom
(//VEJA.com)

Vivido de forma envolvente por Fábio Lago, o chefão do morro Ribeiro é um dos primeiros grandes traficantes do Rio de Janeiro nos anos 70, segundo a série. Recrutado por Arcanjo para trabalhar infiltrado na favela Santa Marta, Victor conquista Ribeiro e começa a trabalhar para ele. A missão de fato ocorreu, assim como a amizade do policial disfarçado com o traficante – que tem outro nome na vida real. Segundo o diretor, a cena em meio a uma chuva torrencial, em que Ribeiro busca um delator, e assassina uma pessoa na frente de Victor, foi contada em detalhes pelo ex-policial. “O Victor viu o morro se transformar de lugar do samba e de pessoas pobres em ponto de violência e tráfico de drogas. Ele ainda assumiu que o Ribeiro conquistou sua admiração, por seu carisma e modo de tratar a comunidade”, disse Breno Silveira.

Dom sequestrado pela polícia 

Dom
(//VEJA.com)

Toda a relação de Dom e Victor com o restante da família foi criada pelos roteiristas. Porém, um dos momentos mais marcantes envolvendo a mãe e a irmã do rapaz (vividas por Laila Garin e Mariana Serrone, respectivamente) de fato ocorreu – e não foi só uma vez. Próximo ao fim da série, Dom é sequestrado por policiais militares, que pedem 200.000 reais da família. Na vida real, a situação foi ainda pior: na verdade, ele foi sequestrado duas vezes pelas autoridades em busca de uma fatia do dinheiro roubado pelo rapaz.

Dom não tem sensibilidade para dor

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Dom
(//VEJA.com)

A série mostra um acidente que ocorreu na vida real. Aos 5 anos de idade, Pedro foi atropelado. Quebrou a clavícula, a bacia e o braço esquerdo. Teve fraturas múltiplas na perna e a costela perfurou um pulmão. O pai dizia que foi um milagre ele ter sobrevivido. Os médicos perceberam que Pedro, que não chorou durante os procedimentos, sofria de uma condição do sistema nervoso que o impedia de sentir dor. “É a dor que ensina, que protege, alerta do perigo. A dor nos dá limite”, alerta o avô do garoto na série. Silveira chegou a ver fotos do menino internado e os laudos do hospital.

Victor e os Homens de Ouro 

Dom
(//VEJA.com)

A mostra a entrada de Victor para o Homens de Ouro, grupo militar que mais tarde seria conhecido como Esquadrão da Morte, que perseguiam de forma violenta desde criminosos até opositores à ditadura. Ao diretor, Victor assumiu que essa foi “a pior coisa que fez na vida”. Ele acabou expulso por desonra – trama que a segunda temporada deve explorar.

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