Não foi o caso do uso de meia-palavra, mas os bons entendedores do governo entenderam o recado dado pelo ministro Paulo Guedes contido em sua inusitada indumentária no pronunciamento do presidente, sexta-feira (24/04) para rebater Sergio Moro. De máscara de proteção, em mangas de camisa e calçando sapatos que pareciam meias, em meio a uma equipe ministerial dividida entre constrangidos e fanáticos, Guedes dizia: “Olhem só, me incluam fora dessa turma”.
Ontem (27/04), ao devolver a palavra a Paulo Guedes no comando da economia, Bolsonaro evitou o derretimento final do governo e arquivou o tal plano Pró-Brasil, uma jogada publicitária feita horas depois de o governador João Doria ter apresentado um detalhado projeto de retomada das atividades em São Paulo, da qual o ministro da Economia não participou.
Isso suscitou especulações sobre a iminente saída de Guedes. O gesto do presidente para evidenciar prestígio ao seu último bastião de governabilidade ocorreu dentro do previsto. Habitualmente um militante da falta de limites, Bolsonaro não ultrapassa a fronteira da economia que derrubou Dilma Rousseff. No caso de Guedes, a risca de giz foi traçada no simbolismo da diferenciação da vestimenta.