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Reféns da insensatez

Ainda é cedo para vislumbrar um esfriamento nos ânimos

Por Dora Kramer Atualizado em 11 nov 2020, 15h29 - Publicado em 6 nov 2020, 06h00

Começam a aparecer aqui e ali, na imprensa e nas redes, análises dando conta da existência de sinais de que o ambiente geral de ânimos acirrados estaria cedendo espaço à moderação nas relações políticas. Por essa perspectiva, as pessoas estariam cansadas da radicalização na maneira de externar pontos de vista e um tanto mais dispostas a não transformar divergências em guerras de fim do mundo.

Em boa medida baseada na expectativa de que os americanos dariam uma demonstração acachapante de repúdio a um governante do tipo de Donald Trump, essa impressão por aqui se sustenta no fraco desempenho nas capitais (por ora medido apenas nas pesquisas de intenção de voto) dos candidatos apoiados por Jair Bolsonaro e pelo PT às eleições municipais do próximo dia 15.

Confirmado o fracasso eleitoral dos polos antagônicos da eleição de 2018, a projeção para a disputa presidencial de 2022 seria a tendência de prevalecer o centro, aí entendido como o campo da moderação, do bom senso, enfim, da racionalidade. Vou aqui deixar de lado uma predisposição algo obsessiva ao otimismo para discordar. Ou melhor, ponderar que há precipitação e mais desejo do que senso de realidade nessa suposição sobre a adesão da maioria à sensatez.

Basta ver o que faz sucesso hoje em dia: são justamente os comportamentos mais exacerbados. Conquista fama e destaque aquele, ou aquela, que se expressa em termos exorbitantes na defesa de suas posições. Seja na defesa ou no ataque ao governo.

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“O sucesso dos maus modos eterniza a falta de civilidade e a radicalização nas relações”

Ambos os lados se acusam de alimentar ódio e seguem atuando em igual dinâmica odienta permeada por vulgaridades e palavrões que passaram a ser perfeitamente aceitos na imprensa em textos de opinião e até mesmo em relatos de informação. Em nome da liberdade de expressão imprime-se a liberalidade no exercício da falta de educação.

Ora, se é socialmente aceito que não se fale nem se escreva de modo civilizado, não é de esperar que haja uma mudança no modelo de comportamento na política, pois os que buscam obter êxito nessa seara não atuarão em desacordo com o padrão de sucesso calcado em insultos e maus modos. Sob pena de não fazerem nem para o cafezinho na urna. A aludida moderação é muito malvista e seus adeptos são chamados pejorativamente de “isentões”.

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Muito provavelmente é o carimbo que receberá quem se apresentar à disputa presidencial fora do esquadro da radicalização. A Bolsonaro a sensatez não interessa, o que faz seus adversários reagir no mesmo diapasão. Mas, ainda que haja oponentes civilizados, isso não significa que o eleitorado se sentirá atraído por eles, preferindo alguém capaz de fazer frente a ele na base do conflito.

Adoraria ver, mas tenho dúvida sobre se será possível em breve tempo assistir ao brasileiro escolher para governar o país uma pessoa reconhecida não pelo poder de provocar emoções, mas por qualidades consistentes como, por exemplo, notório saber governamental.

Publicado em VEJA de 11 de novembro de 2020, edição nº 2712

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