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Novidade não é posto

Cara nova nem de longe garante qualidade e inovação na política

Por Dora Kramer Atualizado em 24 ago 2018, 07h00 - Publicado em 24 ago 2018, 07h00

Renovar para inovar foi o lema desta eleição até que a acomodação do terreno nos confrontou com a realidade de que ainda não será agora que os celebrados outs poderão almejar a condição de insiders. As oligarquias tradicionais dominam as disputas nos estados, os postulantes à Presidência são antigos no ramo e, no Congresso, 440 deputados e senadores de um total de 594 parlamentares serão candidatos à reeleição.

Daí parece ter tido vida curta a ideia daqueles movimentos cujo propósito seria renovar a política mediante a eleição de jovens desprovidos de compromissos político-parti­dários anteriores, oriundos de variados setores da sociedade. A constatação provoca certo desalento. Segundo alguns autores, alimenta a desesperança e cultiva a descrença no futuro. Seja ele próximo ou distante.

A cena vista assim do alto faz algum sentido. Um olhar mais atento ao detalhe, porém, produz outro panorama, abre espaço à controvérsia, suscita dúvidas pertinentes. A novidade, em si, terá mesmo todo o peso que se diz? Sozinha garante mudança para melhor ou reflete a ansiedade ilusória de que apenas trocando o elenco se melhora o espetáculo? Não seria indispensável dar uma boa revisada no enredo?

Aí nesse último ponto reside boa parte do busílis. A troca de nomes, de gerações, de partidos, de origem social, de profissões, de orientação religiosa ou até mesmo de conduta ética dos candidatos é importante, mas não resolve a questão cujo buraco se localiza muito mais embaixo: o xis maiúsculo da questão está na formatação das regras.

Não se trata aqui de atribuir responsabilidade exclusiva ao “sistema”, justificativa predileta de excelências pegas com a boca na botija, invariavelmente prontas defensoras da reforma política, mas que não dedicam quinze minutos dos respectivos mandatos para reformular a conjunção de planetas que lhes deu camisa, régua, compasso e foro especial de Justiça. O novo não é necessariamente bom ou melhor, assim como o noviciado na política nem sempre corresponde ao sucesso do produto.

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Se antiguidade não é posto na política, novidade tampouco. Dilma Rousseff era uma tremenda novidade e resultou no desastre por todos visto e por nosso bolso sentido. Jânio Quadros, embora vereador, deputado, prefeito e governador, em 1960 simbolizava o novo. Isso para não falar de Fernando Collor, o desperdício-mor da primeira eleição direta pós-ditadura, nem de dezenas de “cacarecos” eleições parlamentares afora.

O melhor talvez não seja investir no novo pelo novo, mas prestar atenção na velharia que precisa ser corrigida: voto obrigatório, suplente de senador (hoje são dezessete entre os 81) indicado a bel-prazer do titular, desequilíbrio de representatividade dos estados na Câmara, proliferação partidária, financiamento público de campanhas, maior apego a brechas que à letra fria da lei e, sobretudo, tolerância a mentiras que desorganizam o processo e internacionalmente ferem a autonomia do Brasil na gerência da democracia.

Publicado em VEJA de 29 de agosto de 2018, edição nº 2597

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